Ex-candidata da oposição apoiará Milei na 2.ª volta das presidenciais argentinas

por Lusa

A ex-candidata da coligação opositora da Argentina Juntos pela Mudança (centro-direita), Patrícia Bullrich, anunciou hoje que vai apoiar o libertário Javier Milei na segunda volta das eleições presidenciais no país.

Numa conferência de imprensa em Buenos Aires juntamente com Luis Petri, que a acompanhou como candidato a vice-presidente, a ex-ministra da Segurança argentina afirmou que não poderiam ser "neutros" na segunda volta, porque o país se encontra "perante o dilema de mudança ou continuidade da máfia".

Patrícia Bullrich classificou-se no terceiro lugar (com 23,83% dos votos) na primeira volta das presidenciais, realizada no passado domingo, na qual o candidato da União pela Pátria (peronismo no poder), Sergio Massa, se impôs com 36,28% dos votos, à frente do líder da Liberdade Avança (extrema-direita), que obteve 29,98% dos votos.

"No caso de Javier Milei, temos divergências, e foi por isso que competimos. Não estamos a ignorá-las. No entanto, enfrentamos um dilema entre mudança e continuação de um estilo de governação mafiosa na Argentina, e pôr fim à atual vergonha. Temos o dever de não permanecer neutros", declarou a ex-candidata.

"O país precisa de uma mudança fundamental", acrescentou, advertindo contra "a continuação do pior Governo da história".

Bullrich sublinhou falar em nome da sua equipa presidencial, incluindo o candidato a vice-presidente Luis Petri, e não em nome da sua coligação, deixando claro que nem o partido de centro-direita PRO, que lidera, nem a coligação mais ampla Juntos pela Mudança, apoiaram oficialmente a decisão.

Desde o escrutínio de domingo, têm-se registado tensões dentro da coligação de centro-direita Juntos pela Mudança, a principal aliança da oposição da Argentina, em torno de quem os seus membros apoiariam na segunda volta das presidenciais, a 19 de novembro, que decidirá quem irá liderar a segunda maior economia da América do Sul, afetada por uma taxa de inflação anual de quase 140% e um aumento da pobreza.

O ex-Presidente Maurício Macri, que fundou o partido PRO, falou positivamente de Milei no passado, caracterizando o apoio que ele recebeu na primeira volta das presidenciais como uma demonstração de que os argentinos querem mudança.

Alguns dos outros elementos da coligação, sobretudo membros da União Cívica Radical, mais à esquerda, deixaram claro, nos últimos dias, que não apoiariam o populista de direita Milei, um candidato que empunha uma motosserra e prometeu cortar as despesas do Estado e criar e aplicar um plano para se livrar da moeda nacional e "dolarizar" a economia para gerir a inflação.

O ex-senador Ernesto Sanz, membro da União Cívica Radical e um dos membros fundadores da coligação, aventou a hipótese de esta se dissolver se os líderes do partido publicamente manifestassem o seu apoio a Milei.

"As coligações, como os partidos políticos, não foram concebidas para viver para sempre. Existem enquanto os seus membros o desejarem", observou hoje Sanz numa entrevista radiofónica.

Não ficou imediatamente claro se o anúncio de Bullrich significará uma rutura da coligação, uma vez que o apoio não veio do próprio partido.

Milei, que se descreve como um anarcocapitalista, competiu com Bullrich pelos votos da direita no escrutínio de domingo.

Antes da votação, Milei criticou duramente Bullrich, mas recentemente moderou o seu discurso e até colocou a hipótese de ela se juntar ao seu Governo, caso ele ganhe a Presidência.

O economista libertário, que trocou uma carreira televisiva por um lugar na câmara baixa do parlamento argentino em 2021, conseguiu inserir o seu partido Liberdade Avança num espetro político dominado pela alternância no poder entre uma coligação de centro-esquerda e outra de centro-direita nos últimos cerca de 20 anos.

O Liberdade Avança terá 37 assentos parlamentares na câmara baixa do Congresso argentino, chamada Câmara dos Deputados, e oito senadores, de acordo com cálculos preliminares.

A União pela Pátria, no poder, terá 105 deputados e 32 senadores, e o Unidos pela Mudança, 94 deputados e 24 senadores.

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