Espanha, Irlanda e Noruega avançam com reconhecimento do Estado Palestiniano

por Cristina Sambado - RTP
“O primeiro-ministro Netanyahu continua a fechar os olhos e a bombardear hospitais, escolas e casas” JJ Guillen - Efe via EPA

Os governos de Espanha, Noruega e Irlanda revelaram esta quarta-feira que vão reconhecer o Estado Palestiniano no próximo dia 28 de maio, com a esperança de que este gesto ajude à paz com Israel. O Governo israelita deu entretanto instruções para a retirada imediata dos embaixadores do Estado hebraico da Irlanda e da Noruega e chamou o embaixador em Madrid para "consultas".

Segundo o presidente do Governo espanhol, Netanyahu “põe em perigo” a solução de dois Estados no Médio Oriente.

Pedro Sánchez afirmou que o seu Executivo rejeita o que designou como “massacre em Gaza e no resto dos territórios palestinianos” e reiterou os seus pedidos de cessar-fogo e de implementação da solução de dois Estados.
“É por isso que quero informar que, depois de discutir a decisão com os dois partidos que compõem este Governo de coligação progressista - e de acordo com os sentimentos da maioria do povo espanhol - o gabinete espanhol irá aprovar o reconhecimento do Estado Palestiniano na terça-feira, 28 de maio”, anunciou Sánchez.
“O primeiro-ministro Netanyahu continua a fechar os olhos e a bombardear hospitais, escolas e casas. Continua a usar a fome, o frio e o terror para castigar mais de um milhão de rapazes e raparigas inocentes - e as coisas foram tão longe que os procuradores do Tribunal Penal Internacional pediram esta semana a sua prisão por crimes de guerra”
, acusou Sánchez.

O primeiro-ministro espanhol afirmou não ter qualquer dúvida de que Netanyahu “não tem um plano de paz para a Palestina”, acrescentando que está a causar tanta dor, destruição e amargura em Gaza e no resto da Palestina que a solução de dois Estados está agora em sério perigo.

“Os países que defendem os Direitos Humanos e o Direito Internacional são obrigados a atuar - na Ucrânia e na Palestina - sem dois pesos e duas medidas”, sublinhou Sánchez.
Ana Romeu - correspondente da RTP em Espanha

Hoje, a Irlanda, a Noruega e a Espanha anunciam que reconhecem o Estado da Palestina”, afirmou o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, em conferência de imprensa.

Segundo Harris, “cada um de nós irá agora tomar as medidas nacionais necessárias para dar efeito a essa decisão. Estou confiante que outros países se juntarão a nós para dar este importante passo nas próximas semanas.”

“Na preparação do anúncio de hoje, falei com uma série de outros líderes e homólogos e estou confiante de que outros países se juntarão a nós para dar este importante passo nas próximas semanas”, acrescentou.

O "reconhecimento da Palestina por parte da Irlanda será formalmente promulgado a 28 de maio", declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Micheal Martin, na rede social X.


 “No meio de uma guerra, com dezenas de milhares de mortos e feridos, temos de manter viva a única coisa que pode proporcionar um lar seguro para israelitas e palestinianos: dois Estados que possam viver em paz um com o outro”, afirmou o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Støre, numa conferência de imprensa, esta quarta-feira. Os membros da União Europeia Eslovénia e Malta também indicaram nas últimas semanas que tencionam fazer o reconhecimento, argumentando que uma solução de dois Estados é essencial para uma paz duradoura na região.

Segundo Jonas Gahr Støre, “o objetivo é conseguir um Estado Palestiniano que seja coeso e que derive da Autoridade Palestiniana”.

O primeiro-ministro norueguês afirmou o país escandinavo irá reconhecer oficialmente o Estado palestiniano a partir de 28 de maio.

A Noruega, que não é membro da União Europeia, há muito que afirma que só reconhecerá a Palestina como país se esta puder ter um impacto positivo no processo de paz, em sintonia com o que os Estados Unidos têm dito sobre a questão.

A Noruega é um aliado próximo dos EUA e o país nórdico tentou ajudar a mediar a paz entre Israel e os palestinianos em várias ocasiões nas últimas décadas.

Antes do anúncio, cerca de 143 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas reconheciam um Estado palestiniano.

Os países europeus abordaram a questão de forma diferente. Alguns, como a Suécia, reconheceram um Estado palestiniano há uma década, enquanto a França não tenciona fazê-lo, a menos que este possa ser um instrumento eficaz para fazer avançar a paz.

Estas decisões surgem numa altura em que as forças israelitas atacaram, em maio, as fronteiras norte e sul da Faixa de Gaza, provocando um novo êxodo de centenas de milhares de pessoas, e restringiram drasticamente o fluxo de ajuda, aumentando o risco de morte.
“Retirada imediata” de embaixadores na Irlanda e Noruega
“Dei instruções para a retirada imediata dos embaixadores de Israel na Irlanda e na Noruega para consultas, à luz das decisões destes países de reconhecer um Estado palestiniano”, avançou ministro israelita dos Negócios Estrangeiros de Israel, Israel Katz, na rede social X.


O governante acrescenta que está a “a enviar uma mensagem clara e inequívoca à Irlanda e à Noruega: Israel não ficará em silêncio perante aqueles que minam a sua soberania e põem em perigo a sua segurança”.

A decisão de hoje envia uma mensagem aos palestinianos e ao mundo: O terrorismo compensa. Depois de a organização terrorista Hamas ter levado a cabo o maior massacre de judeus desde o Holocausto, depois de ter cometido crimes sexuais hediondos testemunhados pelo mundo, estes países optaram por recompensar o Hamas e o Irão reconhecendo um Estado palestiniano”.

O governante israelita afirmou ainda que “se Espanha levar por diante a sua intenção de reconhecer um Estado palestiniano, será tomada uma medida semelhante”. A decisão vai ser aprovada no Concelho de Ministros da próxima semana.

Para o ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, “este passo distorcido destes países é uma injustiça para com a memória das vítimas do dia 7/10, um golpe nos esforços para o regresso dos 128 reféns e um incentivo aos jihadistas do Hamas e do Irão, o que mina a possibilidade de paz e põe em causa o direito de Israel à autodefesa”.

“A insensatez irlandesa-norueguesa não nos dissuade; estamos determinados a atingir os nossos objetivos: restabelecer a segurança dos nossos cidadãos, desmantelar o Hamas e trazer os reféns para casa. Não há causas mais justas do que estas”, remata.
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