EUA acusam Rússia e China de violar resoluções da ONU através de comércio com Pyongyang
Os Estados Unidos (EUA) acusaram esta quarta-feira a Rússia e a China de violarem resoluções do Conselho de Segurança da ONU ao manterem trocas comerciais e de armamento com a Coreia do Norte.
Numa reunião convocada pela Dinamarca, França, Panamá, Coreia do Sul, Eslovénia, Reino Unido e EUA, Washington acusou Moscovo de "cinicamente obstruir o Conselho de Segurança sobre a implementação de sanções" a Pyongyang "para tentar escapar à reprovação pelas suas próprias violações".
A embaixadora interina dos EUA, Dorothy Shea, referia-se ao veto da Rússia, que no ano passado impediu a renovação do mandato do Painel de Peritos da ONU que monitorizava a aplicação do regime de sanções à Coreia do Norte.
Dorothy Shea abordou ainda os dados divulgados minutos antes pelo CEO da organização sem fins lucrativos Open Source Centre, James Byrne, que rastreou diversas embarcações de bandeira estrangeira envolvidas no transporte e na movimentação de carvão e ferro norte-coreanos para outros países, incluindo a China, em violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
"A Coreia do Norte continua a violar descaradamente as resoluções do Conselho ao exportar carvão e minério de ferro para a China, cujos lucros financiam diretamente os seus programas ilegais de armas de destruição maciça e mísseis balísticos", afirmou a diplomata dos EUA.
As resoluções 1718, 1874 e 2270 do Conselho de Segurança da ONU proíbem os Estados-membros de receberem armas e material relacionado, formação ou assistência da Coreia do Norte -- ou de lho prestarem.
Desde setembro de 2023, Pyongyang transferiu mais de 24.000 contentores de munições e material relacionado com munições e mais de 100 mísseis balísticos para a Rússia para utilização contra a Ucrânia, afirmou Dorothy Shea.
"A Coreia do Norte e a Rússia violaram flagrantemente estas resoluções em ambos os sentidos", acusou.
Enquanto isso, acrescentou Shea, "acabamos de ver evidências de autoridades chinesas a fazerem vista grossa enquanto empresas chinesas importam carvão e minério de ferro da Coreia do Norte, violando as resoluções deste Conselho".
Nesse sentido, os Estados Unidos pediram a todos os Estados-membros da ONU que retirem a bandeira das embarcações que tenham o envolvimento comprovado em atividades de evasão de sanções.
O embaixador sul-coreano, Joonkook Hwang, juntou-se às críticas, denunciando a "cooperação militar ilegal" entre a Rússia e a Coreia do Norte.
"Embora as ações de Pyongyang desafiem clara e continuamente as decisões do Conselho, o Conselho deve considerar fortalecer as sanções existentes, não enfraquecê-las", acrescentou.
Hwang advogou que o apoio russo permite a continuação do programa nuclear norte-coreano, mas também a "revitalização" da sua indústria de armas convencionais.
Em maio de 2022, Rússia e China vetaram uma resolução que visava novas sanções contra Pyongyang.
Desde 2019, ambos os países, destacando em particular a situação humanitária da população norte-coreana, pedem o alívio das sanções, que não têm data para terminar.
Na reunião de hoje, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, defendeu a relação do seu país com a Coreia do Norte, criticando os Estados ocidentais por convocarem este encontro.
"A Coreia do Norte é nossa vizinha e parceira e estamos a desenvolver a nossa relação em todas as áreas. Este é o nosso direito soberano. A interação está em conformidade com o direito internacional, não é contra terceiros e não representa uma ameaça (...). A Rússia, claro, continuará a desenvolver esta cooperação", assegurou.
Numa rara aparição perante o Conselho de Segurança, o embaixador norte-coreano junto à ONU, Kim Song, criticou a reunião, avaliando que foi convocada "por exigências ultrajantes de alguns Estados-membros para questionar o direito soberano da Coreia do Norte".
Song acusou ainda Washington e "as suas forças vassalas" de tentarem "iniciar uma guerra nuclear na Península Coreana e na região", frisando que a situação está a "atingir a fase mais perigosa de ação".