Evgueny Prigozhin ressurge. Revolta visou evitar "destruição" do Grupo Wagner

por Graça Andrade Ramos - RTP
Prigozhin quebra silêncio. Revolta visou evitar "destruição" do Grupo Wagner. Reuters

O chefe do grupo Wagner manteve silêncio desde sábado apenas para ressurgir esta tarde com uma mensagem áudio de 11 minutos, publicada na rede Telegram e na qual garantiu que o objetivo da sua rebelião sexta-feira passada apenas visou salvar o seu exército de mercenários.

Nela, Prigozhin revelou que o seu grupo de paramilitares deveria deixar  de existir a partir do próximo dia 1 de julho, por ameaça de "desmantelamento pelas autoridades russas".

Observadores apontam que o Kremlin se propunha já em junho assinar apenas contratos individuais com os mercenários, esvaziando a força operacional dos Wagner e integrando-os no comando das forças armadas russas.

Prigozhin garantiu que ninguém nas suas fileiras aceitou passar-se para as forças armadas russas, ou assinar contratos diretamente com o Ministério da Defesa da Rússia.

"Não fizemos uma marcha da justiça para derrubar o Governo" russo de Vladimir Putin, voltou ainda a garantir Prigozhin sobre a sua rebelião de 24h. Esta pretendeu somente registar um protesto contra a conduta ineficaz da guerra na Ucrânia, sublinhou.

Sábado, depois do Presidente russo Vladimir Putin o ter acusado de traição e de colocar o país em perigo "mortal", Evgeny Prigozhin ameaçou que em pouco tempo "haveria um novo Presidente" na Rússia, algo que procura agora contradizer, perante a manutenção da acusação de crime de motim.

Evgueny Prigozhin está em parte incerta desde que aceitou mudar-se com o grupo Wagner para a Bielorrússia, depois de desafiar o comando militar russo no passado fim-de-semana. Terá sido visto entretanto num hotel em Minsk, capital da Bielorrússia.
"Pela justiça"
O Grupo Wagner rebelou-se sexta-feira contra as chefias militares do Kremlin, nomeadamente o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, a quem Prigozhin acusou de mandar bombardear as suas bases militares provocando três dezenas de vítimas.

O líder das Wagner anunciou então uma "marcha da justiça" contra as chefias militares russas, e contingentes do grupo entraram em território russo a partir da Ucrânia, conquistando duas cidades, abatendo seis aeronaves russas e assumindo o controlo do Distrito de Comando do Sul das forças armadas da Rússia, vital para o esforço de guerra na Ucrânia.

Prigozhin exigiu sem êxito falar com Shoigu e com o Chefe de Estado Maior da Rússia, Valery Gerasimov, a quem nos últimos meses responsabilizou pelos desaires russo na Ucrânia.

O avanço dos paramilitares da Wagner terá chegado a 200 quilómetros de Moscovo encontrando uma resistência armada frágil, antes de Prigozhin ordenar a retirada para "evitar um banho de sangue russo" e após um acordo com o Kremlin mediado pelo Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukachenko.

Esta tarde, o líder dos Wagner referiu-se à sua operação de 24H como uma "classe magistral" ["Master Class"] no avanço militar, numa nova farpa às chefias militares moscovitas.

"Mostramos numa classe magistral como [a operação de] fevereiro de 2024 tinha de ter ocorrido", afirmou Prigozhin, referindo-se ao início daquilo que Moscovo designou "operação especial" para "desnazificar" a Ucrânia e que se transformou numa guerra de atrito que completou sábado 16 meses.
Evitar a "destruição" dos Wagner
"Da noite para o dia avançamos 780 quilómetros. Faltavam cerca de 200 quilometros para Moscovo", lembrou, apesar de não existirem provas de tal feito. "Nenhum soldado no terreno foi abatido" acrescentou, adiantando que toda a operação revelou "graves problemas de segurança" na Rússia.

"Lamentamos termos sido forçados a atingir aparelhos aéreos", acrescentou, "mas estes bombardearam e lançaram mísseis" sobre as forças Wagner.

"O objetivo da marcha das suas forças" sobre Moscovo foi evitar a "destruição" da sua companhia privada de mercenários" e "levar à justiça aqueles que, através das suas ações não profissionais, cometeram um enorme número de erros durante a operação militar especial", defendeu ainda Prigozhin esta segunda-feira.

Sobre a retirada, o líder dos Wagner adiantou que o grupo avançado de Moscovo "fez o reconhecimento da área e era óbvio que naquele momento "muito sangue russo" seria derramado. Consideramos que a demonstração era suficiente quanto ao que poderíamos fazer ".

O correspondente da RTP em Moscovo, Evgueni Mouravich, analisou esta última mensagem de Prigozhin e o que se pode esperar na Rússia em reação às ações dos Wagner.
Cabeça a prémio
"Neste momento, Alexander Lukachenko estendeu a sua mão e ofereceu-se para encontrar soluções para o trabalho futuro do Wagner PMC sob jurisdição legal", referiu Prigozhin nesta nova mensagem áudio.

No acordo anunciado sábado com a chefia do Grupo Wagner, Evgueny Prigozhin terá aceitado transferir-se e às suas operações para a Bielorrússia, aliada do Kremlin, em troca de imunidade para os seus combatentes e do levantamento do processo-crime por motim levantando contra si.

Ao contrário do que foi primeiro anunciado esta última condição não foi ainda cumprida. Outra exigência de Prigozhin, o afastamento de Shoigu e de Gerasimov, parece ter sido frustrada, depois do ministro da Defesa russa ter sido filmado a visitar as suas tropas na frente da Ucrânia.
A rebelião de Prigozhin mostrou um poder russo fragilizado e a cedência do Presidente Vladimir Putin ao acordo proposto por Lukachenko está a ser considerada por muitos analistas como prova de fraqueza.

O destino do líder das Wagner é outra incerteza. Apesar de ter alegadamente aceitado ir para a Bielorrússia, Evgeny Prigozhin terá a cabeça a prémio e quanto tempo poderá sobreviver é motivo de especulação generalizada.

No sábado, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, até ao ano passado o principal apoiante de Prigozhin e do Grupo Wagner, os quais usava para realizar ações militares marginais em todo o mundo e especialmente em África, qualificou de rebelião a ação do grupo, referindo-se, sem mencionar especificamente o líder dos mercenários, a uma "ameaça mortal" ao Estado russo e a "traição", garantindo que não iria deixar acontecer uma "guerra civil".
Futuro incerto na Ucrânia

Em comunicado, o Grupo Wagner refere que os treinos no quartel de São Petersburgo continuam a decorrer dentro da normalidade.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, garantiu ainda que as operações dos mercenários vão manter a normalidade e que a rebelião não vai afetar as relações entre Moscovo e aliados.


Lavrov garantiu que o grupo Wagner vai continuar a operar na República Centro-Africana e no Mali. Já a participação dos Wagner na guerra da Ucrânia não foi mencionada.

Moscovo anunciou entretanto investigações a um alegado envolvimento de serviços secretos ocidentais no motim do grupo paramilitar, ordenadas por Lavrov. O Presidente norte-americano Joe Biden já veio negar qualquer participação.
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