O Governo dos Estados Unidos exigiu hoje uma imediata redução da tensão entre a Sérvia e o Kosovo e advertiu os dois lados sobre as "consequências" caso não cooperam com a mediação internacional.
"Assistimos lamentavelmente a uma nova escalada, face às anteriores escaladas e que provocam uma difícil situação para toda a região, não apenas para a Sérvia e o Kosovo", disse o subsecretário de Estado norte-americano, Gabriel Escobar, no decurso de uma conferência de imprensa.
Escobar, o enviado especial de Washington e incluído na mediação entre Belgrado e Pristina, pediu aos dois países para acalmarem a situação e advertiu que "um país e um líder não determinarão o curso da estabilidade regional e europeia", e que "quem rejeitar a cooperação com os parceiros terá consequências".
As tensões entre as partes aumentaram esta semana, com a deteção pela Sérvia de três agentes da polícia especial do Kosovo, supostamente em território sérvio, e que Pristina considera um "sequestro".
Em resposta, o Kosovo proibiu a entrada no seu território de veículos de camiões com matrícula sérvia e outros veículos que transportem mercadorias sérvias.
"Deveriam retirar a proibição das mercadorias sérvias e o encerramento da fronteira para alguns tipos de veículos", disse Escobar, ao referir-se a uma "escalada desnecessária que se junta à atual escalada".
Indicou ainda que os EUA acompanham "com atenção" o caso dos polícias detidos, mas aguardam mais informações para estabelecer os factos.
No entanto, indicou "ser evidente que esses polícias não queriam estar na Sérvia, pelo que deveriam ser libertados".
Na Sérvia, a justiça decidiu manter os polícias sob detenção e iniciar uma investigação por suspeita de posse ilegal de armas.
A detenção dos três polícias kosovares ocorre num momento de elevada tensão entre o Kosovo e a Sérvia, após a rejeição de Pristina em cumprir um acordo sobre a formação de uma associação de municípios sérvios e a recusa dos sérvios kosovares em aceitarem responsáveis municipais albaneses nos quatro municípios do norte onde se concentra a minoria sérvia do Kosovo, maioritária nessas regiões.
Os responsáveis municipais foram eleitos em abril passado em eleições boicotadas pelos sérvios, que têm promovido protestos diários frente aos edifícios municipais.
Os distúrbios mais graves, com 80 feridos, incluindo 30 soldados da Kfor, a força da NATO no Kosovo, ocorreram em 28 de maio durante um protesto da população sérvia local.
Escobar considera que os responsáveis municipais albaneses, eleitos por cerca de 3% dos votos expressos, devem exercer os seus cargos noutras instalações, a par da retirada da polícia especial kosovar, e a organização de novas eleições locais com participação das populações sérvias. Hoje também reiterou a necessidade de os agressores os soldados da Kfor serem processados judicialmente.
Belgrado nunca reconheceu a secessão unilateral do Kosovo -- a sua antiga província do sul e considerada o berço da sua nacionalidade e religião -- proclamada em fevereiro de 2008 na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da NATO contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria (perto de 90%) de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à exceção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil, África do Sul ou Indonésia) também não reconheceram a independência do Kosovo.
Os dois países negoceiam a normalização das relações assente num novo plano da UE, apoiado pelos Estados Unidos, com o seu roteiro acordado por Belgrado e Pristina em março passado, mas que o atual aumento da tensão se arrisca a comprometer em definitivo.