Ex-diretor dos serviços prisionais são-tomense responsabiliza ministra da Justiça por morte de foragido

por Lusa

O ex-diretor dos Serviços Prisionais são-tomense responsabilizou hoje a ministra da Justiça, Direitos Humanos e Administração Publica pela morte nas instalações da Polícia Judiciária (PJ) de um jovem procurado pela polícia depois de agredir a esposa.

"Quem é o autor de toda a situação foi a senhora ministra que não soube lidar com a situação. Ela foi bastante incompetente na solução de um problema que era muito fácil de resolver", disse Lázaro Afonso, em declarações a jornalistas.

Em 26 de março, Nelson Rita das Neves, conhecido por Lady, de 23 anos, morreu nas instalações da PJ, depois de se entregar à polícia, após cerca de dois meses foragido por agressão à mulher com vários golpes de catana.

A morte do jovem levou à prisão preventiva de três agentes da PJ, outros três estão em prisão domiciliar e um outro está com termo de identidade e residência.

No sábado, durante uma entrevista na emissora católica Radio Jubilar, a ministra da Justiça, Ivete Lima Correia, acusou Lázaro Afonso, demitido do cargo de diretor dos Serviços Prisionais e de Reinserção Social (SPRS), de responsabilidade na morte de Nelson Rita das Neves.

"O Lázaro Afonso tinha todas as informações sobre o foragido e ele é um dos culpados porque não passava as informações, não houve espírito de colaboração e de comunicabilidade, não houve o princípio de solidariedade entre as instituições", acusou a ministra.

A governante acrescentou que se o ex-diretor "tivesse facilitado, essa tragédia que abalou o país (morte na PJ) não teria acontecido".

"Ele tinha o seu número de telefone, encontrava-se na calada da noite com o foragido e a relação entre ambos parecia ser muito próxima. Reunia muitas informações sobre o jovem procurado pela polícia, mas sempre se recusou colaborar com a PJ na captura do jovem foragido", referiu Ivete Correia, acusando Lázaro Afonso de "constante insubordinação e desobediência".

O ex-diretor respondeu a estas acusações, acusando a ministra da Justiça de "ter provocado toda esta tragédia porque não soube lidar com a situação. Ela já tinha na mente que ele iria ser morto". No entanto, assumiu que de facto tinha o contacto do foragido "assim como muitos outros responsáveis da PJ, da Polícia e do exército".

"O próprio diretor adjunto da PJ tinha o contacto telefónico do foragido, nós fizemos o cruzamento de telefones, eu recebi o coordenador da PJ no meu gabinete juntamente com o diretor adjunto, acompanhado do financeiro e outros elementos responsáveis da cadeia para discutimos a estratégia da detenção do Lady", defendeu o ex-diretor.

A governante referiu que o ex-diretor do SPRS "sempre soube onde o foragido se encontrava", enquanto agentes da PJ e da Polícia Nacional andavam no seu encalço.

Hoje, em declarações à imprensa, Lázaro Afonso devolveu a acusação à ministra, referindo que a governante colocou a própria vida em perigo ao deslocar-se às instalações dos serviços de penitenciária durante a noite para obrigar o diretor a entregar o foragido à PJ quando este se entregou às autoridades policiais.

Posteriormente, continuou o ex-diretor, a ministra dirigiu-se à sua residência ara fazer a mesma exigência, mas o detido só foi entregue na manhã do dia seguinte.

"Ele queria que nós o entregássemos diretamente ao Ministério Público dizendo que se o entregássemos à PJ ele seria morto e afirmou, perante toda a gente, que se soubesse que o iríamos entregar à PJ, não se teria rendido", explicou o ex-diretor dos serviços prisionais.

Nelson Rita das Neves acabou por falecer cerca de duas horas depois de ser entregue à PJ e o relatório médico refere traumatismo craniano como causa da morte.

Os resultados dos dois inquéritos, realizados nomeadamente pelo Ministério Público (MP) e pelos serviços gerais de inspeção anunciados pelo governo ainda não são conhecidos.

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