Erdogan vai apoiar adesão da Suécia à NATO, diz Stoltenberg

por Andreia Martins - RTP
Yves Herman - Reuters

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, concordou em encaminhar para o Parlamento turco a proposta para a entrada da Suécia na NATO, anunciou esta segunda-feira o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg.

"Tenho o prazer de anunciar que o presidente Erdogan concordou em encaminhar o protocolo de adesão da Suécia à Grande Assembleia Nacional o mais rápido possível e em trabalhar em estreita colaboração com a Assembleia para garantir a ratificação [da adesão]", adiantou Jens Stoltenberg em conferência de imprensa.

O anúncio surge um dia antes do início da cimeira da Aliança Atlântica, em Vilnius, na Lituânia. O protocolo de adesão será enviado para receber a ratificação do Parlamento turco.

"É um dia histórico, é um compromisso verdadeiro", disse o secretário-geral da NATO, sem adiantar qualquer data para a ratificação turca. Assegura, no entanto, que esta vai acontecer "o mais rápido possível".

No Twitter, o secretário-geral da NATO adiantou que a Turquia concordou em encaminhar o protocolo de adesão da Suécia após uma reunião com entre o presidente Erdogan e  primeiro-ministro sueco, mediado por Jens Stoltenberg. 

"Este é um passo histórico que torna todos os aliados da NATO mais fortes e seguros", acrescentou o representante da aliança atlântica.

O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, considerou que este é "um passo muito grande" para o país. "É um bom dia para a Suécia", acrescentou.

Joe Biden, que chegou a Vilnius poucas horas antes do anúncio de Stoltenberg, saudou o acordo e disse estar "ansioso" por acolher a Suécia como 32.º Estado-membro da NATO.

"Estou pronto para trabalhar com o Presidente Erdogan e a Turquia para fortalecer a defesa e a dissuasão na região euro-atlântica", sublinhou o presidente norte-americano em comunicado.

No Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considera que foi dado "um passo histórico" em Vilnius. "Saúdo o importante passo que a Turquia prometeu dar para ratificar a adesão da Suécia à NATO", acrescentou.
Porta aberta para a Europa?
A declaração de Stoltenberg sobre a "luz verde" por parte da Ancara surge algumas horas depois de uma declaração surpreendente de Erdogan, em que o presidente turco parecia vincular a entrada da Suécia na NATO à adesão da Turquia à União Europeia.

“Estou a apelar daqui a estes países que há mais de 50 anos fazem a Turquia esperar à porta da União Europeia. (...) Primeiro, venham e abram caminho à Turquia na União Europeia e depois abriremos caminho à Suécia, tal como fizemos com a Finlândia”, argumentou Recep Tayyip Erdogan.

Esta segunda-feira, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, esteve reunido com Recep Tayyip Erdogan. "Explorámos oportunidades futuras para trazer a cooperação entre União Europeia e Turquia de volta ao primeiro plano e revigorar as nossas relações", adiantou o responsável europeu através do Twitter.
Desde 1987 que a Turquia tem procurado aproximar-se do bloco europeu, com as negociações a iniciarem-se em 2005. O processo de adesão encontra-se numa situação de impasse desde 2018.
Num comunicado divulgado após a reunião trilateral, Suécia e Turquia comprometem-se a trabalhar em estreita colaboração no combate ao terrorismo e ainda no fortalecimento de laços comerciais.

Por outro lado, a Suécia compromete-se a "apoiar ativamente os esforços para revigorar o processo de adesão da Turquia à União Europeia" e ainda "a liberalização de vistos". 

Estocolmo deixou também a garantia a Ancara que não irá apoiar "organizações terroristas" e que será criado um novo mecanismo de segurança bilateral entre os dois países. Vários meses de impasse
Mesmo com este princípio de acordo, a Suécia irá participar na cimeira da NATO, em Vilnius, como país convidado na condição de candidato. Por sua vez, a Finlândia irá participar pela primeira vez como o 31.º Estado-membro meses após a integração, em abril último.A Turquia e a Hungria são os dois únicos países da NATO que ainda não aprovaram a candidatura da Suécia. Na passada quinta-feira, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, garantiu que Budapeste está preparada a garantir a ratificação da adesão sueca.

Recorde-se que os dois países nórdicos apresentaram simultaneamente o pedido de adesão à Aliança Atlântica em maio de 2022, meses após o início da invasão russa à Ucrânia, colocando um ponto final a várias décadas de neutralidade.

No entanto, o processo da Suécia ficou bloqueado devido à oposição turca.
Ancara acusou Estocolmo de dar asilo a elementos do PKK, que a Turquia considera uma organização terrorista.

A Suécia concordou com a extradição de alguns dissidentes para a Turquia, tal como Erdogan  exigira na Cimeira da NATO em Madrid, em 2022, mas não cedeu a todas as exigências turcas.

Entre os momentos de maior tensão, destaque para a recusa por parte de Estocolmo em extraditar um jornalista acusado de apoiar o PKK ou quando um homem queimou uma cópia do Alcorão em frente a uma mesquita em Estocolmo.

c/ agências
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