Num vídeo que se tornou viral, publicado nas redes sociais a 17 de junho, Jordan Bardella dirigiu-se às mulheres francesas como o grande defensor dos seus direitos e apelou ao voto no partido de extrema-direita nas próximas eleições legislativas, cuja segunda volta está agendada para o próximo domingo. Isto numa tentativa de recuperar o voto feminimo no partido, que durante muito tempo esteve bloqueado pelas mulheres, especialmente durante a liderança do seu fundador, Jean-Marie Le Pen.
"A 30 de junho e a 7 de julho, também vocês vão votar pelos vossos direitos", apelou Jordan Bardella. "Serei
o primeiro-ministro que garantirá de forma infalível a cada rapariga e
cada mulher de França os seus direitos e liberdades", prometeu o presidente do RN, garantindo-lhes que "em França a mulher é livre e continuará a sê-lo".
Mas o
programa eleitoral do RN, as posições dos membros do partido e as recentes votações das leis e medidas tanto na Assembleia francesa como no Parlamento Europeu demonstram exatamente o oposto das suas promessas, de acordo com a imprensa francesa que tem analisado ao pormenor a
"manipulação retórica" feita pelo partido de extrema-direita.
Na edição desta quinta-feira, o jornal francês
Libération denuncia a "farsa" do
Rassemblement National, que,
"por detrás de uma fachada de feminismo, continua a ser uma ameaça aos direitos das mulheres" e denuncia uma estratégia do partido de extrema-direita que
"sequestra o feminismo para promover o ódio", a xenofobia e o racismo, responsabilizando sistematicamente os estrangeiros e imigrantes pela violência e insegurança no espaço público
Quer seja no
direito ao aborto (IVG), desigualdade salarial ou nas medidas de combate à violência doméstica, o Rassemblement National de Marine Le Pen nunca defendeu os direitos das mulheres quando teve oportunidade,
denunciam várias associações de defesa dos direitos das mulheres e especialistas no assunto.
Apesar das suas promessas eleitorais no combate à violência contra as
mulheres,
o RN absteve-se na votação de uma lei destinada a reforçar a
luta contra a violência sexual e de género, conhecida como "lei
Schiappa", em 2018. Assim como também
não participou na votação sobre a
igualdade profissional, designada "lei Rixain", em 2021 e
votou contra a
proposta de lei que propunha que 40 por cento dos lugares na função pública fossem atribuídos a mulheres, em 2023.
O RN defende o direito ao aborto?
Apesar de Jordan Bardella ter afirmado, no vídeo, que o RN defende "o direito fundamental das mulheres ao controlo do seu
próprio corpo", o partido de extrema-direita parece continuar muito dividido sobre a interrupção voluntária da gravidez (IVG), votando contra e abstendo-se em diversas ocasiões.
Por exemplo, a 4 de março quase metade dos seus deputados votaram contra a consagração histórica deste direito na Constituição francesa, com 11 votos contra, 20 abstenções e 14 ausentes, dos 91 deputados eleitos. Mas "porque nenhuma mulher deve temer que um único destes direitos seja
posto em causa, Marine Le Pen apoiou a inscrição do aborto na
Constituição", afirmou Bardella.
E talvez por esta razão o líder do partido tenha optado por mencionar apenas o nome da sua antecessora, Marine Le Pen, que apoiou desde 2012 o direito ao aborto rompendo com a posição defendida pelo seu pai, Jean-Marie, e mais recentemente apoiou a inscrição da IVG na Constituição.