Um fuga de informação trouxe a público memorandos do embaixador britânico em Washington rotulando o presidente norte-americano como "inepto" e "excepcionalmente disfuncional", e descrevendo o seu comportamento face ao Irão como "incoerente" e "caótico".
A fuga de informação inclui comentários de 22 junho, em que o embaixador Kim Darroch põe em dúvida a explicação de Trump, segundo a qual teria cancelado no último instante um bombardeamento do Irão para poupar as vidas de 150 iranianos. Essa explicação, diz o embaixador, "não se aguenta".
E acrescenta a sua própria explicação: “É mais provável que ele nunca tenha estado inteiramente decidido e que estivesse preocupado com o que esta aparente inversão das suas promessas de campanha de 2016 iria parecer em 2020".
Os documentos foram revelados pela Mail on Sunday e citam o embaixador Kim Darroch a profetizar que a presidência de Trump acabará em "estrondo e chamas" ou, por outras palavras, "em vergonha".
Aí terá escrito Darroch também: "Não acreditamos realmente que esta Administração vá tornar-se substancialmente mais normal, menos disfuncional, menos imprevisível, menos facciosa, menos desastrada na diplomacia e inepta".
Ainda segundo o Mail on Sunday, os comentários mais mordazes de Darroch são os que classificam o presidente norte-americano como "inseguro" e "incompetente".
Por ocasião da visita de Trump ao Reino Unido, diz o embaixador que o inquilino da Casa Branca ficou "deslumbrado", mas logo acrescenta que esse entusiasmo poderá durar-lhe pouco, porque "este ainda é o país de a América primeiro".
Fazendo-se eco de análises devastadoras como a de Michael Wollf ou a de Bob Woodward, o embaixador descreve a Casa Branca como o palco de "cruéis lutas e intestinas e caos" e afirma que aquelas análises desmentidas por Trump são "na maioria verdadeiras".
Darroch, considerado um dos mais experientes diplomatas do Foreign Office, já se encontrava no seu posto quando Trump foi eleito.
O Foreign Office, por seu lado, não contestou a autenticidade dos comentários. lembrou que as opiniões dos embaixadores não coincidem necessariamente com as do ministro dos Negócios Estrangeiros e comentou, através de uma porta-voz citada no diário The Guardian: "Nós pagamos-lhes [aos embaixadores] para serem francos".
Resta saber como reagirá a tanta franqueza o muito susceptível inquilino da Casa Branca. A porta-voz britânica emitiu a expectativa de que a reacção seja temperada pela importância das relações privilegiadas entre os dois países: "A nossa equipa em Washington tem relações fortes com a Casa Branca e elas resistirão sem dúvida a este comportamento irreverente".
Outra opinião tem Nigel Farrage, o líder da extrema-direita britânica e conhecido admirador de Trump, que logo se apressou a reclamar a substituição do embaixador britânico em Washington, antes ainda de o Departamento de Estado norte-americano ter dado algum sinal de desagrado pelos comentários vindos a público.