EUA. Laboratório suspende acesso a medicamento experimental para a Covid-19

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Stephen Lam - Reuters

A empresa Gilead Sciences anunciou que irá suspender temporariamente o acesso individual ao Remdesivir - o medicamento que tem sido testado para tratar doentes infetados com o novo coronavírus - devido a uma "procura esmagadora" do medicamento. De acordo com a farmacêutica, a inscrição em testes clínicos é agora a principal maneira de aceder ao fármaco, permitindo assim serem recolhidos dados que ajudem a perceber qual a segurança e eficácia do medicamento no tratamento da Covid-19.

À medida que o SARS-CoV2 se disseminou para a Europa e Estados Unidos, a farmacêutica Gilead Sciences descreve que os pedidos de Remdesivir “sobrecarregaram o sistema de acesso ao tratamento que foi criado para um acesso muito limitado a medicamentos sob investigação e nunca destinado a ser usado em resposta a uma pandemia”.

“Devido à grande procura nos últimos dias, durante este período de transição, não podemos aceitar novas solicitações para uso individual”, anunciou a Gilead Sciences no passado domingo através de um comunicado, ressalvando que seriam abertas exceções para grávidas e menores de 18 anos que tenham testado positivo para o novo coronavírus.

A farmacêutica anunciou, por isso, que irá mudar o sistema de pedidos pessoais do medicamento para um “programa de acesso alargado”. Segundo a Gilead Sciences, “a inscrição em testes clínicos é a principal maneira de aceder ao Remdesivir” de forma a se perceber se o fármaco é realmente seguro e eficaz no tratamento da Covid-19.

“Esta abordagem acelerará o acesso ao Remdesivir a doentes graves e permitirá a recolha de dados por parte dos pacientes que participam nos testes”, sublinha a empresa.

Uma porta-voz da Gilead Sciences disse que a empresa espera que a transição para este novo programa não resulte em atrasos no fornecimento do medicamento, em comparação com o tempo que os pacientes já aguardavam pelo fármaco no sistema de pedidos individuais, agora suspenso pela farmacêutica.

Enquanto a farmacêutica defende que esta é a forma de ajudar o maior número possível de infetados, alguns argumentam que esta suspensão temporária do medicamento está a colocar em risco os pacientes que não têm muitas opções de escolha.

“Não ouvimos nada. Não sabemos de nada”, disse Genny Allard, mãe de Jarck Allard, de 25 anos, infetado pelo novo coronavírus que se encontra em coma induzido num hospital em New Jersey, nos Estados Unidos. “Neste momento estou irritada. Tenho um filho doente e o médico quer dar-lhe o medicamento que é suposto ajudar”, disse ainda Genny Allard, citada por The New York Times.
Eficácia de Remdesivir poderá ser conhecida em Abril
Até ao momento não existe nenhuma vacina ou tratamento conhecido para a Covid-19, apesar de estarem a ser desenvolvidos vários testes.

O fármaco Remdesivir – administrado a pacientes na China, Japão, Europa e EUA - é um dos que está a ser estudado como um potencial tratamento para o novo coronavírus, com seis ensaios clínicos em marcha em todo o mundo, incluindo um amplo teste levado a cabo pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Ainda não existem resultados, mas de acordo com o chefe executivo da Gilead Sciences, no final de abril já poderão ser conhecidos os resultados dos testes que estão a ser desenvolvidos na China e “deveremos ter uma ideia preliminar da segurança e eficácia deste medicamento contra o novo coronavírus”.

A grande procura por este medicamento está também relacionada com a “publicidade” de que tem sido alvo, desde a OMS a Donald Trump.

Depois de ter demonstrado eficácia no tratamento do primeiro doente pela Covid-19 nos EUA, o médico que liderou a equipa da Organização Mundial de Saúde enviada à China, Bruce Aylward, disse que o Remdesivir era o único “medicamento que acreditamos ter eficácia real neste momento”.

Ao longo da última semana, também Donald Trump se referiu a Remdesivir e a outros medicamentos como soluções para o tratamento da Covid-19, apesar de ainda não existirem evidências científicas. Por esta razão, Donald Trump tem sido alvo de várias críticas, nomeadamente de que está a instalar falsas esperanças nos norte-americanos.
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