Fattú Djakité reparte o coração por Guiné-Bissau e Cabo Verde

por Lusa
Fattú Djakité com Guiné-Bissau e Cabo Verde no coração fmmsines

Guiné-Bissau e Cabo Verde são "dois corpos e um coração", é assim que vê os dois países a artista Fattú Djakité, que na noite de sexta-feira atuou no Festival Músicas do Mundo, em Sines.

"Por causa da História, tiveram várias mágoas entre Guiné e Cabo Verde, mas, queiramos ou não, Guiné e Cabo Verde são dois corpos, um coração, tivemos um herói nacional (Amílcar Cabral, fundador do PAIGC), uma luta", lembrou à Lusa, no final do concerto, quando ainda estava a processar "a energia" sentida em palco.

"Foi mais do que eu sonhei, sempre imaginei subir a um palco como este", partilhou a artista, nascida na Guiné-Bissau e a viver desde os cinco anos em Cabo Verde.

Fattú Djakité assume-se como um produto da "mistura de Amílcar Cabral", dessa combinação entre os dois países africanos de língua portuguesa que se uniram na luta contra a ditadura colonial portuguesa.

"Tenho tanto amor para a Guiné-Bissau como para Cabo Verde, então, para mim, não há essa de em qual é que te sentes mais a vontade, qual é o teu país preferido. Não existe um país preferido para mim, porque cada um me completa de uma forma", frisa.

"Nunca perdi a minha essência da Guiné-Bissau, a Guiné-Bissau sempre esteve presente, através da gastronomia, através das músicas, através das festas, dos costumes", conta, mencionando a inspiração em músicas de Justino Delgado ou Tabanka Djaz, que a acompanham desde criança.

Aliás, sublinha, não perdeu o crioulo da Guiné, ainda que "naturalmente" comunique em crioulo de Cabo Verde, país onde reside.

"Sempre tive e fiz questão de ter as minhas duas bases assim coladas, porque é muito importante termos os pés no chão e sabermos de onde viemos", afirma.

Fattú Djakité é também uma ativista e criou a campanha "Badjuda Bonita" (mulher bonita), título da primeira música que apresentou no concerto de Sines.

"Fiz essa campanha para consciencializar as mulheres para o autocuidado, porque às vezes temos tempo para tudo menos para nós mesmas, principalmente a geração da minha mãe, da minha avó, cuidam de todo o mundo, não tiram um minuto para elas mesmas", nota.

A campanha devia ter durado apenas 21 dias, mas ainda continua, recordando às mulheres a necessidade de "fazer qualquer coisa", seja meditação, ler um livro, correr, tirar um tempo para respirar.

"Temos que nos unir e ver que realmente tem um cuidado a ser feito para nós nos podermos sentir empoderadas", apela, mencionando que está a trabalhar numa música nova sobre casamento forçado e recordando o impacto que práticas como a mutilação genital feminina tiveram nas suas amigas de infância.

 

 

 

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