Esquerda em negociações. Quem será o próximo primeiro-ministro de França?

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Jean-Luc Mélenchon, líder do partido A França Insubmissa (LFI), reagiu após os resultados da segunda volta das eleições legislativas em Paris, 7 de julho Andre Pain - EPA

Após a vitória surpreendente na segunda volta das eleições legislativas francesas, a aliança de esquerda Nova Frente Popular tem de encontrar o nome do próximo primeiro-ministro para propor a Emmanuel Macron. São várias as hipóteses em cima da mesa entre socialistas, rebeldes, comunistas e ecologistas, devendo a personalidade escolhida reunir um "consenso" no seio da aliança.

Os líderes dos partidos de que compõem a aliança de esquerda criada à pressa para ir às urnas derrubar a extrema-direita – Partido Socialista (PS), A França Insubmissa (LFI), Os Ecologistas (EELV) e Partido Comunista (PCF) - têm vindo a reunir-se para tentar encontrar o nome do novo inquilino de Matignon e que deverão propor ao presidente da República, que por sua vez, deverá nomear um novo primeiro-ministro de acordo com a nova ordem política que surgiu na sequência das eleições.
A Nova Frente Popular (NFP) tem agora o maior número de lugares no Parlamento sem uma maioria absoluta.

As negociações começaram logo na noite eleitoral, após o anúncio dos resultados da segunda volta das eleições legislativas, e prosseguem três dias depois na tentativa de chegar a um acordo não só sobre o nome do próximo primeiro-ministro de França, mas também dos responsáveis que poderão vir a assumir os ministérios do novo Governo.

No domingo à noite, Jean-Luc Mélenchon, líder do partido de extrema-esquerda França Insubmissa, afirmou que o presidente Macron deveria "curvar-se e admitir a sua derrota sem tentar contorná-la" e encarregar a aliança de esquerda para formar Governo. “O presidente tem o dever de chamar a Nova Frente Popular a governar", destacou.


Eis algumas das figuras políticas mais conhecidas da coligação de esquerda e que poderão vir a liderar o novo Governo.
Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa
Foto: Andre Pain - EPA 


O político de esquerda, de 72 anos, é uma figura polémica da política francesa.  No passado, ocupou vários cargos ministeriais em governos anteriores enquanto membro do Partido Socialista. Foi candidato à Presidência da República por três vezes, em 2012, 2017 e 2022, ficando em terceiro lugar na última vez, atrás de Emmanuel Macron e de Marine Le Pen, que foi segunda.

O líder da extrema-esquerda francesa é frequentemente criticado por defender posições controversas sobre questões de política externa, nomeadamente em relação ao conflito na Faixa de Gaza, e é acusado de antisemitismo, o que ele nega. Numa entrevista recente, Mélenchon afirmou que "queria fazer parte da solução, não do problema", fazendo um apelo à "estabilidade" no seio da coligação de esquerda, não se impondo, nem se excluindo de qualquer cenário governativo.


Manuel Bompard, coordenador da França Insubmissa
Foto: Andre Pain - EPA


Manuel Bompard, de 38 anos, é o coordenador do partido. Com uma longa experiência política como secretário nacional do partido e diretor das campanhas eleitorais de Jean-Luc Mélenchon, tornou-se eurodeputado no Parlamento Europeu em 2019, cargo que abandonou quando foi eleito nas eleições de 2022. É um dos nomes referidos pelo líder Mélenchon.
Clémence Guetté, deputada da França Insubmissa

Foto: Andre Pain - EPA 


Clémence Guetté, de 33 anos, é uma das deputadas mais populares entre os militantes de esquerda. Especialista em questões ambientais, feministas e de justiça social, desempenha um papel central no movimento político fundado por Jean-Luc Mélenchon. Foi a coordenadora do programa da campanha presidencial de 2022. É outro nome apontado por Mélenchon.
Olivier Faure, líder do Partido Socialista
Foto: Sarah Meyssonnier -Reuters


Olivier Faure, de 55 anos, é o primeiro-secretário do Partido Socialista francês. Na terça-feira, 9 de julho, questionado pelos jornalistas, disse que estava "pronto para assumir" o cargo de primeiro-ministro. Mais tarde, o socialista explicou que assumiria esse papel com a única condição de que isso fosse feito "em diálogo, com os nossos parceiros" da Nova Frente Popular.

"Não concordo que ninguém imponha o seu ponto de vista a ninguém... a hegemonia, a vontade de se impor aos outros sem nunca dialogar", acrescentou.

Raphaël Glucksmann, cabeça de lista do PS nas europeias 

Foto: Benoit Tessier - Reuters


Raphaël Glucksmann, de 44 anos, encabeçou a lista do PS - Place Publique nas eleições europeias, obtendo 14 por cento dos votos, atrás da candidata macronista. Co-presidente do movimento político Place Publique e eurodeputado no Parlamento Europeu desde 2019, empenhou-se na oposição ao genocídio cultural dos uigures, na defesa do Pacto Verde para a Europa e no apoio à integração da Ucrânia na União Europeia.

Glucksmann é um político e ensaísta francês, antigo jornalista e conselheiro político, e uma das vozes francesas mais empenhadas no apoio à Ucrânia contra a invasão russa.
Marine Tondelier, líder dos Ecologistas
Foto: Abdul Saboor - Reuters


Marine Tondelier, de 37 anos, é a líder do partido Europe Écologie Les Verts (EELV). Considerada a revelação destas legislativas e uma das forças motrizes da Nova Frente Popular e da Frente Republicana, é uma das opositoras da política do partido de extrema-direita, o Rassemblement National (RN), e da sua líder Marine Le Pen.

Entrou para a política em 2014, como vereadora da oposição na sua cidade natal de Hénin-Beaumont, no norte de França, governada historicamente pelo Rassemeblement National. A líder ecologista afirmou durante a campanha eleitoral que a experiência no terreno lhe tinham ensinado "três coisas: nunca baixar a cabeça, nunca baixar os olhos, nunca baixar os braços", denunciando os "valores e métodos nojentos" do RN.
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