EUA. Cerca de 33 mil trabalhadores da Boeing em greve

por RTP
Milhares de trabalhadores "rejeitam" o contrato proposto pela Boeing e votam pela "greve" David Ryder - Reuters

Cerca de 33 mil trabalhadores da produtora de aviões da Boeing começaram uma greve nesta sexta-feira após rejeitarem por maioria esmagadora uma proposta de contrato de trabalho.

Dezasseis anos depois da greve que parou a produção de aviões na Boeing durante 52 dias, cerca de 33 mil trabalhadores voltam a paralisar colocando em causa o fabrico das aeronaves.

Em Seattle, pouco depois da meia-noite local (8h00 em Lisboa), muitos trabalhadores em greve começaram a reunir-se do lado de fora das entradas das fábricas da Boeing. Transportavam cartazes que dizem: "Em greve contra a Boeing". Em redor passavam carros que buzinavam demosntrando apoio.

“Estou disposto a fazer greve por dois meses ou até mais. Paramos durante o tempo que for preciso para conseguir o que merecemos”, declarou James Mann, um jovem de 26 anos que trabalha numa divisão de produção de asas na Boeing.
A gigante
A empresa norte-americana que produz os aviões comerciais Boeing tem um total de 150 mil funcionários nos EUA e a sua contribuição anual para a economia do país estima-se em 79 mil milhões de dólares (71,2 mil milhões de euros). Gera 1,6 milhão de empregos direta e indiretamente.

A gigante da aviação corresponde à empresa dos EUA com maior volume de exportações, por isso uma greve que paralise a empresa passa a ter grande impacto tanto nos negócios da Boeing como na economia norte-americana.
O (des)acordo que desencadeou a greve
Na discussão de um novo contrato de trabalho, o diretor executivo Kelly Ortberg apresentou um aumento salarial de 25 por cento ao longo de quatro anos. Porém, é muito abaixo dos 40 por cento exigidos pelos trabalhadores.

Embora os lideres do sindicato da Associação Internacional de Maquinistas (AIM) terem descrito como “o melhor contrato negociado com a Boeing”, 95% dos membros da plataforma sindical votaram contra o acordo e de seguida a esmagadora maioria de 96 por cento escolheram a greve como forma de luta.

“Isso é sobre lutar pelo nosso futuro”, acentuou Jon Holden, presidente do maior polo da AIM local na Boeing, ao anunciar os resultados da votação. “Voltaremos à mesa das negociações sempre que pudermos para avançar nas questões que os nossos membros entenderem que são importantes”, acrescentou.

“Passamos por um período de 10 anos com salários estagnados”, argumentou Holden. “Tivemos o mesmo cronograma por mais de 30 anos, e os nossos membros merecem um equilíbrio justo entre vida pessoal e profissional”, rematou.

Neste contrato provisório estava também implicito um aumentou da segurança no emprego para os membros do sindicato porque a Boeing tem em vista o fabrico de um novo modelo de avião comercial.

Porém, estes planos ainda não foram anunciados que serão realizados numa fábrica sindicalizada, isto é, a Boeing pode decidir construir o jato numa outra unidade não sindicalizada.
“Dificuldade para compensar 16 anos"
Kelly Ortberg está no cargo há poucas semanas e enfrenta uma batalha entre trabalhadores e gestores ao mesmo tempo que tenta restaurar a confiança na gigante fabricante de aviões.

Ortberg já tinha reconhecido a “dificuldade para compensar 16 anos. É realmente [sobre] o que aconteceu com os nossos membro na liderança da empresa durante quase 20 anos”.

“Sei que a reação ao nosso acordo provisório com o IAM tem sido apaixonada”, escreveu o CEO aos funcionários. “Eu entendo e respeito essa paixão, mas peço que vocês não sacrifiquem a oportunidade de garantir o nosso futuro juntos, por causa das frustrações do passado”. E sublinou: "quero reiniciar o nosso relacionamento" com o sindicato.

Depois do acordo rejeitado a Boeing já reagiu afirmando que “estava ansiosa para retornar à mesa de negociações para chegar a um novo acordo”.

“A mensagem foi clara de que o acordo provisório que alcançamos com a liderança do AIM não era aceitável para os membros”, avançou a empresa em comunicado. “Continuamos comprometidos em redefinir o nosso relacionamento com nossos funcionários e o sindicato”, insistiu.

A greve não deverá ter impacto na circulação de voos nem afetará diretamente os passageiros das companhias aéreas, mas será mais um golpe para a reputação e as finanças da Boeing, num ano marcado por problemas nas operações aéreas, de defesa e espaciais. 

A qualidade e a segurança dos seu aviões passou a ser ainda mais escrutinada quando a porta de um 737 Max, operado pela Alaska Airlines, ter saltado após a descolagem, por faltarem quatro parafusos.

As ações da Boeing perderam mais de 60 por cento do valor nos últimos cinco anos, e mais de 30, desde o incidente da Alaska Air, no início do ano.

A última greve dos trabalhadores da Boeing em 2008 fechou as fábricas durante 52 dias e afetou a empresa em cerca de 90 milhões de euros, por dia.

A S&P Global Ratings alertou que uma greve prolongada pode atrasar a recuperação da fabricante de aviões e prejudicar a classificação geral. Tanto a S&P quanto a Moody's classificam a Boeing um nível acima do status de "lixo".

De acordo com a Reuters, a Casa Branca ainda não reagiu a esta paralização.
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