Exportação de cereais. Putin e Erdogan vão encontrar-se na próxima semana

por Joana Raposo Santos - RTP
O encontro entre Putin e Erdogan terá lugar no resort russo Sochion, junto ao Mar Negro, a 4 de setembro. Mikhail Klimentyev/Kremlin via Reuters

O presidente russo, Vladimir Putin, e o homólogo turco, Tayyip Erdogan, vão reunir-se na próxima segunda-feira para discutir, entre outros temas, a exportação de cereais através do Mar Negro. Dias antes, António Guterres enviou a Moscovo uma proposta para o regresso ao acordo de exportação destes bens alimentares.

A informação sobre o encontro foi avançada pelo ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, esta quinta-feira.

Pouco depois, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse ter enviado uma carta ao chefe da diplomacia russa com um conjunto de propostas para repor o acordo dos cereais do Mar Negro.

"Apresentamos um conjunto de propostas concretas numa carta que enviei ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, (...) que permitem criar as condições para a renovação da iniciativa do Mar Negro. Acreditamos que essa iniciativa dá um contributo muito importante para tornar os mercados alimentares mais conforme os nossos objetivos de segurança alimentar", disse Guterres aos jornalistas na sede da ONU, em Nova Iorque.

De acordo com o líder da ONU, foram levados em consideração "os pedidos russos" para reatar o acordo, pelo que a proposta apresentada poderá "ser a base para uma renovação, mas uma renovação que deve ser estável".

No entanto, um diplomata russo avançou à agência Reuters que a proposta "não contém revelações" e apenas "engloba algumas das anteriores ideias da ONU que acabaram por não avançar". Duas fontes turcas indicaram à Reuters que o encontro entre Putin e Erdogan terá lugar no resort russo Sochion, junto ao Mar Negro, a 4 de setembro. Em cima da mesa estarão vários temas, mas o principal será a exportação de cereais.

Também o próprio Lavrov veio já afirmar que a mensagem de Guterres "não inclui uma única garantia", apenas "promessas para tentar acelerar o processo e fazê-lo de forma mais ativa".

"Assim que deixar de haver promessas e passar a haver garantias, com resultados concretos que possam ser implementados já amanhã, apenas aí a implementação deste pacote será retomada na íntegra", sustentou.

O ministro russo disse ainda que "os membros da ONU, por si só, não podem fazer nada. São forçados a pedir ao Ocidente que seja razoável, que tenha uma abordagem construtiva. Mas o Ocidente não quer fazer isso".

As declarações de Lavrov surgiram depois de uma reunião com o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Hakan Fidan. Este veio no final afirmar que "a Rússia tem exigências para a exportação ininterrupta dos seus cereais e fertilizantes".

"Confirmámos, na nossa reunião, a importância destas exigências", acrescentou. Sobre a nova proposta de Guterres, Fidan disse acreditar que esta "fornece uma base sólida para o regresso à iniciativa".
Rússia exige garantias ao Ocidente
Ao anunciar o encontro esta quinta-feira, Sergei Lavrov adiantou ainda que a Rússia não vê qualquer sinal de que vá receber as garantias que exige para poder retomar o acordo de exportação de cereais ucranianos.

Lavrov voltou a condenar as sanções económicas ocidentais que disse estarem a prejudicar as exportações russas de cereais e fertilizantes.

O ministro russo mencionou ainda um plano para fornecer um milhão de toneladas de cereais russos à Turquia a um preço com desconto. Esta proposta integra a promessa russa de fornecimento de cereais a alguns países africanos.

Moscovo abandonou o acordo de exportação de cereais ucranianos em julho, queixando-se especialmente das sanções ocidentais que disse impedirem a exportação de cereais e fertilizantes russos.

c/ agências
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