Explosões sentidas em Damasco. Israel multiplica bombardeamentos na Síria

por Carlos Santos Neves - RTP
Rebelde sírio fotografado frente à Mesquita de Umayyad, em Damasco Bilal Alhammoud - EPA

A máquina de guerra de Israel terá já levado a cabo, desde domingo, dia do colapso do regime de Bashar al-Assad, mais de 300 bombardeamentos sobre território da Síria. A contagem é do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, organização não-governamental que opera a partir do Reino Unido. Em Damasco, durante a última noite, foram sentidas explosões.

A perceção de explosões na capital síria é noticiada pela agência France Presse.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que conta com uma extensa rede de informadores na Síria, os ataques das Forças de Defesa de Israel têm-se abatido, essencialmente, sobre complexos militares. Telavive estará a tentar impedir que estas instalações possam ser utilizadas pelos rebeldes que lançaram Bashar al-Assad e a família em fuga para Moscovo.

Desde domingo, segundo o Observatório, Israel bombardeou aeroportos, radares, depósitos de armas e munições, centros de investigação militar e atingiu navios da Marinha síria, ao visar uma bateria de defesa em Latakia, porto mediterrânico do noroeste da Síria."Aviões de guerra israelitas efetuaram ataques contra navios de guerra sírios no porto de Latakia e armazéns de armas das forças do antigo regime", adiantou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos.

A emissora de rádio do exército do Estado hebraico confirmou, por sua vez, que "Israel está a destruir navios militares sírios no porto de Latakia".

Na segunda-feira, outros ataques aéreos israelitas atingiram alvos das Forças Armadas sírias nos arredores de Damasco e em outras cidades, nomeadamente Mahaja, na província meridional de Daraa.

"Israel destruiu todos os aviões de combate nos aeroportos, além de alguns radares e depósitos de armas, desde que Bashar al-Assad fugiu da Síria após a queda do regime", indicou o Observatório.
"Medidas temporárias" para "a eternidade"
O embaixador israelita nas Nações Unidas veio entretanto afirmar que Telavive está a implementar "medidas limitadas e temporárias", referindo-se, em particular, a uma incursão na zona desmilitarizada dos Montes Golã sírios. Invocou uma "ameaça à segurança".

Foi no decurso de uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, à porta fechada, que Danny Danon quis afiançar que Israel "não intervirá no conflito entre os rebeldes na Síria".

A incursão nos Montes Golã, sustentou, foi decidida após "grupos armados terem entrado", no passado sábado, na "zona tampão" entre Israel e a Síria, atacando uma missão de observadores das Nações Unidas. "Colocaram seriamente em perigo a segurança do pessoal da ONU", notou.

Por sua vez, na antecâmara da reunião pedida pela Rússia, o gabinete do secretário-geral da ONU, António Guterres, havia enfatizado que a incursão do Tsahal na zona desmilitarizada dos Montes Golã violava o acordo territorial de 1974 entre Síria e Israel.O exército israelita confirma ter ocupado a porção síria do Monte Hermon, no interior da zona desmilitarizada. Israel conquistou parte dos Montes Golã à Síria na guerra israelo-árabe de 1967. Anexou o território em 1981, numa ação sem reconhecimento por parte da ONU.


O ministro israelita da Defesa, Israel Katz, assegurou que o país não pretende interferir nos assuntos internos da Síria. Ao mesmo tempo, porém, exortou os habitantes de cinco localidades sírias da zona desmilitarizada a permanecerem nas suas casas.

o primeiro-ministro israelita clamou, durante uma conferência de imprensa em Jerusalém, que os Montes Golã, ocupados há quase 60 anos, serão parte de Israel "para a eternidade". O controlo militar sobre esta fatia de território, argumentou Benjamin Netanyahu, "assegura a segurança e a soberania" israelitas.

A partir de Teerão, o Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros já condenou o que considera também ser uma violação do acordo de 1974 nos Montes Golã: "Esta agressão é uma violação flagrantes da Carta das Nações Unidas".

Bashar al-Assad deixou a Síria no último fim de semana, diante da progressão-relâmpago dos combatentes da Organização pela Libertação do Levante, e asilou-se na Rússia. Os rebeldes conseguiram controlar a capital síria, face a escassa resistência das forças regulares do país, ao cabo de uma ofensiva de 12 dias.

c/ agências

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