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Estado de emergência em Belgorod. Ucrânia reivindica novos avanços em território russo

por Cristina Sambado - RTP
Viacheslav Ratynskyi - Reuters

A Ucrânia prossegue a sua ofensiva em larga escala em território russo esta quarta-feira, afirmando ter conquistado 74 cidades na região de Kursk, enquanto bombardeia intensamente a região vizinha de Belgorod, cujo governador declarou o estado de emergência.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, referiu combates "difíceis e intensos" na região de Kursk, na fronteira ucraniana, onde as forças de Kiev entraram a 6 de agosto, apanhando as tropas russas desprevenidas.

O ataque ucraniano à Rússia, o maior de uma força estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial, mudou drasticamente a narrativa em torno da guerra. A Rússia tem vindo a avançar desde o fracasso da contraofensiva ucraniana de 2023, que não conseguiu obter grandes ganhos contra as forças de Moscovo. "Há 74 localidades sob controlo ucraniano. Estão a ser realizadas inspeções e medidas de estabilização", afirmou o chefe de Estado ucraniano. Zelensky acrescentou também que "centenas" de russos foram feitos prisioneiros".

O comandante do exército ucraniano, Oleksandre Syrsky, afirmou que as suas tropas "avançaram em certas zonas entre um e três quilómetros" ao longo do dia, assumindo o controlo de mais "40 quilómetros quadrados".

Por seu lado, as forças russas anunciaram ter "impedido" novos ataques ucranianos na região de Kursk, para onde enviaram reforços e onde infligiram perdas aos seus adversários.

Na região vizinha de Belgorod, o governador Vyacheslav Gladkov declarou o estado de emergência em toda a região na quarta-feira.

"A situação na nossa região de Belgorod continua extremamente difícil e tensa devido aos bombardeamentos das forças armadas ucranianas. Casas foram destruídas, civis morreram e ficaram feridos", afirmou Gladkov num vídeo publicado na rede social Telegram.

Segundo o governador de Belgorod, os bombardeamentos diários das forças ucranianas destruíram casas, matando e ferindo civis.

As autoridades das regiões de Kursk, Voronezh, Nizhny Novgorod e Bryansk também informaram que 117 drones ucranianos foram abatidos pela defesa aérea russa durante a noite.Após uma semana de rápidos avanços, o general ucraniano Syrsky afirma que os seus soldados conquistaram mais de mil quilómetros quadrados da Rússia.

Por seu lado, as autoridades russas reconheceram, na segunda-feira, a perda de 28 cidades e ganhos territoriais ucranianos que se estendem por uma área de 40 quilómetros de largura e 12 quilómetros de profundidade.
Forças de Kiev avançaram 800 quilómetros quadrados

Segundo cálculos efetuados pela AFP na terça-feira, com base em fontes russas transmitidas pelo Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um grupo de reflexão americano, as tropas ucranianas avançaram 800 quilómetros quadrados na região de Kursk.

"Quando os nossos homens entraram (em solo russo), os russos fugiram", avançou à AFP um soldado ucraniano que participou no ataque, depois de o ter encontrado na terça-feira na região de Sumy, no nordeste da Ucrânia.

A título de comparação, a Rússia avançou 1.360 quilómetros em território ucraniano desde 1 de janeiro de 2024, segundo a mesma análise. A AFP teve oportunidade de visitar um posto fronteiriço ucraniano destruído na zona. Ao longo da estrada, uma placa indicava a cidade russa de Kursk, a 108 quilómetros de distância.

"A Ucrânia não pretende anexar qualquer território na região de Kursk", declarou o seu porta-voz diplomático Georgy Tykhy, considerando as operações de Kiev "absolutamente legítimas", tendo em conta a ocupação russa de quase 20 por cento do país.

Esta ofensiva, prometeu, cessará se Moscovo aceitar as condições impostas pela Ucrânia: "Quanto mais cedo a Rússia concordar em restaurar uma paz justa (...), mais cedo cessarão as incursões das forças de defesa ucranianas em território russo".

As negociações entre os dois países estão num impasse total devido às exigências de cada uma das partes, que são consideradas inaceitáveis pela outra. O presidente Zelensky afirmou querer preparar um plano até novembro, data das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos - um aliado vital de Kiev - que servirá de base para uma futura cimeira de paz para a qual o Kremlin deverá ser convidado.
“Verdadeiro dilema para Putin”
Falando pela primeira vez sobre o assunto a partir de Nova Orleães, onde se encontrava em viagem, o Presidente norte-americano, Joe Biden, afirmou que a ofensiva ucraniana "cria um verdadeiro dilema para (o Presidente russo Vladimir) Putin".

Segundo a Casa Branca, a Ucrânia não avisou com antecedência sobre sua incursão e os Estados Unidos não tiveram envolvimento na operação, embora autoridades russas tenham sugerido que os apoiantes ocidentais da Ucrânia tinham conhecimento do ataque.
Biden confirmou que tem mantido contactos diários, e de hora em hora, com a sua equipa para discutir, entre outros assuntos, a evolução da guerra na Ucrânia, especialmente depois de Kiev ter tomado a iniciativa de endurecer os ataques em território russo.

O presidente norte-americano indicou que a sua administração mantém contacto "direto" e "constante" com o Governo da Ucrânia, que apoia tanto política como militarmente.

O presidente russo Putin afirmou na segunda-feira que a Ucrânia "com a ajuda dos seus mestres ocidentais" tinha como objetivo melhorar a posição negocial de Kiev antes de possíveis conversações de paz e retardar o avanço das forças russas.

Vladimir Putin, para quem o ataque ucraniano é um revés inesperado, ordenou ao seu exército que "expulse o inimigo" da Rússia, insistindo que vê por detrás desta operação a mão do "Ocidente (que) está em guerra connosco".

Mas, num sinal de que o ataque está a endurecer a posição do Kremlin, Putin questionou que negociações poderiam existir com um inimigo que acusou de disparar indiscriminadamente contra cidadãos russos e instalações nucleares.Segundo as autoridades russas, a ofensiva ucraniana já obrigou mais de 120 mil pessoas a abandonar as suas casas. Até à data, pelo menos 12 civis foram mortos e mais de uma centena ficaram feridos.

Para as autoridades russas a Ucrânia está a tentar mostrar aos seus apoiantes ocidentais que ainda consegue reunir grandes operações militares, enquanto aumenta a pressão sobre Kiev e Moscovo para que concordem em falar sobre o fim da guerra.

No terreno, na região de Soumy, a AFP viu veículos blindados ucranianos reunidos junto à fronteira e, na direção oposta, um veículo que transportava cerca de 10 homens com fardas militares russas, de olhos vendados e mãos atadas.

Pelo menos 20 mil civis estão também a ser retirados da região ucraniana em frente a Kursk.


Depois de vários meses complicados na frente oriental, as tropas ucranianas parecem ter recuperado o fôlego com este êxito inesperado.

No entanto, esta ofensiva pode representar riscos para Kiev: a Ucrânia pode deixar outras partes da frente expostas ao dedicar forças para combater em território soberano russo. A Rússia controla 18 por cento do território ucraniano e tem vindo a avançar nos últimos meses.

c/ agências
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