Os Estados Unidos anunciaram o alargamento das suas operações de proteção marítima no Médio Oriente em aliança com Estados árabes da região e vários países europeus.
A decisão foi tomada após a vaga de ataques recentes a navios mercantes no Mar Vermelho, lançados a partir de portos do Iémen pelos rebeldes Houthi, apoiados pelo Irão.
O anúncio foi feito pelo secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin, em visita ao Bahrein, onde está estacionada a quinta Frota Naval dos EUA.
Os países participantes na nova força incluem o Reino Unido, o Bahrain, o Canadá, a França, a Itália, os Países Baixos, a Noruega, as ilhas Seychelles e a Espanha. Lloyd afirmou que irão efetuar patrulhas conjuntas no sul do Mar Vermelho e no Golfo de Aden.
"Este é um desafio internacional que pede ação coletiva, Por isso, hoje estou a anunciar o estabelecimento da Operação Guardiã da Prosperidade, uma importante iniciativa multinacional na área da segurança". afirmou Austin.
"Estamos a tomar medidas para organizar uma coligação internacional de resposta a esta ameaça", dissera antes o secretário da Defesa dos EUA esta segunda-feira, em Israel. "Estamos a fazer tudo o que podemos para garantir a liberdade de navegação na área".
À semelhança da Força de Trabalho 153, que já opera naquele país, a nova força de proteção destina-se a dar confiança aos armadores comerciais de que os ataques dos Houthi serão dominados e que a rota do Mar Vermelho se mantém segura.
Os Estados Unidos esperam poder reforçar uma força tarefa já existente que patrulha a rota do Mar Vermelho, incluída numa aliança marítima voluntária de 39 países.
"O que estamos a tentar fazer é fortalece-la, reforçá-la, e operacionalizá-la de uma forma que não tinha sido realizada antes destes ataques Houthi", afirmou o porta-voz da Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, esta segunda-feira.
"Podem vir a proteger navios de ataques com mísseis ou drones, ou evitar que o navio seja desviado. Ou podem escolher escoltar navios. Uma alternativa que requer utilização intensiva de recursos", adiantou Mick Mulroy, um antigo especialista norte-americano em Defesa, ao Financial Times.
Os Estados Unidos ainda não afastaram a possibilidade de atacar alvos Houthi se as operações dos rebeldes iemenitas prosseguirem. O país irá tomar “a ação apropriada, num tempo e lugar da nossa escolha” afirmou um responsável norte-americano no início do mês.
Os ataques sucedem quando os navios navegam no estreito de Bad el-Mendeb na ponta sul do Mar Vermelho, quando se encontram ao alcance dos Houthi.
Desde o início da guerra, em outubro, as ações militares dos iemenitas contra o comércio mundial têm aumentado, com mais de 11 ataques registados só desde meados de novembro.
No domingo, os Estados Unidos afirmaram que um dos seus vasos de guerra, o USS Carney, tinha abatido 14 drones lançados pelo grupo rebelde, apontando o dedo ao Irão.
Empresas marítimas evitam a área
Ao reivindicarem os seus ataques, os Houthi afirmam estar a atingir empresas, empresários e transportes israelitas, ou produtos destinados a Israel, em protesto contra a guerra de Israel contra o Hamas, em Gaza.
Cinco grandes empresas de navegação comercial abandonaram até agora o percurso, depois dos ataques dos iemenitas.
Devido à "deterioração" da segurança, a gigante petrolífera BP anunciou esta segunda-feira uma pausa no tráfego dos seus petroleiros no Mar Vermelho, enquanto "monitoriza" a situação.
A companhia francesa de fretes marítimos CMA CGM afirmou também que vai desviar alguns dos seus navios para a rota do Cabo da Boa Esperança e que outros foram instruídos para parar a sua viagem em "lugar seguro".
Passam nesta rota mais de nove MM de barris de petróleo por dia, quase um décimo da procura mundial.
Trafigura, um dos maiores comerciantes de bens primários, afirmou na semana passada que estava a "tomar precauções adicionais" para os seus navios, tanto seus como alugados.
O grupo CMA CGM, baseado em Marselha, anunciou por seu lado no seu site esta segunda-feira que todos os seus "navios porta-contentores com passagem prevista pelo Mar Vermelho foram já instruídos para se dirigirem para uma área segura e parar a viagem até nova ordem".
Várias outras empresas de navegação, incluindo a MSC, a Hapag-Lloyd e a Maersk, pausaram igualmente os percursos pelo Mar Vermelho por riscos de segurança.
A BP, uma das maiores empresas de exploração petrolífera do Iraque e de gás em Omã, justificou a decisão de desviar o seu tráfego marítimo com a "deterioração da situação securitária", acrescentando que irá manter a sua "pausa preventiva sob revisão constante" enquanto monitoriza a região.
A notícia fez aumentar o preço do crude esta segunda-feira, com o índice Brent a negociar a quase 79 dólares o barril, uma subida de 2.6 por cento.
Os retalhistas estão também nervosos com as ameaças ao fornecimentos de gás liquefeito do Qatar à Europa nos meses de Inverno.