EUA terminam duas décadas de presença militar no Afeganistão

por Andreia Martins - RTP
Em Cabul, os talibã festejaram a retirada do último avião militar norte-americano com disparos aéreos. EPA

O Pentágono anunciou que o último avião C17 norte-americano descolou do aeroporto de Cabul às primeiras horas de terça-feira (20h29 de segunda-feira em Lisboa). Termina assim a guerra mais longa da história dos Estados Unidos, ficando o país asiático nas mãos dos talibã ao fim de duas décadas de presença militar estrangeira. No Afeganistão, ficaram cerca de duas centenas de norte-americanos que o Pentágono admitiu não ter conseguido retirar a tempo.

Vinte anos, uma fatura no valor de mais de dois biliões de dólares, mais de 170 mil mortos - mais de 40 mil civis - e com os talibã a celebrarem o regresso ao poder. Termina assim a mais longa das guerras dos Estados Unidos, iniciada logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Na altura, Washington derrubou o regime talibã em dezembro de 2001, depois de este se ter recusado em entregar Osama bin Laden, então líder da al-Qaeda. 

Tal como previsto desde fevereiro de 2020, aquando da negociação da retirada de forças internacionais, chega ao fim a intervenção norte-americana no país, quase duas décadas depois da invasão do país e dez anos após a morte de Bin Laden.

31 de agosto foi o dia da retirada dos derradeiros aviões militares norte-americanos, o último dos quais transportou o Embaixador no Afeganistão, Ross Wilson, e o general Chris Donahue.


“Começou um novo capítulo do envolvimento da América com o Afeganistão. Vamos liderar com a nossa diplomacia. A missão militar terminou”, anunciou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.

Na capital do Afeganistão, os talibã celebraram o momento com tiros e aplausos de vários pontos de controlo e combatentes, adiantam as agências internacionais presentes no território.

“Os últimos soldados americanos saíram do aeroporto de Cabul e nosso país conseguiu a independência total”, disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do talibã, através do Twitter.

O último dia de retirada de tropas norte-americanas é também o culminar de uma operação de evacuação em massa, que se iniciou a 14 de agosto, depois dos talibã terem assumido o controlo do país e da capital, tendo depondo o Presidente Ashraf Ghani, que fugiu para o exílio a 15 de agosto. 

Na segunda-feira, o general Kenneth McKenzie, líder do comando central dos EUA, adiantou que foram retirados mais de 123 mil civis nestas últimas duas semanas, ou seja, mais de 7.500 civis por dia, após o regresso dos talibã ao poder na capital afegã.

Em 17 dias, estas operações de evacuação ficaram marcadas pelo desespero e confusão no aeroporto internacional de Cabul, com milhares de afegãos e estrangeiros a afluírem ao local na tentativa de escaparem a tempo do país.
Um ataque do grupo terrorista ISIS-K, na última quinta-feira, fez mais de 200 mortos junto a uma das entradas do aeroporto.

Este atentado e outras tentativas de ataque levaram a atrasos na retirada de civis com autorização para viajar, pelo que muitos não conseguiram sair a tempo da retirada norte-americana.

“Não podíamos retirar todos que queríamos retirar”, afirmou o general Kenneth McKenzie, líder do comando central dos EUA, adiantando que a retirada de afegãos e estrangeiros civis foi concluída “cerca de 12 horas” antes da retirada dos últimos militares.

Segundo o general, as forças norte-americanas estiveram disponíveis para retirar qualquer pessoa que alcançasse o aeroporto “até ao último minuto”.

Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, adiantou que “menos de 200 norte-americanos” que pretendem abandonar o Afeganistão ficaram no país, garantindo que continuam os esforços para os tentar retirar nos próximos dias.

A Casa Branca confirmou entretanto que o Presidente Joe Biden vai falar ao país esta terça-feira ao início da tarde (18h30 em Lisboa).

(com agências)
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