O presidente norte-americano abriu o discurso anual do Estado da União com um alerta sobre como a "liberdade e a democracia estão a ser atacadas" no país e no mundo.
Biden comparou os dias de hoje com o período anterior à II Guerra Mundial, quando Adolf Hitler marchava na Europa, e considerou que agora é o presidente da Rússia, Vladimir Putin, quem pretende conquistar mais terreno na Europa.
O presidente norte-americano exigiu a Israel que não use a ajuda humanitária a Gaza como "moeda de troca" e permita a entrada de alimentos e medicamentos no enclave."Aos líderes de Israel digo isto: a assistência humanitária não pode ser uma consideração secundária ou uma moeda de troca. Proteger e salvar vidas inocentes tem de ser uma prioridade", instou.
Biden garantiu estar a trabalhar "sem descanso" para um cessar-fogo imediato e temporário em Gaza, que permita a libertação dos reféns do grupo islamita palestiniano Hamas e a entrada de ajuda humanitária no enclave.
Como parte desses esforços, Biden anunciou que os militares norte-americanos começarão a estabelecer um porto na costa da Faixa de Gaza, para receber grandes remessas de alimentos e materiais médicos extremamente necessários.
A única solução real para o conflito, acrescentou o Democrata, é uma solução de dois Estados.
Recados para os norte-americanos
Joe Biden direcionou ainda o discurso para os assaltos à democracia em solo norte-americano, focando-se no ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021, quando apoiantes do ex-presidente Donald Trump tentaram impedir a certificação da sua vitória eleitoral.Biden defendeu que "não se pode amar o país apenas quando se ganha".
"O dia 6 de janeiro, as mentiras sobre as eleições de 2020 e as conspirações para roubar as eleições representaram a ameaça mais grave à nossa democracia desde a Guerra Civil. Mas eles falharam! A América permaneceu forte e a democracia prevaleceu", declarou.
No entanto, de acordo com o democrata, essa ameaça ainda permanece, apelando a todos, "independentemente do partido, que se unam e defendam a democracia" e respeitem "eleições livres e justas".
Já em relação aos ataques às liberdades nos EUA, o líder norte-americano focou-se nos direitos reprodutivos das mulheres, e mais concretamente na questão do aborto, depois de o Supremo Tribunal - com uma maioria conservadora sedimentada por Donald Trump - ter revogado em 2022 o direito constitucional à interrupção da gravidez.
Com juízes do Supremo sentados na plateia, Biden prometeu restaurar o direito ao aborto "como lei do país novamente", se os cidadãos norte-americanos lhes "enviarem um Congresso que apoie o direito de escolha".
Dando grande destaque à questão do aborto, o Presidente voltou a criticar Donald Trump, que se vangloriou da escolha de três juízes conservadores que foram fundamentais na decisão de reverter o direito constitucional ao aborto.
"Muitos de vós nesta Câmara e o meu antecessor prometem aprovar uma proibição nacional da liberdade reprodutiva. Meu Deus, que liberdades querem tirar a seguir?", questionou.Embora não tenha usado diretamente o nome de Trump ao longo do discurso, que se prolongou por cerca de uma hora, Biden referiu "o antecessor" mais de uma dúzia de vezes, num momento em que se prevê uma nova corrida eleitoral entre ambos nas presidenciais de novembro.
"A questão que a nossa nação enfrenta não é a nossa idade, mas a idade das nossas ideias", defendeu.
O presidente disse querer desenhar "um futuro baseado nos valores fundamentais que definem a América: honestidade, decência, dignidade e igualdade".
"Agora, outras pessoas da minha idade veem uma história diferente: uma história americana de ressentimento, vingança e retribuição. Este não sou eu", acrescentou, numa clara alusão ao rival Republicano.
Ao longo do discurso, que se prolongou por pouco mais de uma hora, Biden enalteceu as realizações alcançadas no cargo presidencial, antecipou parte da agenda para um eventual segundo mandato, procurou acalmar as preocupações em torno da idade (81 anos) e forma física e fez um contraste com os Republicanos, tecendo duras criticas a Donald Trump, a quem deverá enfrentar nas eleições presidenciais em novembro.