Mesmo nas zonas mais remotas da Amazónia, onde não há ação direta do ser humano, já são visíveis os efeitos das alterações climáticas. Analisando os dados dos últimos 40 anos, os cientistas descobriram que o aquecimento global não só está a contribuir para a extinção de algumas espécies e a diminuição das populações de aves na floresta amazónica, como também está a promover as alterações morfológicas dos pássaros – que se estão a tornar mais pequenos e com asas mais longas, para se adaptar às mudanças do clima.
"É expectável que o aquecimento causado pelas alterações climáticas reduza o tamanho do corpo dos [seres] endotérmicos", começam por apontar os investigadores da Louisiana State University, que explicam que estas mudanças morfológicas, ocorridas ao longo de várias gerações, ajudaram as aves a adaptar-se a um contexto de mais calor e secas, na estação seca, de junho a novembro.
Para fazer o estudo, os autores analisaram dados de mais de 15 mil aves capturadas, medidas, pesadas, marcadas e libertadas na Amazónia nos últimos 40 anos. A investigação e a análise mostraram que, desde a década de 1980, os corpos de quase todas as aves desta região tropical reduziram a sua massa ou ficaram mais leves, tendo a maioria das espécies perdido uma média de dois por cento de peso em cada década.
"Todas as 77 espécies mostraram massa média mais baixa desde o início dos anos 1980 - quase metade com 95 por cento de certeza", referem.
Isto é, se uma espécie pesasse em média 30 gramas na década de 1980, os animais dessa população pesariam agora uma média de 27,6 gramas.
Mas estes pássaros não estão apenas a ficar mais leves, estão mesmo a sofrer alterações morfológicas.
"Um terço das espécies aumentou concomitantemente o comprimento da asa, levando a uma diminuição na proporção massa/asa para 69 por cento das espécies", lê-se na publicação.
Como se explicam estas alterações?
Este estudo, realizado numa colaboração entre cientistas brasileiros e de outras nacionalidades associados ao Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, do Instituto Nacional de Investigação da Amazónia (INPA), baseou-se na morfometria - o estudo das formas de uma mesma população de animais e que se aplica na análise das formas e tamanhos que os seres vivos podem assumir consoante o ambiente onde se desenvolvem.
Estudos anteriores baseados em pássaros migratórios já tinham concluído que o clima tinha, de alguma forma, impacto nos animais. Mas agora, os especialistas estudaram 77 espécies de aves não-migratórias da floresta Amazónica e o resultado foi semelhante: os pássaros ficam cada vez mais pequenos perante um clima cada vez mais quente.
"As mudanças morfológicas sazonais e de longo prazo sugerem que há uma resposta às alterações climáticas, destacando as consequências generalizadas, mesmo no coração da maior floresta tropical do mundo", afirmam os cientistas.
Os investigadores acreditam que estas mudanças são uma resposta aos desafios nutricionais e fisiológicos, especialmente durante a estação seca, que decorre entre junho e novembro.
"Até na impressionante selva amazónica, estamos a ver os efeitos globais das alterações climáticas causadas pelas pessoas", advertiu Vitek Jirinec, ecologista da Universidade Estatal do Luisiana (LSU) e autor principal do estudo, que é o primeiro a descobrir mudanças no tamanho e na forma dos corpos das aves não migratórias.
A informação atual, referem os autores, "indica que há uma mudança no tamanho e na forma do corpo num grupo diversificado e amplamente distribuído de aves migratórias, um padrão consistente com as expectativas sobre o aquecimento do clima". Mas, considerando os diferentes locais e épocas de reprodução, por exemplo, e dos locais para onde migram na estação fria, torna-se difícil "avaliar como é que as condições climáticas se relacionam com as mudanças morfológicas".
Contudo, os dados foram recolhidos numa ampla zona da selva tropical, o que demonstra que as mudanças nas aves não se limitam a um local específico, mas constituem um fenómeno "significativo e generalizado" que, provavelmente, não afeta só as aves.
"Se se olhar pela janela e pensar no que se está a ver, vê-se que as condições não são as de há 40 anos e é muito provável que as plantas e os animais estejam a responder a essas mudanças", desenvolveu Philip Stouffer, investigador da LSU e coautor do estudo.
Aves mais expostas ao calor sofrem mais alterações
Para desenvolver este estudo, os cientistas investigaram mais de 70 espécies de aves da selva tropical, que vivem em diferentes habitats - desde o solo fresco e escuro da selva até ao bosque mais quente e ensolarado - e descobriram que as residentes nas partes mais altas, mais expostas ao calor e a condições mais secas, apresentam alterações mais drásticas no peso e asas.
A equipa considera a hipótese de se tratar de uma adaptação às pressões energéticas, à diminuição da disponibilidade de recursos e alimentos, como frutas e insetos, e também ao stress térmico.
As asas mais longas e a proporção massa/asa reduzida garantem um voo mais eficiente, semelhante ao de um avião planador, que pode voar usando menos energia. Já uma relação peso/asa mais elevada requer que as aves abanem mais rápido os seus membros para se manterem no ar, usando mais energia e produzindo mais calor metabólico.
Os autores entendem que as aves se adaptaram a um clima mais quente e seco, reduzindo o seu peso, a carga nas asas e alongando-as, para serem mais eficientes energeticamente durante o voo.
Esta é a sua maneira de se adaptarem às alterações climáticas, mas a questão que os cientistas colocam é a de saber se as aves podem enfrentar um clima cada vez mais quente e seco, pergunta esta que continua sem resposta, salientaram.
"Todas as 77 espécies mostraram massa média mais baixa desde o início dos anos 1980 - quase metade com 95 por cento de certeza", referem.
Isto é, se uma espécie pesasse em média 30 gramas na década de 1980, os animais dessa população pesariam agora uma média de 27,6 gramas.
Mas estes pássaros não estão apenas a ficar mais leves, estão mesmo a sofrer alterações morfológicas.
"Um terço das espécies aumentou concomitantemente o comprimento da asa, levando a uma diminuição na proporção massa/asa para 69 por cento das espécies", lê-se na publicação.
Como se explicam estas alterações?
Este estudo, realizado numa colaboração entre cientistas brasileiros e de outras nacionalidades associados ao Projeto de Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, do Instituto Nacional de Investigação da Amazónia (INPA), baseou-se na morfometria - o estudo das formas de uma mesma população de animais e que se aplica na análise das formas e tamanhos que os seres vivos podem assumir consoante o ambiente onde se desenvolvem.
Estudos anteriores baseados em pássaros migratórios já tinham concluído que o clima tinha, de alguma forma, impacto nos animais. Mas agora, os especialistas estudaram 77 espécies de aves não-migratórias da floresta Amazónica e o resultado foi semelhante: os pássaros ficam cada vez mais pequenos perante um clima cada vez mais quente.
"As mudanças morfológicas sazonais e de longo prazo sugerem que há uma resposta às alterações climáticas, destacando as consequências generalizadas, mesmo no coração da maior floresta tropical do mundo", afirmam os cientistas.
Os investigadores acreditam que estas mudanças são uma resposta aos desafios nutricionais e fisiológicos, especialmente durante a estação seca, que decorre entre junho e novembro.
"Até na impressionante selva amazónica, estamos a ver os efeitos globais das alterações climáticas causadas pelas pessoas", advertiu Vitek Jirinec, ecologista da Universidade Estatal do Luisiana (LSU) e autor principal do estudo, que é o primeiro a descobrir mudanças no tamanho e na forma dos corpos das aves não migratórias.
A informação atual, referem os autores, "indica que há uma mudança no tamanho e na forma do corpo num grupo diversificado e amplamente distribuído de aves migratórias, um padrão consistente com as expectativas sobre o aquecimento do clima". Mas, considerando os diferentes locais e épocas de reprodução, por exemplo, e dos locais para onde migram na estação fria, torna-se difícil "avaliar como é que as condições climáticas se relacionam com as mudanças morfológicas".
Contudo, os dados foram recolhidos numa ampla zona da selva tropical, o que demonstra que as mudanças nas aves não se limitam a um local específico, mas constituem um fenómeno "significativo e generalizado" que, provavelmente, não afeta só as aves.
"Se se olhar pela janela e pensar no que se está a ver, vê-se que as condições não são as de há 40 anos e é muito provável que as plantas e os animais estejam a responder a essas mudanças", desenvolveu Philip Stouffer, investigador da LSU e coautor do estudo.
Aves mais expostas ao calor sofrem mais alterações
Para desenvolver este estudo, os cientistas investigaram mais de 70 espécies de aves da selva tropical, que vivem em diferentes habitats - desde o solo fresco e escuro da selva até ao bosque mais quente e ensolarado - e descobriram que as residentes nas partes mais altas, mais expostas ao calor e a condições mais secas, apresentam alterações mais drásticas no peso e asas.
A equipa considera a hipótese de se tratar de uma adaptação às pressões energéticas, à diminuição da disponibilidade de recursos e alimentos, como frutas e insetos, e também ao stress térmico.
As asas mais longas e a proporção massa/asa reduzida garantem um voo mais eficiente, semelhante ao de um avião planador, que pode voar usando menos energia. Já uma relação peso/asa mais elevada requer que as aves abanem mais rápido os seus membros para se manterem no ar, usando mais energia e produzindo mais calor metabólico.
Os autores entendem que as aves se adaptaram a um clima mais quente e seco, reduzindo o seu peso, a carga nas asas e alongando-as, para serem mais eficientes energeticamente durante o voo.
Esta é a sua maneira de se adaptarem às alterações climáticas, mas a questão que os cientistas colocam é a de saber se as aves podem enfrentar um clima cada vez mais quente e seco, pergunta esta que continua sem resposta, salientaram.
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