Etiópia. Seca e conflitos expulsaram mais de quatro milhões de pessoas das suas casas

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Um autocarro chega à escola primária de Tsehaye, transformada num abrigo temporário para pessoas deslocadas pelo conflito, na cidade de Shire, região de Tigray, Etiópia, março de 2021 Baz Ratner - Reuters (arquivo)

Os conflitos e a seca são as principais causas do total de 4,38 milhões de deslocados internos do país, de acordo com o novo relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) das Nações Unidas.

A Etiópia é o segundo país mais populoso de África, a seguir à Nigéria, e continua a “enfrentar deslocações internas significativas”, embora não tenha atingido o nível recorde de 2021, então 5.141 milhões de pessoas, de acordo com a agência da ONU.
“O conflito é a principal causa a produzir novos deslocados, deslocando 2,9 milhões de pessoas (66,41%), seguido da seca, que deslocou 810.855 pessoas (18,49%) ", avança a OIM.Tigray, região devastada pelo conflito

De acordo com o relatório sobre a deslocação no país, que abrange o período de novembro de 2022 a junho de 2023, publicado na quarta-feira, a região do Tigray acolhe o maior número de deslocados internos – mais de um milhão - devido a conflitos.

Um acordo de paz pôs fim, em novembro de 2022, a dois anos de conflito entre o governo federal e as autoridades regionais no Tigray.

Já a região leste da vizinha Somália acolhe o maior número de pessoas deslocadas devido à seca - são mais de meio milhão de pessoas. A estes quase 543 mil juntam-se dezenas de milhares de deslocados internos estrangeiros, vítimas de conflitos, seca, inundações repentinas e surtos de doença. Entre estes, mais de 33 mil fugiram do conflito que eclodiu em abril noutro país vizinho, o Sudão.
Ajuda humanitária "consideravelmente subfinanciada"


Na Etiópia estima-se que 28,6 milhões de pessoas passem necessidades, de acordo com os dados das Nações Unidas.

Só em 2022, mais de 21 milhões de etíopes foram auxiliados com pelo menos um tipo de assistência, enquanto no primeiro trimestre deste ano 169 organizações humanitárias no terreno, juntamente com o governo da Etiópia, prestaram assistência alimentar a mais de 17 milhões de pessoas e assistência não-alimentar a cerca de cinco milhões de pessoas.

A resposta humanitária continua a ser "consideravelmente subfinanciada", afirmou Ramiz Alakbarov, coordenador residente da OIM na Etiópia, numa declaração desta semana.E embora a ajuda humanitária seja fundamental para continuar a prestar serviços de assistência e proteção a toda a população vulnerável, o financiamento desta resposta humanitária continua a ser significativamente insuficiente, com apenas 27% dos cerca de 3,6 mil milhões de euros necessários solicitados pela ONU.

O Relatório Nacional de Deslocados da OIM Etiópia pode ser consultado na íntegra aqui.

c/AFP
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