O exército sudanês lançou hoje uma ofensiva contra as Forças de Apoio Rápido (FAR), paramilitares, na cidade de El Fasher, capital de Darfur do Norte, após três meses na defensiva num dos últimos redutos do exército nesta região.
O porta-voz das Forças Conjuntas na região de Darfur, Ahmed Hussein Mustafa, disse à agência de notícias espanhola Efe que o ataque coincidiu com a chegada de reforços militares a El Fasher, que está sitiada pelas FAR desde abril.
Mustafa disse que as FAR e suas milícias aliadas "foram capazes de destruir completamente as áreas inimigas e avançaram em todos os eixos", confirmando a chegada de reforços na área.
Testemunhas oculares em El Fasher disseram à Efe que uma caravana de veículos de combate do exército sudanês chegou à cidade, e dezenas de cidadãos saíram para saudar os veículos - com centenas de homens armados a bordo - com gestos e cânticos de vitória.
Um oficial militar da 6ª Divisão de Infantaria do exército também revelou à Efe que conseguiram retirar as FAR da maioria das suas áreas de concentração a leste de Al Fasher.
"As nossas forças estão agora estacionadas no norte de Al Fasher, depois de as FAR terem sido derrotadas no campo de deslocados de Abuja", acrescentou.
Durante estes combates, a cidade de Al Fasher sofreu bombardeamentos intermitentes de artilharia por parte dos paramilitares, especialmente no campo de deslocados de Abu Shouk.
Um funcionário do Crescente Vermelho referiu à Efe que o bombardeamento matou pelo menos quatro pessoas deslocadas e feriu pelo menos 13 que chegaram ao hospital.
No sábado, as FAR informaram que pelo menos 70 pessoas foram mortas e cerca de 280 ficaram feridas em ataques lançados pelo exército sudanês na região.
As FAR afirmaram que as mortes ocorreram num "mercado popular na zona de Al Koma, no estado de Darfur do Norte", sob seu controlo desde o início do conflito entre o exército e os paramilitares, em 15 de abril de 2023.
Esta ação, que até ao momento não foi reivindicada pelo exército sudanês, "matou 70 pessoas no local, carbonizando os seus corpos, em cenas horríveis, e ferindo mais de 280, tendo em conta a falta de serviços médicos de emergência e a incapacidade do único hospital da região para tratar casos críticos", refere a nota das FAR.
A ONU alertou há alguns dias para a possível queda de Al Fasher nas mãos do grupo paramilitar, devido ao risco de reabertura de um novo episódio de crimes de motivação étnica contra civis, como aconteceu durante o genocídio na região de Darfur.
Al Fasher é a principal cidade do Darfur do Norte, onde, entre 2003 e 2005, ocorreu um genocídio contra os grupos étnicos da região, que matou cerca de 200.000 pessoas e foi perpetrado principalmente pelas milícias Janjaweed, que lutaram ao lado do governo contra os grupos rebeldes.
Os Janjaweed constituem atualmente a base das FAR.
A guerra no Sudão eclodiu em abril de 2023 devido a divergências entre o exército e os paramilitares sobre a inclusão destes últimos no poder que emergiu após o golpe de Estado de 2021 naquele país, que pôs fim à tentativa de democratização do Estado após o derrube do antigo presidente Omar al-Bashir, em 2019.
O conflito causou cerca de 20 mil mortos, 33 mil feridos, 7,9 milhões de deslocados internos e 2,1 milhões de refugiados noutros países, segundo as Nações Unidas.