Num
tweet citado pelo diário espanho
El Pais, Echenique responde à insistência de Sánchez, que invocava a experiência portuguesa, considerada modelar, e afirma que, para se entender melhor essa proposta, é preciso ter em conta que "Governo à portuguesa significa Governo em que eu [Pedro Sánchez] açambarco 100% do poder, sem negociar,
porque sim, embora esteja longe da maioria absoluta e com a vantagem de ter as mãos livres para pactuar com a direita sempre que me apeteça".
Daniela Santiago, correspondente da RTP em Madrid
O ex-eurodeputado de "Unidas Podemos" tem-se, aliás, debruçado sobre o balanço da "geringonça" com uma insistência somente comparável à de Pedro Sánchez, mas extraindo dela conclusões diametralmente opostas. Num outro tweet, lembra a recente aprovação das novas leis laborais, por acordo entre o PS e a direita portuguesa, sublinhando que esta veio agravar a precariedade e consagrar o congelamento salarial na administração pública.
Ao apresentar-se às próximas legislativas, sublinha ainda Echenique, o PS português procura tornar dispensável o apoio de bloquistas e comunistas, de que até agora tem dependido para a aprovação dos orçamentos da "geringonça".
Ainda num outro tweet, Echenique responde a um partidário de Pedro Sánchez que, sob um pseudónimo, o alcunha de "pateta", por não entender que o Governo do PS "foi o melhor que aconteceu aos portugueses". O ex-eurodeputado da esquerda espanhola reage publicando uma fotografia bem conhecida de Mário Centeno, a festejar uma vitória da selecção das quinas, classificando o ministro português e presidente do Eurogrupo como o "pateta de nível TOP".
A exacerbação do debate sobre o "modelo português" resulta da ofensiva de Pedro Sánchez, convidando "Unidas Podemos" a imitar a atitude do BE e do PCP e a viabilizarem o seu Governo, quando este novamente se submeter ao voto parlamentar, no próximo dia 23 de setembro.
Sánchez enviou uma carta aos militantes do seu partido, explicando a sua opção por um Governo "à portuguesa", contra a proposta do líder de "Podemos", Pablo Iglesias, no sentido de um governo de coligação com ministros de ambos os partidos.
Sánchez anunciou além disso que, a partir de hoje, iniciará uma ronda de contactos "com diversos colectivos da sociedade civil como associações feministas, ecologistas, agentes sociais, agrupamentos do terceiro sector, para que possam colaborar na criação de um espaço comum para conseguir um Governo progressista".
Além dessa pressão externa que o PSOE procura orquestrar, "Podemos" tem de haver-se também com uma pressão interna a favor da viabilização de um Governo do PSOE. Contrasta com a posição de Echenique, nomeadamente a do
grupo IU (Izquierda Unida), que tem seis dos 42 assentos parlamentares de "Unidas Podemos".
Embora IU tenha pugnado, juntamente com o conjunto do partido, por um Governo de coligação, já foi adiantando que preconiza um entendimento assente nas "bases programáticas estabelecidas no acordo para os Orçamentos Gerais do Estado de 2019, mesmo no caso de não haver acordo para constituir um Governo de coligação com o PSOE, com o objectivo de evitar uma nova repetição das eleições".
Por seu lado, Pablo Iglesias promovera recentemente, em finais de junho, reuniões com as duas centrais sindicais, UGT e CC OO. Não conseguiu obter das centrais uma declaração favorável ao governo de coligação, mas tão somente a fórmula vaga favorável a um governo "progressista e estável". Quando o governo sofreu o primeiro chumbo parlamentar, o dirigente de CCOO, Unai Sordo, deixara mesmo cair uma frase pouco convergente com a política coligacionista de Iglesias: "Não me importa tanto quem seja o ministro do Trabalho como a política que vai fazer para revogar a reforma da lei laboral".
De certo modo, o realce dado por Pablo Echenique à aliança entre António Costa e a direita para aprovar as leis laborais em Portugal constitui já uma resposta às prioridades formuladas pelos sindicalistas espanhóis.