EUA dão 72 horas ao embaixador da África do Sul para abandonar o país

por Graça Andrade Ramos - RTP
Ebrahim Rasool, embaixador da África do Sul em Washington, foi expulso dos EUA a 14 de março de 2025 AFP

Ebrahim Rassol, embaixador sul-africano em Washington, foi declarado persona non grata na sexta-feira. Num breve comunicado enviado à AFP, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros sul-africano, Chrispin Phiri, indicou que "o Departamento de Estado informou-o ontem que ele tinha 72 horas para deixar o país", confirmando relatos dos media sul-africanos.

A decisão de expulsar o embaixador foi anunciada na rede social X, numa publicação do secretario de Estado Marco Rubio, que acusou sexta-feira Ebrahim Rasool de ser um "político racista que odeia a América" e o presidente dos EUA, Donald Trump.

"O embaixador da África do Sul nos Estados Unidos deixou de ser bem-vindo em nosso grande país", disse Rubio na sexta-feira no X, sobre a rara expulsão do principal diplomata de um país. "Ebrahim Rasool é um político que incita racismo que odeia a América e odeia @Potus (Trump)", acusou.

Reação à intervenção de Ebrahim Rasool num webinar, sexta-feira, quando descreveu Donald Trump como "mobilizador da supremacia contra os poderes constituídos".

Rubio republicou um artigo do site de direita Breitbart que citava o diplomata dizendo que Trump liderava um movimento de supremacia branca.

Rasool apresentou as suas credenciais ao então presidente Joe Biden, a 13 de janeiro, uma semana antes de Trump assumir o cargo, para uma segunda temporada em Washington.

Despois disso, não conseguiu garantir reuniões de rotina com autoridades do Departamento de Estado e figuras-chave do Partido Republicano.

"O Embaixador Rasool estava prestes a reunir-se com responsáveis ​​ estratégicos na Casa Branca. Este desenvolvimento lamentável frustrou progressos significativos", lamentou Chrispin Phiri. Nova política com Pretória
O embaixador tem de deixar os EUA até 21 de março
, disse um porta-voz do Departamento de Estado este sábado, acrescentando que a política norte-americana para a África do Sul está a ser revista. O porta-voz referiu a política de terras, os laços crescentes da África do Sul com países como a Rússia e o Irão e "posições agressivas" em relação aos EUA e aliados, como razões da mudança.


Após o seu regresso ao poder, Donald Trump cortou ajuda via decreto e acusou Pretória de tratar os descendentes dos colonos europeus de uma forma "injusta".

Atacou ainda a queixa sul africana de genocídio contra Israel, perante o Tribunal Internacional de Justiça.

A mudança está a refletir-se diretamente no acordo comercial AGOA, que permite que certas mercadorias sejam exportadas isentas de impostos para os Estados Unidos.
Reações na África do Sul
A presidência sul-africana considerou "lamentável" a expulsão de Rasool mas temperou a reação e afirmou-se comprometida no desenvolvimento de relações mutuamente benéficas. A expulsão do embaixador será resolvida através de canais diplomáticos.

Já o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ronald Lamola, descreveu-a como "sem precedentes". "No âmbito das relações diplomáticas normais, deveria ter sido dado um passo com o embaixador para que pudesse explicar os seus comentários", disse o chefe da diplomacia sul-africana.

O partido de esquerda radical EFF, que ficou em quarto lugar nas eleições do ano passado com pouco menos de 10 por cento dos votos, acusou por seu lado Donald Trump num comunicado no sábado de ser o "grande mago de uma Ku Klux Klan global".

"O relacionamento entre EUA e a África do Sul está no seu ponto mais baixo", disse Patrick Gaspard, ex-embaixador dos EUA na África do Sul. "Há muito em jogo para não se trabalhar de forma a reparar a relação."
Refugiados sul-africanos
Parte das críticas de Trump referem-se a um projeto de lei sancionado em janeiro pelo presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, de facilitar ao estado a desapropriação de terras no interesse público, em alguns casos sem compensar o proprietário.

Ramaphosa defende a política como uma forma de nivelar as disparidades raciais na propriedade, na nação de maioria negra, e disse que o governo não confiscou nenhuma terra.

Trump já afirmou que "a África do Sul está a confiscar terras" e que "certas classes de pessoas" estão a ser "muito mal" tratadas.O bilionário sul-africano Elon Musk, que é próximo de Trump, disse que os sul-africanos brancos têm sido vítimas de "leis racistas de propriedade".

Numa altura em que combate os imigrantes ilegais que procuram instalar-se nos EUA, Trump ofereceu auxílio para realojar fazendeiros sul-africanos brancos e suas famílias, como refugiados. 

O Departamento de Estado está a coordenar a decisão com o Departamento de Segurança Interna e já começou a implementar o plano, disse o porta-voz do Departamento de Estado, acrescentando que as entrevistas iniciais estavam em andamento.
PUB