O exército birmanês desmentiu qualquer abuso contra a minoria rohingya, tornando públicas as conclusões de uma "investigação" interna na véspera da visita à Birmânia do secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson.
"Os soldados não cometeram violências sexuais nem mataram civis", escreveu hoje o jornal oficial Global New Light of Myanmar, publicando o relatório do exército tornado público na noite de segunda-feira.
"Eles não prenderam, espancaram ou mataram aldeões", indicam as conclusões do inquérito, que tem por base mais de 2.800 testemunhos de aldeões muçulmanos, não verificados de forma independente.
Os jornalistas, por outro lado, não têm permissão para visitar a parte norte do estado de Rakhine de forma independente. Em viagens de imprensa raras, os oficiais participam nas entrevistas.
"Eles não abriram fogo contra as mesquitas nas aldeias muçulmanas", acrescentaram os autores do relatório.
O exército confirma apenas que a polícia atirou contra um grupo de rohingyas, no final de agosto, alegando legítima defesa. "As forças da ordem dispararam contra as pernas do líder", refere o relatório, sem precisar o número de pessoas mortas nesse incidente.
A violência no estado de Rakhine começou com os ataques contra postos da polícia pela rebelião rohingya do Arakan Rohingya Salvation Army (ARSA) [Exército de Salvação do Estado Rohingya], que denuncia os maus-tratos sofridos por aquela minoria apátrida.
Mas os civis que se refugiaram em massa no vizinho Bangladesh -- mais de 600.000 numa população estimada em um milhão -- falam de violações, execuções extrajudiciais e queima de aldeias pelo exército.
O exército confirma que desde o início da violência no fim de agosto, "um total de 376 cadáveres de terroristas da ARSA" foram descobertos "e 78 terroristas do ARSA foram detidos".
Rex Tillerson deverá encontrar a líder do governo civil, Aung San Suu Kyi, e também o chefe do exército, o general Min Aung Hlaing, em Naypyidaw, a capital administrativa.
Face às "atrocidades" cometidas contra os rohingyas na Birmânia, os Estados Unidos começaram timidamente a aumentar a pressão sobre o exército birmanês, mantendo uma posição de equilíbrio, para não colocar em cheque Aung San Suu Kyi, escreve a AFP.
A diplomacia norte-americana considera os militares "responsáveis" pela crise, estando previstas sanções.