Isabel dos Santos admite ser candidata à presidência de Angola. A empresária e filha do antigo presidente José Eduardo dos Santos considera que está a ser objeto de perseguição judicial em Luanda para ser neutralizada politicamente. O Tribunal de Luanda arrestou as suas contas bancárias e as suas participações em empresas por considerar que os seus negócios prejudicaram o Estado mais de mil milhões de euros. Vitor Gonçalves entrevistou Isabel dos Santos em Londres.
Rejeitando qualquer irregularidade relativamente a estes financiamentos, Isabel dos Santos vê antes o processo de que é atualmento alvo na Justiça angolana como uma forma de “neutralização de futuros candidatos políticos”.
A empresária fala numa procura de eliminação de figuras que podem vir a ter protagonismo no futuro de Angola, nomeadamente no futuro político do país. No final da entrevista à RTP, Isabel dos Santos admite como possível concorrer ao lugar que durante 38 anos foi ocupado pelo seu pai.
É a primeira vez que Isabel dos Santos admite esta possibilidade. Até aqui, considerava que a família dos Santos não era uma dinastia política e que a sua vida eram os negócios e as empresas, mas a situação judicial em que se encontra poderá colocar este cenário em cima da mesa.
As próximas eleições presidenciais em Angola estão agendadas para 2022. Se esta vontade se concretizar, poderemos ter um confronto político até há pouco fora das cogitações mais atrevidas: a herdeira do antigo Presidente contra João Lourenço, o rosto do novo poder.
O processo judicial
São vários os negócios envolvendo Isabel dos Santos que estão a ser colocados em questão pela Justiça angolana. De Grisogono, Sonangol ou Sodiam são algumas das empresas que surgem na rede de interesses, aquisições e participações do património empresarial daquela que é ainda conhecida como uma das mulheres mais ricas do Continente Africano.
“Por isso, essas alegações chocam-me bastante, surpreenderam-me”, afirmou, para reiterar o argumento que vem esgrimindo nas últimas semanas: “Não me foi dada a oportunidade de todo de me defender (…) não fomos informados de que havia um procedimento no Tribunal de Luanda. Nunca recebi uma notificação (…) Nunca nos foi dada ocasião de prestar nenhum esclarecimento”.
Isabel dos Santos admite assim estar a viver “um momento bastante difícil” face a alegações que está “a levar muito a sério”.
De uma forma genérica, as alegações da Justiça acusam a empresária de lesar o Estado angolano em cerca de 1.136 milhões de dólares, “uma sentença baseada em várias mentiras”, defende-se.
Investimento na Galp e aquisição da Grisogono
Sobre o investimento angolano na Galp, ideia que Isabel dos Santos diz ter partido do empresário português Américo Amorim, o Ministério Público angolano sustenta que a sociedade ESPERAZA (participada por EXEM e Sonangol), que detém 33% da energética portuguesa, foi constituída com um capital de 193 milhões de euros oriundo da Sonangol e que a filha do ex-presidente terá ficado de devolver 75 milhões à mesma Sonangol, o que não fez.
Isabel dos Santos escuda-se com acordos que diz terem sido assinados no sentido de regularizar essa contabilidade e que garante estarem a ser cumpridos: a Sonangol entrou com o dinheiro, devendo a Exem devolver 40% dessa fatia, o equivalente a 75 milhões de euros.
Um negócio quer está igualmente a ensombrar a imagem da empresária angolana é a aquisição da De Grisogono, uma joalheira suíça que se diz ter sido adquirida fruto de uma injecção de capital do Estado angolano na ordem dos 140 milhões de dólares.
Empresária fala de processo político
Face ao rol de acusações, Isabel dos Santos refere o que diz ser a evidência de que “o processo é político e não um processo comercial”, para garantir que nada tem a ver com a Grisogono.
Isabel dos Santos considerou que existe aqui a eliminação de figuras que podem vir a ter protagonismo no futuro de Angola antes de admitir que a candidatura ao cargo de Presidente não é um cenário que coloque de parte.
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