Facebook. Mais de 120 páginas de bandas associadas à supremacia branca
As redes sociais proporcionam oportunidades propagandísticas nunca vistas. Agora, em vez de ser necessária uma deslocação física a um qualquer encontro/reunião, as mensagens estão à distância de um clique – ou nem isso -, muitas vezes sob a forma de fake news, como se tem visto no panorama político mundial. O mundo da música não é excepção.
A situação levou mesmo a que o Facebook tivesse removido várias páginas. A Unidade de Investigação da Al Jazeera identificou mais de 120 páginas de grupos de heavy metal e produtoras com ligações diretas à supremacia branca. As páginas conquistaram um total de mais de 800 mil gostos e algumas estão online há mais de 10 anos.
Três dessas páginas agora removidas - revela a Al Jazeera - pertenciam a bandas como os SoldierSS of Evil, Whitelaw e Frangar. São grupos que viram a plataforma reagir por violação das políticas do Facebook. Há ainda duas páginas em análise e que integram a lista de cinco identificadas e reveladas pela investigação da Al Jazeera, que, entretanto, as deu a conhecer ao próprio Facebook.
Mas a lista da Al Jazeera é extensa sobre possíveis violações das políticas no que respeita ao discurso de ódio no mundo musical. Foi descoberto que a maioria das páginas está online há anos, com muitos grupos musicais a publicarem ativamente notícias sobre as próximas apresentações, lançamentos musicais e publicidade de mercadorias, e por vezes usando imagens de supremacia branca.
M8l8th é uma das páginas mais populares e pertence a uma banda de black metal da Ucrânia, cujo nome completo significa “Martelo de Hitler”. A Al Jazeera decifra: “Os dois oitos referem-se à letra H, a oitava letra do alfabeto. Tanto o 88 como o duplo H são taquigrafia comum nos círculos neonazis para Heil Hitler.
Nas canções, o M8l8th usa partes de um discurso propagandístico do ministro nazi Joseph Goebbels e do Horst Wessel-Lied, o hino oficial do Partido Nazi de 1930 a 1945.
O fundador da banda, um russo chamado Alexey Levkin, estará intimamente ligado ao batalhão nacionalista de extrema-direita da Ucrânia Azov, que atualmente luta no conflito da Ucrânia contra separatistas apoiados pela Rússia.
Levkin, diz a Al Jazeera, também é um dos organizadores do Asgardsrei, “um festival de música neonazi realizado anualmente na capital da Ucrânia, Kiev. Os participantes do festival foram vistos agitando bandeiras suásticas e fazendo saudações nazis.”
A Al Jazeera identificou páginas do Facebook pertencentes a bandas que se apresentaram em Asgardsrei, incluindo Goatmoon, uma banda finlandesa de “black metal” cuja página tem mais de 12 mil gostos.
Apesar de negar ligações à supremacia branca, há uma imagem suspeita, num “post” na página da banda no Facebook, que dá conta de uma tatuagem de um dos guitarristas a indicar o desenho de uma suástica.
Foto: Facebook/Instagram
Peste Noire exibe capuz da Ku Klux Klan
Há ainda exemplos que nos chegam da continente americano. No México, Volrisch dá nome a uma banda que exibe uma capa de álbum a ilustrar a entrada para o campo de Auschwitz-Birkenau. Essa é também a imagem que usa na foto de capa da página do Facebook. “ Jewish Plague” e “New Holocaust” são duas músicas que se podem ouvir nesse álbum.
Há ainda as ameaças recentes de mais de 500 empresas, incluindo a Coca-Cola e a Starbucks, em cortar a publicidade no Facebook, caso faltem medidas que bloqueiem o discurso de ódio, ainda a viver-se um ambiente de revolta pela morte de George Floyd, um negro morto nas mãos da polícia branca dos Estados Unidos.
"Infelizmente, tolerância zero não significa zero incidentes. Removemos três dessas páginas por violarem as nossas regras e estamos a rever as duas restantes à luz das nossas políticas", sublinhou.
"Continuaremos a aprimorar as nossas tecnologias, fazendo evoluir as nossas políticas e trabalhando com especialistas para identificar e remover o ódio da nossa plataforma".
Na quarta-feira, o Facebook lançou uma auditoria de dois anos sobre direitos civis e as tentativas da empresa de conter a disseminação do discurso de ódio na plataforma.
O relatório de 89 páginas de especialistas em direitos civis criticou fortemente o Facebook, dizendo que a empresa tem de fazer mais sobre o discurso de ódio anti-muçulmano, anti-judeu e outros.
"Na nossa opinião, a abordagem do Facebook aos direitos civis permanece muito reativa e fragmentada", concluiu o relatório.
A diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, reconheceu que a empresa deverá seguir alguns dos conselhos do relatório.