O Governo dos Estados Unidos disse que o exílio do candidato presidencial venezuelano Edmundo González Urrutia em Espanha é uma consequência das "medidas antidemocráticas" do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
O secretário de Estado norte-americano considerou que a situação "é o resultado direto das medidas antidemocráticas que Nicolás Maduro desencadeou desde as eleições contra o povo venezuelano, incluindo contra González Urrutia e outros líderes da oposição", de acordo com um comunicado divulgado no domingo à noite.
Antony Blinken garantiu que González continua a ser "uma voz indiscutível pela paz e pela mudança democrática na Venezuela", e que os Estados Unidos o apoiam para continuar "a luta pela liberdade e pela restauração da democracia".
"Os Estados Unidos condenam veementemente a decisão de Maduro de usar a repressão e a intimidação para se agarrar ao poder através da força bruta, em vez de reconhecer a derrota nas urnas", lamentou o chefe da diplomacia norte-americana.
"Nas últimas seis semanas, Maduro prendeu injustamente quase dois mil venezuelanos, usou a censura e a intimidação para se manter no poder", acusou.
Na rede social X (antigo Twitter), Blinken sublinhou que "os venezuelanos votaram para a mudança", mas que "a repressão pós-eleitoral de Maduro matou ou prendeu milhares de pessoas".
González "continua a ser a melhor esperança para a democracia. Não devemos deixar Maduro e os seus representantes agarrarem-se ao poder à força. A vontade do povo deve ser respeitada", acrescentou.
Também no domingo, o alto representante da UE para os Assuntos Externos, Josep Borrell, disse que o exílio de González, devido à "repressão, perseguição política e ameaças diretas contra a sua segurança e liberdade", era "um dia triste para a democracia".
O avião da Força Aérea Espanhola que transportou González aterrou por volta das 16:00 (15:00 em Lisboa), na Base Aérea de Torrejón de Ardoz, em Madrid, onde o Governo espanhol concederá asilo político.
A vice-Presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse que "após os contactos pertinentes entre ambos os governos, cumpridas as diligências necessárias e em conformidade com o Direito internacional, a Venezuela concedeu os salvo-condutos necessários, no interesse da paz e da tranquilidade política do país".
O Governo espanhol rejeitou as declarações de Rodríguez e insistiu que o asilo e a transferência para Madrid foram solicitados pessoalmente por González.
"Não houve qualquer tipo de negociação política entre o Governo de Espanha e o Governo da Venezuela (...). O Governo de Espanha não dá qualquer contrapartida pela saída de Edmundo González", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, à televisão pública espanhola TVE.
González esteve durante mais de um mês, até quinta-feira, na Embaixada dos Países Baixos em Caracas, de onde foi transferido para a de Espanha, onde permaneceu até sábado, altura em que deixou a Venezuela.
No domingo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela acusou os Países Baixos de terem ocultado a entrada de González na representação diplomática.
Yván Gil garantiu que os Países Baixos "deram o estatuto de convidado" ao opositor, o que "é irregular", uma vez que o Governo venezuelano não foi informado, de acordo com um vídeo publicado na plataforma de mensagens Telegram.
"Vamos enviar uma nota de protesto ao Governo dos Países Baixos porque devíamos ter sido informados, de acordo com os protocolos internacionais", acrescentou.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória, nas presidencias de julho, a Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirmou que Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de cerca de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.