EUA dizem que uso de armas por Israel pode ter violado o direito internacional

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Amir Cohen - Reuters

Um relatório dos Estados Unidos concluiu que Israel poderá ter utilizado armas fornecidas pelos EUA em Gaza em violação do direito internacional humanitário. O relatório surge numa altura de crescente tensão entre os EUA e Israel. Telavive contrariou Washington e expandiu a operação militar em Rafah, ordenando os residentes de áreas mais a leste a abandonarem a região.

O relatório, elaborado pelo Departamento de Estado dos EUA, afirma que estão em curso investigações sobre potenciais violações do direito internacional por parte de Israel, mas observa que os EUA “não têm informações completas para verificar” se as armas dos EUA “foram especificamente utilizadas” em alegadas violações do direito humanitário.

“Dada a natureza do conflito em Gaza, com o Hamas a tentar esconder-se atrás das populações e infraestruturas civis e expô-las à ação militar israelita, bem como a falta de pessoal do Governo dos EUA no terreno em Gaza, é difícil avaliar ou chegar a conclusões conclusivas sobre incidentes em concreto”, explica o relatório.

“No entanto, dada a dependência significativa de Israel em artigos de defesa fabricados nos EUA, é razoável avaliar que os artigos de defesa abrangidos pelo NSM-20 têm sido utilizados pelas forças de segurança israelitas desde 7 de outubro em casos inconsistentes com as suas obrigações ao abrigo do direito humanitário internacional ou com as melhores práticas estabelecidas para mitigar danos civis”, ressalva o relatório.

O documento acrescenta que "Israel tem o conhecimento, a experiência e as ferramentas para implementar as melhores práticas para mitigar os danos civis nas suas operações militares", mas "os resultados no terreno, incluindo elevados níveis de vítimas civis, levantam questões substanciais sobre se as FDI [Forças de Defesa de Israel] estão a utilizá-las eficazmente em todos os casos".

O relatório, o primeiro deste género, foi exigido pela Casa Branca e entregue no Congresso esta sexta-feira. Foi a primeira vez que o governo dos EUA avaliou a conduta de Israel nos sete meses de guerra com o Hamas em Gaza, que fez já mais de 35 mil mortos do lado palestiniano.
Israel contraria EUA e expande operação militar em Rafah
Embora não afirme em concreto que Israel violou o direito internacional, o relatório da Administração Biden critica fortemente a campanha militar israelita na Faixa de Gaza.

As relações entre Washington e Telavive têm-se deteriorado ao longo do conflito em Gaza, iniciado a 7 de outubro.

As tensões aumentaram recentemente depois de os EUA terem ameaçado, esta semana, interromper o fornecimento de armas a Israel se a ofensiva em larga escala em Rafah avançar.

Israel contrariou os EUA e anunciou, na sexta-feira, que a operação em Rafah não só vai continuar, como vai ser expandida.

Este sábado, Israel ordenou aos residentes de áreas mais a leste de Rafah a abandonarem a região e sigam para a “área humanitária expandida” em Al-Mawasi.


O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, rejeitou a pressão dos EUA para adiar um ataque a Rafah, afirmando que se for preciso, os militares israelitas “lutarão com as unhas”.

c/agências
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