À medida que se aproximam as Eleições Europeias e a necessidade de conquistar eleitores, o partido AfD da Alemanha tem promovido uma campanha contra o “consenso climático” e ridicularizado a ativista sueca Greta Thunberg.
A verdade é que desde o aparecimento da adolescente sueca, a AfD tem abordado com mais frequência o tema climático, tendo transformado Greta Thunberg no alvo dos seus recentes ataques. Para além de, em diversas ocasiões, os membros da AfD a terem ridicularizado, assim como à sua luta, mencionaram-na recentemente como “mentalmente atrasada” e pediram que tratasse da sua “psicose”.
Uma investigação da Greenpeace Unearthed em colaboração com a organização contra o extremismo, o Instituto de Diálogo Estratégico (ISD na sigla em inglês), apresenta um aumento na comunicação e nos conteúdos partilhados pela AfD na Internet sobre questões climáticas.
Se, aquando da fundação do partido em 2013 as questões sobre as alterações climáticas não eram muito mencionadas nas suas páginas nas redes sociais, o cenário tem mudado recentemente. O tópico “climático” foi mencionado cerca de 300 vezes em 2017, nas redes sociais da AfD, e triplicou no ano passado para mais de 900, sendo Greta o alvo principal dos conteúdos.
A atenção da AfD às questões do aquecimento global aumentou desde que, em 2017, entrou para o Parlamento, acrescentando uma posição mais cética ao crescente número de debates parlamentares sobre o tema.
No entanto, foi depois da participação de Greta Thunberg em manifestações climáticas na Europa, inclusive na Alemanha, que aumentou acentuadamente a atenção e comunicação referindo tópicos climáticos por parte do partido de extrema-direita alemão, aponta a investigação.
Entre os vários ataques à ativista sueca de 16 anos, os candidatos pelo partido de extrema-direita compararam-na a um membro de uma organização da juventude nazi e o candidato da AfD Maximilian Krah disse que Greta devia procurar ajuda e tratamento.
Na página de Facebook da AfD, Greta já foi referida como “líder de um culto ao movimento climático”, repetindo-se termos como “CO2Kult” (culto ao CO2), “Klimawandelpanik” (pânico das mudanças climáticas) e “Klimagehirnwäsche” (lavagem cerebral sobre o clima).
O investigador da ISD, Jakob Guhl, disse que a negação da mudança climática tornou-se a chave para a plataforma política do partido. “A AfD tem negado mudanças climáticas de causa humana nas suas páginas de redes sociais desde 2016 e, embora não tenha mudado a sua posição, fica claro que o partido decidiu comunicá-la com mais frequência.”
“O facto de muitos políticos tradicionais, de toda a divisão política da Alemanha, apoiarem uma ativista de 16 anos que era praticamente desconhecida até há poucos meses atrás, permitiu que o partido apresentasse a crença na mudança climática como irracionalidade, histeria, pânico, culto. Atacar Greta, às vezes de maneira bastante cruel, incluindo ridicularizá-la pelo seu diagnóstico de autismo, tornou-se uma maneira de retratar os oponentes políticos da AfD como irracionais”.
O evento de terça-feira coincide com um aumento na comunicação digital da AfD sobre questões climáticas, de acordo com dados da ISD.
O simpósio que decorre esta terça-feira no Bundestag é apoiado pelo Instituto Europeu do Clima e Energia (EIKE), grupo que rejeita o consenso científico de que o aquecimento global é resultado da ação humana e que tem ligações a grupos conservadores dos EUA. É esperado que o partido AfD ataque novamente com a questão climática no parlamento, esta terça-feira.