O ex-primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe Guilherme Posser da Costa (1999-2001) confirmou estar envolvido no escândalo financeiro de desvio de verbas do Gabinete de Gestão de Ajuda (GGA), fundo governamental que gere ajudas externas ao arquipélago.
Posser da Costa, deputado e vice-presidente do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social-Democrata (MLSTP- PSD) confirmou o envolvimento sexta-feira à noite, à saída de uma audiência judicial, no âmbito de um processo-crime por tentativa de agressão ao Procurador-Geral da República (PGR) são-tomense, Adelino Pereira.
Questionado pelos jornalistas se estaria ou não envolvido no escândalo financeiro do GGA, o ex-primeiro-ministro confirmou ter dado autorização para que alguns membros do seu governo e elementos da sua segurança fossem beneficiados com fundos do referido gabinete, que alegadamente funcionava como um "saco azul" governamental.
"Eu dei ordem para que fossem pagas algumas despesas públicas, como consumo de água e electricidade, para alguns membros do meu governo", disse Posser da Costa, acrescentado que autorizou ainda o fornecimento regular de "alguma quantidade de arroz" à sua guarda pessoal.
O escândalo financeiro do GGA, que esteve na origem da queda do governo da ex-primeira-ministra Maria das Neves (2002-2004), em meados de Setembro último, envolve vários governantes do arquipélago, entre os quais antigos ministros do Comércio, pelouro responsável pela gestão do gabinete, bem como uma empresa privada do presidente da República, Fradique de Menezes, a CGI.
Acusado de estar envolvido em desvios de fundo do GGA, Posser da Costa compareceu sexta-feira em tribunal para explicar os motivos que o levaram a invadir, quarta-feira, o gabinete do PGR, Adelino Pereira, numa tentativa de o agredir.
Na sequência desta tentativa de agressão, Posser da Costa é alvo de um mandado de detenção, emitido pela procuradoria.
O ex-governante justificou a tentativa de agressão com uma alegada violação do segredo de justiça por parte do PGR, que eventualmente teria passado informações do processo GGA, ainda em investigação judicial, à comunicação social.
Posser da Costa acusou o Procurador-Geral da República de ter posto a circular "uma falsa informação", atribuindo-lhe o estatuto de arguido, pondo em causa a sua "dignidade e honra que estava ser constantemente ofendida na praça pública".
Controlado pelo governo através do Ministério do Comércio, o GGA gere as receitas da venda de produtos alimentares doados pelos parceiros de desenvolvimento, sobretudo o Japão, que dá anualmente toneladas de arroz no valor de 1,38 milhões de dólares (cerca de um milhão de euros).
Um relatório do Ministério Público, com base numa auditoria às contas do GGA, cita nomes de vários governantes do país, que teriam sido beneficiados com avultadas somas em dinheiro através da emissão de facturas falsas.