Expansão de colonatos israelitas encarada como "golpe quase fatal"

por RTP
“Vamos continuar a construir em Jerusalém e em todos os lugares que estão no mapa dos interesses estratégicos de Israel”, insistiu ontem o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu Lior Mozrahi, EPA

O anúncio da construção de três milhares de habitações destinadas a israelitas em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia é visto pelo secretário-geral das Nações Unidas como um “golpe quase fatal” para o processo de paz no Médio Oriente. A começar pelas esperanças palestinianas de “uma solução de dois Estados”. A declaração de “grande inquietude” de Ban Ki-moon é a última de uma série de tomadas de posição da comunidade internacional contra os planos de expansão de colonatos judaicos impulsionados pelo Governo de Benjamin Netanyahu, que promete continuar a desenvolver projetos habitacionais “em todos os lugares que estão no mapa dos interesses estratégicos de Israel”. Uma medida retaliatória contra a elevação da Palestina a “Estado observador não-membro” na ONU.

No comunicado ontem reproduzido em Nova Iorque, o secretário-geral das Nações Unidas começa por sublinhar que os colonatos judaicos da Cisjordânia, território sob a alçada da Autoridade Palestiniana, “são ilegais ao abrigo do Direito Internacional”. Para advertir que, caso Israel concretize os projetos anunciados na passada sexta-feira pelo Governo de Benjamin Netanyahu, será desferido “um golpe quase fatal às últimas hipóteses de garantir uma solução de dois Estados”.

Em causa, assinala o sul-coreano Ban Ki-moon, está uma vez mais a liberdade de movimentos dos palestinianos. Os planos de Israel, reprova o responsável, podem “isolar totalmente Jerusalém do resto da Cisjordânia”.Os mais recentes planos de expansão de colonatos judaicos preveem a construção de três mil habitações na denominada “área E1”, entre Jerusalém e o colonato de Maaleh Adumin.

A Autoridade Palestiniana estima que o projeto visa travar a criação de um Estado palestiniano contíguo.

Perto de 500 mil israelitas habitam mais de uma centena de colonatos construídos desde a ocupação da Cisjordânia.


Retomando o teor da mensagem que fez circular na quinta-feira, pouco antes de a Assembleia Geral da ONU aprovar a elevação da Palestina a “Estado observador não-membro”, Ban Ki-moon deixou mais um apelo “a todas as partes para que reiniciem as negociações, redobrem esforços para obter uma paz completa, justa, duradoura” e também para que se “abstenham de quaisquer ações provocatórias”. “No interesse da paz”, concluiu o secretário-geral, Israel deve “renunciar aos seus projetos”.

As intenções israelitas, entretanto reforçadas por Benjamin Netanyahu, têm vindo a suscitar o repúdio de diferentes vozes da comunidade internacional. Entre as quais a própria Administração norte-americana, que se opôs à elevação do estatuto da Palestina. Washington qualificou mesmo a decisão do Governo israelita como contraproducente. Houve também reações críticas por parte da alta representante da União Europeia para as Relações Externas, Catherine Ashton, que manifestou “extrema preocupação”, e da diplomacia britânica.

Indiferente a todos os apelos, o primeiro-ministro israelita reiterava no domingo, durante uma reunião do seu Executivo, que nada faria parar os planos para a expansão de colonatos: “Vamos continuar a construir em Jerusalém e em todos os lugares que estão no mapa dos interesses estratégicos de Israel”.

O Governo de Netanyahu decidiu ainda congelar a transferência de 100 milhões de dólares (76,9 milhões de euros) em receitas de impostos para a Autoridade Palestiniana. Invocou, para tal, uma dívida de 200 milhões de dólares a uma empresa israelita de eletricidade. Contudo, o ministro israelita das Finanças, Yuval Steinitz, havia já acenado há um mês com a suspensão das remessas de receitas fiscais, caso a Autoridade Palestiniana fosse bem sucedida na sua investida diplomática em Nova Iorque.
“Agora temos um Estado”

Recebido como um herói em Ramallah, na Cisjordânia, o Presidente da Autoridade Palestiniana congratulou-se ontem com “o sucesso histórico da Palestina nas Nações Unidas”. “Agora temos um Estado”, proclamou Mahmud Abbas diante de uma multidão de largos milhares de palestinianos, extravasando o alcance da decisão da Assembleia Geral, que deixa a Palestina aquém de um estatuto de Estado de pleno direito, embora lhe permita aceder a tratados internacionais e agências da ONU.



“O Mundo disse-o a alto e bom som: sim ao Estado da Palestina, sim à liberdade da Palestina, sim à independência da Palestina; não à agressão, não aos colonatos, não à ocupação”, continuou Abbas, que prometeria, enquanto “tarefa prioritária”, analisar “medidas necessárias para a reconciliação” entre movimentos palestinianos.

Os responsáveis da Autoridade Palestiniana esperam que o novo estatuto da Palestina possa facilitar uma reaproximação entre os nacionalistas da Fatah, movimento de Mahmud Abbas, e os islamitas do Hamas, que controlam a Faixa de Gaza. E os sinais nesse sentido têm vindo a multiplicar-se. A partir da cidade de Gaza, o porta-voz do Hamas Sami Abu Zuhri, citado pela France Presse, garantiu que o movimento “está interessado na reconciliação palestiniana”.

Numa réplica a Netanyahu, que ciclicamente se refere a Jerusalém como “a capital indivisível e eterna de Israel”, Abbas culminaria o seu discurso em Ramallah com a afirmação de que a histórica cidade seria “para sempre a capital do Estado da Palestina”.
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