Exército de Colombo exclui interrupções na caça aos Tigres Tamil
As estruturas militares do Sri Lanka estão a ignorar os apelos internacionais para uma pausa nas operações contra a guerrilha dos Tigres Tamil, prometendo intensificar o cerco ao bastião dos rebeldes no Norte do país. Em três meses de guerra morreram pelo menos 6.432 civis e outros 13.946 ficaram feridos, indica um documento das Nações Unidas.
As estimativas da ONU apontam para 50 mil pessoas encurraladas entre as armas dos guerrilheiros e das tropas regulares de Colombo. Outras 100 mil, segundo números do Governo, deixaram a região desde o início da semana. O êxodo, que perdura há vários meses, ascende a 160 mil civis.
"Estamos a apelar ao Governo para que exerça contenção e tenha o ascendente moral, permitindo a entrada de ajuda humanitária, e estamos a apelar à LTTE [Tigres de Libertação do Eelam Tamil] para que abra os portões do inferno e permita que as pessoas procurem a segurança", afirmava na quinta-feira o representante do ACNUR na capital do Sri Lanka, Amin Awad.
O Ministério da Defesa do país rejeita o apelo das Nações Unidas à luz do argumento de que a abertura de um corredor humanitário "não é uma questão sensível" no contexto de uma derradeira ofensiva contra os guerrilheiros separatistas, que lutam desde 1970 pela criação de um Estado para a minoria Tamil. Por outro lado, Colombo alega estar em curso uma "operação de resgate de civis".
A partir da costa nordeste do país, o brigadeiro Shavendra Silva, que comanda a 58ª Divisão do Exército, explicava esta sexta-feira que os únicos obstáculos à marcha das tropas regulares são as "minas e outras armadilhas" espalhadas pelo terreno.
Milhares de civis em campos de refugiados
No final de Janeiro, o último capítulo de uma guerra civil com um quarto de século estava a matar, em média, 33 civis por dia. Em Abril, o número aumentou para 116. Mais de 5.500 baixas civis ocorreram no interior de uma zona de cessar-fogo delimitada pelo Governo. Os dados constam de um documento que as Nações Unidas estão a fazer circular por diferentes representações diplomáticas no Sri Lanka.
O documento da ONU, citado pelas agências internacionais, descreve os números como "dados verificados". As duas partes em conflito trocam acusações sobre as mortes de civis. Se o Governo acusa os Tigres Tamil de usarem as populações civis como escudos humanos, a guerrilha acusa o Exército de apontar armas a centenas de pessoas inocentes.
Na passada segunda-feira, as tropas governamentais romperam parte das fortificações dos Tigres Tamil no extremo da zona de cessar-fogo. A guerrilha garante que a operação dos militares de Colombo causou as mortes de pelo menos mil civis.
Até ao momento, apenas o Comité Internacional da Cruz Vermelha e a católica Caritas puderam chegar ao coração do conflito, apesar dos apelos insistentes da comunidade internacional. As demais organizações humanitárias estão limitadas aos campos de deslocados. Neil Buhne, coordenador das Nações Unidas no terreno, fala de dezenas de milhares de civis obrigados sobreviver em campos de refugiados sem condições em Vavuniya, no Norte do país.
"Vi crianças com disenteria, crianças e mulheres mal nutridas, feridas por tratar e pessoas vestidas com as roupas gastas que usam há meses", relatou o responsável da ONU à Associated Press.
Nova Deli envia missão diplomática
Confrontado com a pressão crescente da sua própria população de etnia Tamil, o Governo indiano enviou a Colombo o conselheiro de Segurança Nacional M. K. Narayanan e o secretário dos Negócios Estrangeiros Shivshankar Menon. A missão indiana esteve hoje reunida com o Presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa.
A desconfiança é, no entanto, o sentimo prevalecente em Colombo. A memória das autoridades do Sri Lanka ainda é assaltada pela intervenção protagonizada pela Índia em 1986, quando o Exército do país esteve prestes a esmagar a LTTE.
Entre os civis que nos últimos dias engrossaram o êxodo do Norte do Sri Lanka há também desertores da guerrilha Tamil. É o caso de um antigo porta-voz da LTTE que, segundo o comandante da 58ª Divisão do Exército, teria garantido que o líder máximo da guerrilha, Velupillai Prabhakaran, estaria a planear uma fuga "no último minuto". O "tigre número um", afirmou o brigadeiro Shavendra Silva, permanece entrincheirado no coração do perímetro Tamil.
A recusa da capitulação, porém, é um dos pilares do ideário dos Tigres Tamil. E todos os chefes da guerrilha transportam cápsulas de cianeto.