Os serviços de informação norte-americanos detetaram novas movimentações junto à fábrica de Sanundong, nos arredores de Pyongyang, local onde foi produzido o primeiro míssil balístico intercontinental capaz de atingir território norte-americano. As novas informações surgem quase dois meses depois da cimeira de Singapura, onde o líder norte-coreano Kim Jong-un se comprometeu com o objetivo vago da desnuclearização, sem especificar em que moldes o faria.
Enquanto decorrem as negociações entre as diplomacias da Coreia do Norte e dos Estados Unidos, vários responsáveis norte-americanos vieram esta semana denunciar novas atividades junto às infraestruturas de Sanundong.
Estas informações foram reveladas à agência Reuters sob condição de anonimato, uma vez que se trata de um assunto é classificado.
De acordo com este responsável, há uma foto que mostra veículos parecidos com aqueles que foram anteriormente usados pela Coreia do Norte para mover mísseis balísticos intercontinentais.
O responsável referiu, no entanto, que as fotografias mostram que o reboque onde seguia o material estava tapado, pelo que não foi possível apurar ao certo o que estava a ser transportado.
Na segunda-feira, foi a vez do Washington Post noticiar a aparente construção de um ou dois novos mísseis balísticos intercontinentais de combustível líquido também em Sanumdong, nos arredores da capital norte-coreana. O diário norte-americano cita responsáveis norte-americanos ligados aos serviços de informação.
Sanumdong é a mesma fábrica onde foram construídos dois mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) norte-coreanos, incluindo o Hwasong-15, um míssil com capacidade comprovada para atingir a costa leste dos Estados Unidos.
O material recolhido nas últimas semanas pelos serviços norte-americanos, designadamente pela National Geospatial-Intelligence Agency, mostra que decorrem trabalhos em pelo menos um míssil da mesma tipologia, refere o Washington Post.
O especialista Jeffrey Lewis refere ao jornal norte-americano que os movimentos diários em Sanumdong são a prova que esta infraestrutura está longe de estar desativada.
Para este mesmo responsável, a Coreia do Norte nunca prometeu desistir das suas armas nucleares. “Eles estão dispostos a aceitar certos limites, tais como não fazer testes nucleares ou de mísseis. (…) Mantêm a bomba, mas deixam de falar sobre ela”, refere o perito sobre a posição norte-coreana em declarações ao Guardian.
Segundo os responsáveis ouvidos pelo diário norte-americano, o centro de Sohae para o lançamento de satélites e mísseis parece estar a ser desmantelado, como mostram as imagens. No entanto, este desmantelamento é visto por muitos especialistas como simbólico, uma vez que o local de testes poderia ser facilmente restabelecido em poucos meses.
Atividade nuclear continua
A informação reunida pelo Washington Post e pela Reuters não sugere um aumento real nas capacidades nucleares da Coreia do Norte, mas mostra que o desenvolvimento de armamento não parou, apesar do otimismo expresso pela Administração Trump.
“Apesar do que os responsáveis norte-americanos têm dito, a Coreia do Norte não fez grandes compromissos quanto à desnuclearização. Não é surpreendente que a Coreia do Norte queira continuar com o seu programa nuclear e de mísseis até que um acordo seja alcançado. Não vão parar apenas porque houve uma cimeira”, refere ao jornal The Guardian Mintaro Oba, antigo diplomata norte-americano que trabalhou sobre a Coreia do Norte.
No dia seguinte ao encontro com Kim Jong-un, após a cimeira de junho em Singapura, o Presidente norte-americano escreveu no Twitter que a Coreia do Norte já não constituía uma “ameaça nuclear”.
Neste encontro histórico entre os dois líderes foi aprovado um documento genérico onde, entre outros pontos genéricos, a Coreia do Norte comprometia-se a trabalhar rumo à “desnuclearização completa” da Península Coreana, sem estabelecer prazos e mecanismos para o desmantelamento do material nuclear.
As negociações entre as diplomacias norte-americana e norte-coreana têm decorrido nas últimas semanas sem resultados conclusivos. Na semana passada, o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo admitia, numa audiência realizada no Comité de Relações Externas do Senado, que Pyongyang continua a produzir material físsil para bombas nucleares.