Eurovisão. Vitória de Nemo reacende debate sobre pessoas não-binárias na Suíça
Após a vitória do jovem suíço Nemo, na última edição do Festival da Eurovisão da Canção, reacende-se o debate nacional sobre as pessoas não-binárias e a existência de um terceiro sexo no país. Com a vitoriosa canção "The Code", o artista de 24 anos tornou-se a primeira pessoa não-binária, ou seja, que não se identifica como feminina ou masculina, a vencer o concurso.
Ao contrário de outros países como as vizinhas Áustria ou Alemanha, onde vive atualmente, a Suíça não reconhece a existência de um terceiro sexo . Mas a questão que se coloca, neste momento é: vai a Suíça mudar de posição em relação às pessoas não-binárias e reconhecer a existência de um terceiro sexo?
Para já, está previsto um encontro - ainda sem data marcada - entre o jovem artista suíço e o atual ministro suíço da Justiça, Beat Jans, que respondeu favoravelmente ao convite feito por Nemo, durante a conferência de imprensa, no sábado à noite, em Malmõ, na Suécia, segundo os meios de comunicação suíços. Aproveitando o palco internacional, Nemo considerou "absolutamente inaceitável" que não seja possível a inscrição de um terceiro género na Suíça e afirmou que a situação no país tinha de ser alterada: "Temos de mudar isso".
Desafio aceite pelo ministro suíço da Justiça, Beat Jans, que ficou "encantado" com Nemo e a sua "vitória no Festival da Eurovisão da Canção", de acordo com a porta-voz do ministro, Kathrin Alder. "O ministro Beat Jans ficou encantado com Nemo. Ele está muito feliz com a vitória de Nemo na Eurovisão e envia os seus mais calorosos parabéns", disse a porta-voz do ministro, segundo o diário suíço 20 minutes. "O ministro Jans está ansioso por este encontro. Está-se agora a procurar uma data adequada", acrescentou.
Segundo o canal de televisão estatal suíço RTS, as pessoas não-binárias têm grandes esperanças em Beat Jans, uma vez que conseguiu adotar a lei cantonal sobre a igualdade durante o seu mandato como presidente cantonal de Basileia. A lei foi revista para incluir pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, não-binárias e intersexuais, um passo inédito na Suíça alemã.
O recém-empossado ministro suíço da Justiça, Beat Jans, em funções desde dezembro de 2023, já tinha promovido a melhoria da situação das pessoas LGBTQ+ a nível cantonal com a adoção da lei que visa criar "um modelo de género contemporâneo" que "rejeita a binaridade - feminino e masculino - e a heteronormatividade". O relatório que então suportava o projeto de lei defendia que o género e a orientação sexual devem "ser considerados na sua diversidade".
A Suíça não está preparada?
Apesar de o Parlamento suíço ter alterado as disposições sobre o registo de género no Código Civil, em janeiro de 2022, permitindo a qualquer pessoa que esteja "firmemente convencida de que não pertence ao género inscrito no registo civil" pode ter a sua inscrição alterada, só poderá escolher entre dois géneros reconhecidos: feminino e masculino.