EUA. Três condenados pela morte de jovem negro voltam a tribunal por crime de ódio

por RTP
Marco Bello - Reuters

Os três homens condenados nos EUA a prisão perpétua pelo homicídio do jovem negro Ahmaud Arbery, morto a tiro enquanto fazia desporto, em fevereiro de 2020, incorrem agora numa acusação adicional de ódio racial. A decisão está agora nas mãos de um júri federal.

Travis e Gregory McMichael, juntamente com William Bryan, foram condenados, no início do ano, a prisão perpétua pelo homicídio de Ahmaud Arbery, o jovem negro de 25 anos morto a tiro enquanto fazia desporto, em fevereiro de 2020.

Na condenação, admite-se que os três homens brancos tenham matado Arbery, que estava desarmado, por o terem confundido com um ladrão.

O caso voltou, no entanto, aos tribunais, onde um júri deverá agora determinar se os três homens são também culpados de crime de ódio. O painel composto por oito pessoas brancas, três pessoas negras e uma pessoa hispânica recebeu o caso na segunda-feira após um julgamento de uma semana no Tribunal Distrital dos EUA na cidade de Brunswick, na Geórgia. Embora a Constituição dos Estados Unidos proíba julgar a mesma pessoa duas vezes pelo mesmo crime, o Supremo Tribunal autoriza desde 1847 processos distintos pela justiça federal e a do Estado, por se tratar “de entidades soberanas” diferentes.

Os procuradores defendem que Gregory e Travis McMichael e William Bryan violaram os direitos civis de Arbery e o atacaram porque ele era negro. Durante o julgamento, os procuradores argumentaram que o homicídio de Arbery foi motivado por “raiva racial reprimida”, comprovada através de mensagens de texto e publicações racistas nas redes sociais dos réus, bem como por testemunhas que atestam terem sido vítimas de discursos racistas e insultos por parte dos três homens.

“Todos os três réus disseram alto e bom som, com as suas próprias palavras, como se sentem em relação aos afro-americanos”, disse a procuradora Tara Lyons ao júri na segunda-feira.

Agentes do FBI encontraram dezenas de mensagens de texto e publicações racistas nas redes sociais de Travis, Gregory e William no período que antecedeu o crime. Em 2018, por exemplo, Travis McMichael comentou um vídeo no Facebook de um homem negro a pregar uma partida a um homem branco, escrevendo: “Eu mataria esse filho da p*** preto”.

Uma mulher que serviu na Guarda Costeira dos EUA, sob a chefia de Travis McMichael, há uma década, também declarou que o réu a chamou de “amante de pretos” depois de saber que ela tinha namorado com um homem negro.

Os advogados de defesa insistiram que os comentários racistas anteriores ao crime não constituem prova de que os réus violaram os direitos civis de Arbery, nem de que o visaram porque ele é negro, e pediram ao júri que deixasse as emoções de lado.

“É natural que queiram retaliação ou vingança. Mas temos de ser superiores, mesmo que seja a coisa mais difícil”, disse Pete Theodocion, advogado de William Bryan.

A advogada de Travis McMichael, Amy Lee Copeland, disse ao júri que os procuradores não apresentaram provas de que o seu cliente “alguma vez falou com alguém sobre a morte de Arbery em termos raciais”. A advogada argumentou que Travis disparou em legítima defesa depois de Arbery ter tentado tirar-lhe a sua espingarda.

Por sua vez, o advogado de Gregory McMichael, A.J. Balbo, argumentou que o seu cliente perseguiu Arbery não porque era um homem negro, mas porque era “o ladrão” que ele e o seu filho alegam ter visto nas gravações de câmaras de segurança de uma casa próxima.

A morte de Arbery, a 23 de fevereiro de 2020, foi capturada num vídeo que provocou uma onda de indignação nas redes sociais. As imagens mostram Arbery a correr numa estrada nos arredores de Brunswick, na Geórgia, e a ser alvejado por Travis e Gregory que seguiam numa carrinha branca. Bryan juntou-se aos seus vizinhos na sua própria carrinha e gravou o vídeo onde se vê Travis McMichael a disparar contra Arbery.

Gregory alega que a vítima começou a “atacar violentamente” o seu filho e obrigou Travis a disparar a espingarda. No entanto, no vídeo são ouvidos três disparos e o primeiro acontece momentos antes de o jovem negro, visivelmente desarmado, começar a tentar retirar a arma ao agressor.

No ano do crime, 2020, o nome de Ahmaud Arbery ressoou pelos Estados Unidos nas enormes manifestações contra a violência sobre os negros, juntamente com os de George Floyd, sufocado por um polícia branco em Minneapolis, e de Breonna Taylor, morta a tiro pela polícia no seu apartamento em Louisville.

c/agências
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