A maioria dos equatorianos votou este domingo, em referendo, pela interrupção da produção de petróleo num depósito emblemático da reserva amazónica de Yasuni, no leste do Equador.
No referendo, realizado no domingo juntamente com as eleições gerais antecipadas, 59% dos equatorianos disseram `sim` à suspensão da produção do "Bloco 43", de onde são extraídos 12% dos 466 mil barris/dia produzidos no Equador, de acordo com os resultados divulgados esta segunda-feira.
Solicitada há dez anos por um grupo ambientalista, esta consulta nacional foi finalmente autorizada em maio pelo mais alto tribunal do país.
Embora outros campos petrolíferos ainda estejam em operação no Parque Yasuni, o Bloco 43 tornou-se um símbolo da democracia climática e chamou a atenção de celebridades e ativistas globais que acompanharam de perto o referendo.
A estrela de Hollywood Leonardo DiCaprio, que fez campanha pelo voto no `sim`, saudou o referendo como "um exemplo de democratização da política climática".
A ativista sueca Greta Thunberg, também envolvida no referendo, escreveu na rede social Instagram: "Isto é ação climática".
A petrolífera nacional Petroecuador, até agora autorizada a operar em cerca de 300 hectares de Yasuni, embora afirme que mal explorou 80 hectares, sublinhou, em comunicado divulgado esta segunda-feira, que cumpriria a "decisão soberana" dos equatorianos.
O governo, que se opôs a esta consulta, estimou as perdas em 16,47 mil milhões de dólares ao longo de 20 anos, caso o encerramento avance.
Reserva de biodiversidade única, Yasuni estende-se por quase um milhão de hectares de floresta húmida e primitiva. É também uma terra indígena: território histórico dos Waorani, é também o lar dos Kichwa, assim como dos Tagaeri, dos Taromenane e dos Dugakaeri, as últimas comunidades que vivem em isolamento voluntário no Equador e fogem da civilização moderna.
"Hoje, o Equador deu um passo gigante para proteger a vida, a biodiversidade e os povos indígenas!", comemoraram na rede X (antigo Twitter) as duas principais organizações indígenas do país, Confeniae e Conaie.
O grupo ambientalista Yasunidos, por trás do referendo, saudou "uma vitória histórica para o Equador e para o planeta".
Por sua vez, um coletivo de organizações não-governamentais (ONG), incluindo Amazon Frontlines, Yasunidos e Alianza Ceibo, salientaram que "o Equador se torna o primeiro país do mundo a interromper a exploração de petróleo graças à democracia climática direta".
A exploração do petróleo tem sido um dos pilares da economia `dolarizada` do Equador desde a década de 1970.
O petróleo bruto, o principal produto de exportação do país, gerou receitas de 10 mil milhões de dólares em 2022, ou aproximadamente 10% do Produto Interno Bruto (PIB).
Também no domingo, num outro referendo, mas de âmbito local, os moradores do distrito metropolitano de Quito votaram 68% pela cessação da mineração em seis pequenas cidades da periferia da capital, no território de Choco Andino, com 287 mil hectares de floresta, declarada reserva da biosfera pela Unesco.
A área é frequentemente descrita como o pulmão de Quito e é o lar do urso andino.