O tribunal de Paris condenou hoje as oito pessoas acusadas de cumplicidade no assassinato do professor francês Samuel Paty, decapitado por um `jihadista` na sua escola secundária nos arredores de Paris em 2020, com penas até 16 anos.
Naïm Boudaoud e Azim Epsirkhanov, os dois amigos do assassino do professor francês Samuel Paty, foram considerados culpados de cumplicidade no homicídio e condenados na sexta-feira a 16 anos de prisão criminal.
Os dois autores da campanha de ódio contra o professor, Brahim Chnina e Abdelhakim Sefrioui, foram, por sua vez, considerados culpados de conspiração terrorista e condenados, respetivamente, a 13 e 15 anos de prisão criminal.
Paty foi morto perto de Paris dias depois de ter mostrado à sua turma caricaturas do profeta Maomé durante um debate sobre a liberdade de expressão.
O atacante, um russo de 18 anos de origem tchetchena, foi morto a tiro pela polícia.
Os condenados foram acusados, em alguns casos, de prestar assistência ao autor do crime e, noutros, de organizar uma campanha de ódio `online` antes de o homicídio ter ocorrido.
Desde 04 de novembro que oito pessoas, com diferentes graus de envolvimento no crime, estavam a comparecer em tribunal.
A morte chocante de Paty, de 47 anos, deixou uma marca em França, e várias escolas têm agora o seu nome.
Os procuradores solicitaram penas que variavam entre 18 meses de prisão com pena suspensa e 16 anos de prisão contra os arguidos.
O procurador nacional antiterrorismo pediu ao tribunal que rebaixasse os crimes de quatro dos oito arguidos, provocando o desagrado da família de Paty.
Além disso, o Ministério Público retirou a acusação de cumplicidade a favor de uma acusação menor de associação com uma empresa terrorista contra os dois jovens acusados de prestar apoio logístico ao assassino. Pediu 14 anos de prisão para Naïm Boudaoud e 16 anos para Azim Epsirkhanov.
O ataque ocorreu num contexto de protestos em muitos países muçulmanos e de apelos `online` à violência contra a França e o jornal satírico francês Charlie Hebdo.
O jornal republicou as suas caricaturas do profeta Maomé algumas semanas antes da morte de Paty para assinalar a abertura do julgamento sobre os ataques mortais de 2015 à sua redação por parte de extremistas islâmicos.
As imagens dos desenhos ofenderam profundamente muitos muçulmanos, que as consideravam um sacrilégio.
Mas as consequências do assassinato de Paty reforçaram o compromisso do Estado francês com a liberdade de expressão e o seu firme apego ao secularismo na vida pública.
Muita atenção no julgamento centrou-se em Brahim Chnina, o pai muçulmano de uma adolescente que tinha 13 anos na altura e alegou que ela tinha sido excluída da aula de Paty quando ele mostrou as caricaturassem 05 de outubro de 2020.
Chnina, de 52 anos, enviou uma série de mensagens aos seus contactos a denunciar Paty, dizendo que "este homem doente" precisava de ser despedido, juntamente com a morada da escola no subúrbio parisiense de Conflans Saint-Honorine. Na verdade, a filha de Chnina mentiu-lhe e nunca assistiu à aula em questão.
Chnina foi acusado de alegada associação a uma empresa terrorista por ter atacado o professor de 47 anos através de informações falsas. O Ministério Público pediu-lhe uma pena de 10 anos de prisão