Enviado norte-americano defende divisão da Ucrânia num acordo de paz

por RTP
Reuters

Dividir a Ucrânia como se dividiu Berlim depois da Segunda Guerra Mundial é a mais recente proposta dos Estados Unidos. O enviado especial do presidente norte-americano Keith Kellogg sugeriu a divisão do país em três zonas separadas num acordo de paz com a Rússia, que ficaria com os territórios que ocupou durante o conflito.

Numa entrevista ao jornal Times, Kellogg defendeu que o país poderá ser dividido em três zonas de controlo após um acordo de paz. No oeste ficaria uma "força de segurança" liderada pelo Reino Unido e pela França. E a leste do rio Dnipro ficariam as tropas ucranianas.

Quanto aos territórios ucranianos atualmente sob ocupação passariam a ser controlados pelas forças russas.

"Quase poderia fazer-se algo parecido com o que aconteceu a Berlim depois da Segunda Guerra Mundial, quando havia uma zona russa, uma zona francesa, uma zona britânica e uma zona americana", disse, este sábado.

Embora o Kremlin tenha rejeitado repetidamente a ideia de as tropas europeias monitorizarem um cessar-fogo na Ucrânia, Kellogg disse que uma força liderada pelo Reino Unido e pela França no oeste da Ucrânia "não seria nada provocatória" para a Rússia.

"Estaria a oeste [do Dnipro], o que é um grande obstáculo", disse o general norte-americano, que apesar de ser enviado para a Ucrânia tem sido secundarizado no papel em relação a Steve Witkoff, que é o emissário de Donald Trump para o Médio Oriente.

Kellogg propôs ainda a criação de uma zona desmilitarizada de 29 quilómetros no leste da Ucrânia, ao longo da atual linha da frente, para servir de barreira entre as tropas russas e ocidentais.

"Olha-se para um mapa e cria-se, à falta de melhor termo, uma zona desmilitarizada [DMZ]. Levem-se ambos os lados 15 quilómetros para trás", disse Kellogg.

"E teríamos uma DMZ que pode ser monitorizada, e esta (...) zona de cessar-fogo pode ser monitorizada com bastante facilidade", adiantou.

O general norte-americano admitiu que a Rússia pode não aceitar a proposta e que as condições do cessar-fogo poderão ser violadas.

"Agora, haverá violações? Provavelmente, porque há sempre. Mas a nossa capacidade de monitorizar isso é fácil".

Kellogg disse ainda que Washington não enviaria quaisquer tropas terrestres para a força de segurança na Ucrânia. E alertou a França e o Reino Unido para não contarem com o apoio norte-americano à aliança de países europeus e da Commonwealth que se comprometeram a fornecer garantias de segurança à Ucrânia após um cessar-fogo.

"Planeiem sempre para o pior cenário", aconselhou.

Kellogg acrescentou ainda que a força de segurança da coligação seria capaz de enviar uma mensagem eficaz ao Presidente russo, Vladimir Putin.

Os comentários de Kellogg marcam a primeira vez que uma alta autoridade norte-americana propõe o Dnipro como uma linha de demarcação na Ucrânia no pós-guerra.

A proposta surge no mesmo dia em que o enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff, se encontrou em São Petersburgo com o Presidente russo, Vladimir Putin, para discutir um futuro acordo de paz na Ucrânia.

O plano de Kellogg para dividir a Ucrânia, no entanto, implicaria deixar sob controlo russo as regiões ocupadas ilegalmente, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já afirmou que o seu país nunca reconhecerá estes territórios como legalmente russos.

Recorde-se que, em novembro, os serviços secretos ucrnianos já tinham denunciado que a Rússia tinha um plano para dividir a Ucrânia em três partes.

C/agências
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