EUA cancelam visto de Nobel da Paz e antigo presidente Oscar Arias

por Inês Moreira Santos - RTP
Jeffrey Arguedas - EPA

Depois de criticar publicamente Donald Trump, o antigo presidente da Costa Rica Oscar Arias revelou que lhe foi retirado o visto para os Estados Unidos. O também galardoado com o Nobel da Paz denunciou a revogação do documento como um sinal da autocracia norte-americana.

Presidente da Costa Rica por duas vezes – entre 1986 e 1990 e depois num segundo mandato entre 2006 e 2010 -, Arias recebeu o Nobel da Paz em 1987 pelos esforços para pôr fim às guerras civis na América Central.

O ex-chefe de Estado costa-riquenho anunciou que viu o seu visto norte-americano a ser revogado, sem qualquer explicação por parte das autoridades. O cancelamento do documento acontece semanas depois de Arias ter criticado o presidente dos EUA, comparando-o a um imperador romano.

As críticas referiam-se, explicou na altura Arias, à reaproximação com a China durante o período em que Trump foi presidente, de 2006 a 2010. O antigo presidente foi informado por correio eletrónico na terça-feira de que o visto de turista e de negócios lhe tinha sido cancelado.

Em conferência de imprensa, o ex-presidente de 84 anos comunicou não ter ideia do motivo da revogação, tendo apenas recebido um e-mail “conciso” com “algumas linhas” do Governo norte-americano a informar da decisão.Arias considerou que acredita que a decisão não era de Trump, mas do Departamento de Estado dos EUA.


“Estabeleci relações diplomáticas com a China”
, afirmou ainda. “Isso é do conhecimento geral”, acrescentou, em referência à decisão de, em 2007, cortar laços com Taiwan e os reforçar com a China.

Também criticou o atual presidente da Costa Rica que tem laços estreitos com a Administração Trump e que Arias acusa de receber ordens diretamente de Washington.

“Os Estados Unidos são um paradigma de democracia, ou pelo menos eram. Hoje, têm as características da autocracia, o que eu pessoalmente lamento”, disse Arias numa conferência de imprensa no final de terça-feira na capital costa-riquenha, San José.

A Administração Trump tentou enfrentar a influência da China no hemisfério ocidental e acusou vários governos da América Central de se aproximarem do Governo e das empresas chinesas. No entanto, apoiou o atual presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, elogiando a decisão de excluir empresas chinesas de participar do desenvolvimento do 5G no país.

O apoio de Trump a Chaves foi criticado por Arias, que escreveu uma publicação nas redes sociais em fevereiro na qual dizia que "nunca foi fácil para um pequeno país discordar do Governo dos EUA, menos ainda quando o seu presidente se comporta como um imperador romano, dizendo ao resto do mundo o que fazer".


Na mesma publicação acrescentou que durante as suas presidências, “a Costa Rica nunca recebeu ordens de Washington como se fôssemos uma república das bananas".

Arias não é o único costa-riquenho a ter o visto dos EUA revogado. Também três membros da Assembleia Nacional do país que se opuseram ao decreto do presidente Chaves para excluir empresas chinesas de participar do desenvolvimento do 5G viram os documentos cancelados.
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