Mohammad Khatami, ex-presidente do Irão, enalteceu os manifestantes iranianos que protestam há cerca de três meses e pediu ao governo iraniano que ceda às exigências dos manifestantes "antes que seja tarde demais".
O Irão celebra na quarta-feira o Dia do Estudante e Mohammad Khatami aproveitou um comunicado que marca a data para criticar a detenção de estudantes, que estão na vanguarda dos protestos que começaram em meados de setembro, após a morte sob custódia de Masha Amini – uma mulher de 22 anos que foi detida pela polícia da moralidade por usar o véu islâmico “indevidamente”.
Os protestos rapidamente adquiriram uma nova dimensão, com os manifestantes a criticarem o Governo iraniano e a questionarem a República Islâmica.
O ex-presidente iraniano, que foi um dos principais líderes da fação reformista do Irão, teceu elogios aos manifestantes antigovernamentais, enaltecendo o envolvimento “talvez sem precedentes” de estudantes e professores e afirmando que o slogan “mulher, vida, liberdade” mostra que a sociedade iraniana está a caminhar para um futuro melhor.
Por sua vez, Khatami, presidente do Irão entre 1997 e 2005, instou as autoridades governamentais a cederem às exigências dos manifestantes “antes que seja tarde demais”.
"Não se deve permitir que a liberdade e a segurança sejam colocadas em oposição uma à outra e que, como resultado, a liberdade seja esmagada sob o pretexto de manter a segurança, ou que a segurança seja ignorada em nome da liberdade", afirmou.
“Aconselho os dirigentes políticos a valorizarem a participação e, em vez de lidar com ela injustamente, estender a mão aos manifestantes e, com a sua ajuda, reconhecer os aspetos errados da administração e avançar em direção à boa governação antes que seja tarde demais”, disse Khatami, citado pela BBC.
O atual governo do Irão, liderado por Ebrahim Raisi, tem reagido exatamente de forma oposta, assumindo uma postura de repressão. O governo iraniano apelidou os protestos de “distúrbios” incitados pelos inimigos estrangeiros e ordenou a mobilização das forças de segurança. Até agora, pelo menos 473 manifestantes foram mortos e 18.215 foram detidos, incluindo 586 estudantes, de acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos.
No domingo, o governo iraniano dava aqueles que se julgavam ser os primeiros sinais de cedência ao anunciar o fim da polícia da moralidade e ao admitir estudar uma possível revisão da lei do uso obrigatório do véu pelas mulheres.
No mesmo dia, os media iranianos desmentiram a notícia em relação ao fim da autoridade que foi criada em 2005 para fiscalizar o código sobre vestuário das mulheres imposto pela República Islâmica. O Centro de Promoção da Virtude e Proibição do Vício do Irão afirmou que a polícia da moralidade poderá ser antes substituída por novas tecnologias para controlar o vestuário das mulheres.
A União Popular do Irão Islâmico, formada por familiares do ex-presidente reformista Khatami, exigiu no final do setembro que as autoridades "preparem os elementos legais que permitam a anulação da lei sobre o uso obrigatório do véu".
Muhammad Khatami é considerado o primeiro presidente reformista do Irão. O ex-presidente, de 79 anos, governou sob princípios como a liberdade de expressão, a tolerância e a inclusão, o que fez com que recebesse o apoio de mulheres e jovens durante as eleições.
Dadas as suas políticas reformistas, Khatami tornou-se alvo dos conservadores, que controlavam estruturas governamentais soberanas, acabando por não ser reconduzido para um terceiro mandato.