EUA vão “reavaliar” cooperação com aliados que usem equipamentos Huawei

por Andreia Martins - RTP
As novas críticas à Huawei surgem na véspera de uma ronda de negociações para resolver a guerra comercial entre EUA e China. Aly Song - Reuters

O secretário-adjunto do Departamento de Estado norte-americano para a política cibernética e política de tecnologias de informação, Robert Strayer, afirmou esta segunda-feira que os Estados Unidos vão repensar a partilha de informação com países aliados que usem equipamentos fabricados pela Huawei. A nova investida sobre a gigante tecnológica chinesa surge numa altura em que o secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Steven Mnunchin, parte para Pequim para iniciar uma nova ronda de negociações sobre a guerra comercial entre os dois países.

No mesmo dia em que se inicia uma ronda decisiva de negociações sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e a China, Washington volta a sinalizar as grandes reservas do Governo norte-americano para com a Huawei, empresa tecnológica chinesa de alcance mundial. 

“Os Estados Unidos consideram que constitui um risco colocar em qualquer parte da rede 5G de telecomunicações a Huawei, ou qualquer outro fornecedor que não seja confiável”, considerou Robert Strayer, responsável do Departamento de Estado para a política cibernética e internacional e para a política de tecnologia de informação.  

Strayer acrescentou ainda que a relação dos Estados Unidos com países que permitam o acesso de empresas “pouco fiáveis” às suas redes de telecomunicação 5G terá de ser repensada.  

“Vamos ter de reavaliar a partilha de informação e conexão a esses países”, afirmou o responsável.  

De recordar que os Estados Unidos já proibiram a utilização de serviços e equipamentos de empresas consideradas de elevado risco, detidas ou controladas pela China, incluindo a Huawei e a ZTE, na quinta geração móvel.  

Washington tem procurado demover diplomaticamente países aliados de recorrerem a estes mesmos equipamentos, alertando para riscos de segurança e infraestruturas destas empresas.  

Na base dos argumentos dos responsáveis norte-americanos está o facto de a China “controlar o setor privado” no país e que um papel relevante da Huawei nas redes 5G seriam uma “arma carregada” em países “democráticos” do Ocidente, considerou Robert Strayer.  

Uma recomendação da Comissão Europeia no final de março dita que cada Estado-membro “deverá proceder a uma avaliação nacional dos riscos ligados às infraestruturas das redes 5G até ao final de junho de 2019”, mas espera que haja uma “abordagem europeia comum” sobre as questões de segurança.  

A 12 de março, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução sobre as ameaças para a segurança relacionadas com a “crescente presença tecnológica chinesa” na União Europeia.
 
De acordo com a agência Reuters, o Conselho de Segurança Nacional do Reino Unido já decidiu que não vai usar equipamento da Huawei na estrutura principal da rede de 5G, mas que não irá vedar por completo a entrada da empresa nessa rede, assumindo um papel mais secundário.

Em 2018, o Canadá e a Nova Zelândia anunciaram que iriam excluir equipamentos da empresa chinesa na futura rede de quinta geração móvel. 

Entretanto, decorre na justiça norte-americana um processo em que a Huawei é acusada de fraude bancária, obstrução judicial e roubo de tecnologia.

No âmbito desse processo, Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei e filha do fundador da empresa foi detida no Canadá a 1 de dezembro de 2018, a pedido dos Estados Unidos, que pediram a extradição da empresária. Meng Wanzhou está há vários meses em prisão domiciliária no Canadá.

A Huawei nega todas as acusações. Garante ser uma empresa independente, sem vínculos ao Governo chinês, e acusa Washington de conduzir uma campanha que procura conter o crescimento da multinacional.

Robert Strayer disse esta segunda-feira que as preocupações dos Estados Unidos são meramente sobre os riscos de segurança e que não têm nada que ver com o comércio. 

 “O nosso esforço diplomático global não tem nada a ver com o comércio, é 100 por cento sobre segurança nacional. (…) Instamos os países a pensarem com muito cuidado à medida que implementam os requisitos relacionados com a infraestrutura 5G”, alertou o secretário-adjunto durante uma conferência de imprensa.
Fim da guerra comercial?
O boicote à gigante tecnológica chinesa poderá ser mais um tema de tensão diplomática entre Estados Unidos e China, que recomeçam esta terça-feira uma nova ronda de negociações para resolver o conflito comercial entre os dois países. 

Steven Mnuchin, secretário de Estado do Tesouro norte-americano, partiu esta segunda-feira para a capital chinesa, onde na terça-feira se inicia uma ronda negocial entre as delegações que irá prosseguir para uma “segunda mão” em Washington, a partir de 8 de maio. 

A comitiva norte-americana conta com a presença de Robert E. Lighthizer, negociador-chefe dos Estados Unidos que foi escolhido por Donald Trump para lidar com querelas que envolvam o Governo chinês. Do lado chinês irá figurar Liu He, o vice-primeiro-ministro.
 
A guerra comercial entre os dois países prolonga-se já há cerca de dois anos e iniciou-se quando o Presidente norte-americano anunciou a imposição de taxas de importação a vários produtos chineses. A China respondeu na mesma moeda e desde então têm sido as várias ações retaliatórias entre as duas maiores economias do mundo. 

Mesmo com o imbróglio da Huawei a ensombrar as negociações, Donald Trump tem-se mostrado otimista e espera mesmo que haja acordo entre os dois países nos próximos meses, a ser oficializado durante uma futura visita do Presidente Xi Jinping à Casa Branca. 

No entanto, os responsáveis chineses demonstraram o seu descontentamento nos últimos dias na reação a mais uma medida delineada pela Administração Trump. A 22 de abril, a Casa Branca confirmou o fim das isenções concedidas a vários países - incluindo a China – pela importação de petróleo iraniano. 
 
O termo destas isenções pela compra do petróleo iraniano vai implicar a imposição de sanções norte-americanas a países que não suspendam as suas importações até 2 de maio. 

Pequim é atualmente um dos maiores importadores de crude iraniano e já veio garantir que não planeia alterar as relações comerciais com o país do Golfo Pérsico. 

“A China opõe-se consistentemente às sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos”, afirmou Geng Shuang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.

(com agências internacionais)
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