Etiópia anuncia investigação com Arábia Saudita sobre morte de centenas de migrantes

por Lusa

O Governo etíope anunciou hoje uma investigação conjunta com a Arábia Saudita, após a publicação de um relatório da Human Rights Watch acusando os guardas de fronteira sauditas de matarem centenas de migrantes etíopes.

Riade contesta as acusações e uma fonte governamental disse à Agência France Presse na segunda-feira que "são infundadas e não se baseiam em fontes confiáveis".

Com base em quase 40 testemunhos, a Human Rights Watch (HRW) afirma que os guardas de fronteira sauditas mataram centenas de migrantes etíopes que tentavam entrar na rica monarquia através da fronteira com o Iémen, entre março de 2022 e junho de 2023.

No dia seguinte à publicação do relatório, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Etiópia afirmou que o Governo de Adis Abeba iria "investigar imediatamente o incidente em colaboração com as autoridades sauditas", num comunicado de imprensa publicado na rede social X (ex-Twitter).

"É fortemente recomendado exercer a maior contenção e não fazer declarações desnecessárias até que a investigação esteja concluída", acrescenta o Ministério, assegurando que "os dois países, apesar desta infeliz tragédia, mantêm relações excelentes e duradouras".

Na segunda-feira, os Estados Unidos, parceiros históricos da monarquia do Golfo, apelaram também a uma investigação.

Um porta-voz da ONU descreveu o relatório como "muito perturbador", contendo acusações "muito graves", embora seja difícil confirmar estas alegações.

Um porta-voz do chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, saudou hoje "o anúncio do Governo etíope de uma investigação conjunta com as autoridades da Arábia Saudita" após estas acusações que suscitam "preocupação".

"Vamos levantar esta questão junto das autoridades da Arábia Saudita e também com as autoridades de facto Huthi no Iémen", disse o porta-voz Peter Stano durante uma conferência de imprensa em Bruxelas.

De acordo com a HRW, os migrantes acusaram as forças Huthi de colaborar com contrabandistas e de lhes extorquir dinheiro. Estes rebeldes também os teriam transferido para o que os migrantes descrevem como centros de detenção.

Os Hothis negaram trabalhar com os contrabandistas, descrevendo-os como "criminosos".

No seu relatório de 73 páginas, a HRW baseia-se em entrevistas com 38 migrantes etíopes que tentaram entrar na Arábia Saudita provenientes do Iémen, e também em imagens de satélite, vídeos e fotos publicadas nas redes sociais ou recolhidas de outras fontes.

Os entrevistados falaram de "armas de fogo" e tiros à queima-roupa, com os guardas de fronteira sauditas a perguntarem aos etíopes "em que parte do corpo prefeririam levar os tiros".

Centenas de milhares de etíopes trabalham na Arábia Saudita, às vezes entrando pela "rota oriental" que liga o Corno de África ao Golfo, passando pelo Iémen, um país pobre em guerra há mais de oito anos.

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