EUA. Como a Polícia falhou em impedir a invasão do Capitólio

por RTP
Reuters

Depois de, na quarta-feira, apoiantes de Donald Trump terem invadido o Capitólio e provocado o caos, enquanto os membros do congresso reuniam para formalizar a vitória de Joe Biden, começam a ser ponderadas hipóteses que sugerem a falta de preparação das forças de segurança e um certo contraste na atuação perante os manifestantes pró-Trump e as manifestações pacíficas do verão.

Donald Trump continua a negar a derrota e, depois de várias vezes ter insistido na teoria da fraude eleitoral, centenas, se não milhares, dos seus apoiantes decidiram invadir o Capitólio, numa quase tentativa de golpe de Estado para evitar a ratificação de Joe Biden como presidente eleito. As imagens e os relatos que chegavam a todas as partes do mundo mostravam manifestantes a quebrar as barreiras junto ao edifício e a espalharem o caos por onde passavam.

Durante esta invasão, pelo menos quatro pessoas morreram, 14 polícias ficaram feridos - dois deles em estado grave - e foram efetuadas mais de meia centena de detenções, de acordo com a polícia local.

O cerco ao Capitólio, que abriga o Senado e a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, representa uma das maiores falhas de segurança da história recente do país, na opinião dos analistas, transformando um dos símbolos mais emblemáticos do poder norte-americano num local de violência política.

A verdade é que eventos solenes, como a Tomada de Posse do presidente, envolvem planos minuciosos de segurança. Mas, de acordo com a Aljazeera, não havia tanta preocupação nem planos de segurança tão elaborados para a sessão de ratificação de votos da eleição de Joe Biden, na quarta-feira.

Quando os manifestantes pró-Trump começaram a juntar-se e a cercar o edifício, a Polícia do Capitólio, era apenas constituída por cerca de dois mil agentes responsáveis pela segurança do Congresso e dos 51 hectares de área do Capitólio. Quando os manifestantes quebraram as barreiras, conseguiram passar pelas forças de segurança e invadir o edifício, a Polícia do Capitólio não foi capaz de impedir, sozinha, o caos que se instalou.

O maior problema foi terem passado horas até que chegassem mais forças de segurança do Governo federal, enquanto os apoiantes de Trump tomavam a sede do Congresso. Depois da invasão, a polícia recolheu os congressistas para um refúgio de segurança subterrâneo, enquanto salas e escritórios eram vandalizados.

A Polícia do Congresso acabou por ser reforçada por unidades de intervenção do FBI e da Polícia Metropolitana, procedendo a detenções e expulsando os manifestantes, que continuaram a manifestar-se no exterior.
Manifestantes pró-Trump vs manifestações pacíficas

A sessão de ratificação dos votos eleitorais pelo Congresso, normalmente uma formalidade, foi precedida por ameaças nas redes sociais, nas últimas semanas. Havia rumores de que estavam planeados protestos de apoiantes de Donald Trump e que podia haver violência.

Apesar dos rumores, a Polícia do Capitólio não solicitou ajuda antecipadamente para proteger o edifício, segundo o Departamento de Segurança Interna. Além disso, os reforços da Guarda Nacional, convocados pela presidente da Câmara de Washington, Muriel Bowser, só foram mobilizados mais de uma hora depois de os manifestantes quebrarem as barreiras.

Comparativamente ao que se assistiu, por exemplo, nos protestos contra o uso de força dos polícias, ou nos protestos pacíficos em memória do afro-americano George Floyd, as froças de segurança não atuaram da mesma maneira.

As várias agências de segurança foram convocadas pela Administração Trump durante os protestos pacíficos do verão passado em Washington e noutras zonas do país, o que não aconteceu durante a invasão ao Capitólio na quarta-feira.

A multidão de manifestantes do Black Lives Matter, que se manifestava fora da Casa Branca a 1 de junho, estava a um quarteirão de distância do edifício e não tentou violar a segurança. Como recorda o Guardian, era uma multidão predominantemente negra, e foi atacada pela polícia de Washington, a polícia do US Park, mais de cinco mil soldados da Guarda Nacional e ainda de algumas agências federais como o Bureau of Prisons.

Na altura, um helicóptero do exército sobrevoou também sos manifestantes e foram usados gás lacrimogéneo, cassetetes e cavalos para expulsá-los.

Agora durante a invasão ao Capitólio, um polícia afro-americano chegou até a ser perseguido por manifestantes pró-Trump, de quem tentou fugir dentro do edifício.



Comparando este acontecimento à invasão ao Capitólio, de onde resultaram pelo menos quatro mortes e em que as forças de segurança demoraram a atuar, vê-se uma clara diferença. Em junho era Donald Trump quem convocava a polícia e as forças de segurança, mas na quarta-feira terá evitado, segundo os analistas, reforçar a segurança contra os seus apoiantes.

O New York Times noticiou mesmo que o ainda presidente resistiu a chamar a Guarda Nacional, enquanto o Congresso era vandalizado.

A verdade é que a Polícia do Capitólio está preparada para manter os manifestantes longe dos degraus exteriores do Capitólio, para proteger o complexo circundante. Mas são muitas as portas e janelas no edifíco, pelo que pode tornar-se difícil protegê-las todas, segundo disse a Aljazeera Terrance Gainer, que serviu como chefe da Polícia do Capitólio e mais tarde como sargento de Armas do Senado dos EUA.

"Tenho grande confiança nos homens e mulheres que protegem o Congresso, mas é necessário que se averigue. Temos de aprofundar para perceber o que falhou", disse Gainer.

Embora a invasão do Capitólio pela multidão tenha sido um acontecimento sem precedentes, havia muitos sinais de alerta nos dias que antecederam o protesto. Muitos apoiantes de Trump que viajaram para a capital partilharam planos e organizaram-se em redes sociais, como o Parler, um serviço semelhante ao Twitter que atraiu principalmente grupos de extrema-direita.

Entretanto, o Departamento de Defesa dos EUA ativou formalmente cerca de 6.200 membros da Guarda Nacional para apoiar a polícia do Capitólio e outras forças de segurança, após a invasão do Congresso, na quarta-feira.

O secretário interino de Defesa, Christopher Miller, assinou ordens ativando a Guarda Nacional de seis Estados - Virgínia, Pensilvânia, Nova York, New Jersey, Delaware e Maryland - por períodos de até 30 dias, com o objetivo de auxiliar na proteção do Capitólio e da área circundante até e durante a cerimónia de tomada de posse do presidente eleito, Joe Biden, em 20 de janeiro.
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