A conclusão é apresentada no mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente (EEA), divulgado esta quarta-feira. Segundo o documento, a exposição a partículas finas, dióxido de azoto e ozono causou 6.640 mortes prematuras em Portugal, um valor bastante mais elevado que o registado anteriormente.
Segundo o relatório “Air quality in Europe – 2016 report”, que faz a retrospetiva de dados entre 2000 e 2014 e junta os dados mais recentes de 2015, a forte poluição atmosférica leva à enorme redução da qualidade de vida devido a doenças e é responsável por cerca de 467 mil mortes prematuras por ano na Europa.
Em 2014, cerca de 85 por cento da população urbana europeia estava exposta às partículas finas PM 2,5 a níveis considerados nocivos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Exposto a este tipo de partículas, o corpo humano tem maior possibilidade de desenvolver ou agravar doenças cardiovasculares, asma ou mesmo cancro do pulmão.
"A redução de emissões levou a melhorias na qualidade do ar na Europa, mas não o suficiente para evitar danos inaceitáveis na saúde humana e no ambiente. É nosso dever encontrar as origens desta poluíção, com uma transformação fundamental e inovadora nos nossos sistemas de mobilidade, energia e alimentação", refere Hans Bruyninckz, diretor executivo da EEA.
Ouvido pelo site da RTP, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, refere que a situação é muito diferente entre os vários países europeus. Mesmo dentro dos próprios países, a situação varia muito consoante as zonas urbanas.
Enquanto a Europa de Leste está mais associada às centrais com carvão, os climas mais quentes, como Portugal e Espanha, têm maiores valores no que diz respeito ao carvão. A nível europeu, tal como à escala mundial, a questão da qualidade do ar e das partículas é mesmo um problema com enorme impacto na saúde pública.
O ambientalista refere que o caso português nem é dos mais dramáticos no que diz respeito a este tipo de partículas, mas não deixa de ser preocupante no que se refere ao ozono.
Francisco Ferreira destaca as concentrações “muito elevadas” em Portugal e que estão a ultrapassar os valores limite, nomeadamente nas estações de monotorização de Avenida da Liberdade, em Lisboa, e também na zona de Campanhã e de Braga, segundo os dados referentes a 2015.
O especialista em questões ambientais destaca que a qualidade do ar piorou consideravelmente entre 2014 e 2015, muito por culpa do estímulo ao maior uso do automóvel, com a descida dos preços dos combustíveis, num período de “pós-crise”. A juntar a este incentivo, estão também as condições meteorológicas em 2015, que não foram as mais favoráveis.
Por isso mesmo, as principais medidas para a redução das partículas tóxicas passam pela redução do tráfego. “Precisamos de estímulos ao uso de transporte coletivo e estimular opções alternativas em relação ao uso do transporte individual”, considera Francisco Ferreira.
“Por um lado, deve-se penalizar o transporte individual, mas por outro lado dar condições para que se utilizem outros tipos de mobilidade muito mais sustentável”, reitera o ambientalista.
Também da Associação Zero, Filipa Alves realça a inversão na tendência em 2015 em relação ao ano anterior, que já mostrava sinais de melhoria na qualidade do ar.
"Em 2014 tínhamos tido uma melhoria na qualidade do ar em várias cidades, nomeadamente em Lisboa, na zona crítica da Avenida da Liberdade Mas em 2015, com o aumento do tráfego automóvel e também devido às condições meteorológicas, voltámos a piorar na qualidade do ar", refere a ambientalista esta quarta-feira em declarações ao Bom Dia Portugal.
Filipa Alves destaca a importância de se atuar no sentido de reduzir o tráfego automóvel e encontrar "novas formas de mobilidade", bem como a escolha de veículos elétricos, medidas que contribuiriam para uma redução de poluentes altamente nocivos para a saúde e para o ambiente.