Espanha. Máscaras com defeito obrigam a isolar mais de mil profissionais de saúde

por Cristina Sambado - RTP
Profissionais do Hospital Severo Ochoa, em Leganes, prestam homenagem a um enfermeiro que morreu vítima de Covid-19 Susana Vera - Reuters

Em Espanha, mais de mil profissionais de saúde estão isolados, e milhares vão ter de fazer testes de triagem ao SARS-Cov-2 depois de terem estado expostos ao novo coronavírus por terem utilizado máscaras de proteção individual de um lote defeituoso.

As autoridades de saúde espanholas admitem que a falta de equipamentos de proteção individual para os profissionais fez aumentar os casos de infeção. Cerca de 15 por cento dos infetados em Espanha são profissionais de saúde.

O jornal espanhol El País revela que, o lote de máscaras em causa foi comprado à empresa chinesa Garry Galaxy para aliviar a falta de material de proteção individual.

O defeito no lote foi detetado na passada sexta-feira, mas as máscaras estavam a ser usadas há 10 dias, o que torna mais complicado saber quais e quantos profissionais foram afetados.

Espanha regista 21.282 mortos e 304.178 infetados com Covid-19.


Apesar de ainda existirem algumas máscaras a serem retiradas, várias comunidades já iniciaram o processo de identificação dos eventuais infetados.

Em Múrcia, mais de 1.100 profissionais foram isolados. Nas Ilhas Baleares, que utilizaram 2.800 máscaras do lote de 30 mil, tomaram a mesma medida.

Na sexta-feira, o responsável pela saúde no País Basco revelou que a comunidade recebeu 124 mil máscaras da marca Garry Galaxy, e que não se sabia quantas estavam defeituosas. Desse total, 13.200 foram distribuídas pelos profissionais e instituições de saúde, mas não sabemos quantas estavam com defeito.

Segundo os sindicatos as máscaras chegaram a todas as comunidades espanholas e a resposta dada foi desigual. Os médicos e os enfermeiros queixam-se de que ainda não têm máscaras FFP2 e FFP3, as que garantem maior proteção.

“O fornecimento de material de proteção individual é irregular e insuficiente. Essa é a tendência geral no sistema nacional de saúde. A grave situação foi ultrapassada com a chegada de equipamentos, mas a distribuição não é homogénea”, afirmou um médico ao El País.

Para já, é impossível saber quantos profissionais de saúde usaram as máscaras defeituosas entre 7 de abril, quando foram enviadas para os hospitais, e 18 de abril, quando o lote em causa foi retirado.
Mais de 31 mil profissionais de saúde infetados
Segundo o jornal espanhol El País, existem mais de 31 mil profissionais de saúde na lista oficial de infetados, com dezenas de vítimas mortais – 34 entre os médicos – embora o número real possa ser superior. Entre as equipas de enfermagem há mais de sete mil casos confirmados.

As queixas dos profissionais de saúde são gerais. O Ministério da Saúde já reconheceu uma relação entre o número de infetados e a falta de equipamentos de proteção individual.

Uma das causas desse elevado contágio pode ser devido ao facto de o pessoal não estar devidamente protegido. Primeiro, porque o risco de infeção representado pelos casos assintomáticos não era conhecido. E, mais tarde devido ao grande problema de escassez a nível global de material de proteção.
Espanha tenta recuperar dinheiro de testes
O Governo espanhol está a tentar recuperar o dinheiro que pagou pelos 640 mil testes que comprou através de um distribuídos espanhol à empresa chinesa Bioeasy.

A decisão surge depois de verificar que os testes com que a empresa pretendia substituir os originais, que são antigénicos mas usam um método diferente, também não funcionam.

O El País revela que, os testes de substituição não têm a sensibilidade necessária para detetar o novo coronavírus em infetados.

A Bioeasy enviou uma amostra dos testes para o Instituto de Saúde Carlos II (o equivalente ao Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge), que os enviou para uma análise que conclui que os kits não possuíam a sensibilidade necessária para detetar a Covid-19, pelo que Governo espanhol decidiu cancelar completamente a encomenda.

O Ministério da Saúde confirmou ao jornal espanhol que o pedido de reembolso foi iniciado para recuperar a verba gasta nos testes.
O Ministério continua sem revelar o preço exato que pagou à Bioeasy nem que é o intermediário espanhol envolvido no negócio.
Já no final de março, o Ministério da Saúde enviou 58 mil testes rápidos de diagnóstico, dos 640 mil comprados para iniciar testes maciços de profissionais de saúde, trabalhadores e residentes em lares de terceira idade.

No entanto, depois de vários laboratórios revelaram que a sensibilidade desses testes era de 30 por cento, quando, segundo as especificações, deveria exceder os 80 por cento, o Ministério da Saúde decidiu devolver a remessa dos 58 mil testes e cancelar a receção dos restantes. Em março, a China já tinha afirmado que a Bioeasy, com sede em Shenzhen, não tinha licença para vender produtos médicos e enviou a Espanha uma lista das empresas fiáveis.

Na altura, a empresa chinesa propôs substituir toda a encomenda por outro tipo de testes de antígeno, também rápido com resultados em cercas de 15 minutos, mas que necessitava de uma máquina para ler os resultados.

Os primeiros testes utilizavam o método coloidal e não necessitavam de nenhum equipamento (os kits incluíam todo o necessário para realizar 25 determinações, lidas como se fosse um teste de gravidez). O segundo, com o método de fluorescência, exigia um analisador e um leitor.
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