Encontro histórico. Trump e Kim Jong-un assinam documento conjunto em Singapura

por Andreia Martins - RTP
Reuters

O Presidente dos Estados Unidos e o líder norte-coreano assinaram esta terça-feira em Singapura "um importante e detalhado documento", afirmou Donald Trump. Entre os principais objetivos estão o início de “novas relações” entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte e ainda a “completa desnuclearização” de Pyongyang.

A cimeira de Singapura começou com um aperto de mão histórico e inédito entre Donald Trump e Kim Jong-un e terminou com a assinatura de um documento final onde os líderes se comprometeram em trabalhar numa "nova relação" entre dois países que estiveram mais de 70 anos de costas voltadas.

Ao fim de quatro horas de encontro entre os dois líderes - 40 minutos de conversação a sós, só depois com as respetivas equipas de negociação - Kim Jong-un recebeu ainda o convite do Presidente norte-americano para visitar a Casa Branca.


Quatro pontos essenciais

Entre as principais conclusões deste documento, dividido em quatro pontos principais, está o compromisso no estabelecimento de novas relações entre a República Democrática Popular da Coreia - o nome formal da Coreia do Norte - e os Estados Unidos, a fim de alcançar "paz e prosperidade", de acordo com a "vontade" dos dois povos.

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Os dois líderes deixaram ainda promessa de "esforço conjunto" por parte de Washington e Pyongyang na promoção da paz e segurança da Península Coreana e Donald Trump comprometeu-se ainda em promover "garantias de segurança" ao regime norte-coreano.

Pyongyang mostrou-se empenhada em trabalhar rumo à "completa desnuclearização" da península, tal como já tinha prometido na declaração de Panmunjom, a 27 de abril de 2018, no encontro entre Kim Jong-un e Moon Jae-in junto à fronteira entre as duas Coreias. No entanto, não ficaram definidos os detalhes de como essa desnuclearização vai ser alcançada.


No quarto ponto do documento, os dois países prometem ainda a recuperação dos restos mortais de soldados prisioneiros de guerra e desaparecidos em combate, os prisioners of war e missing in action (POW/MIA, as siglas usadas no documento), bem como a "imediata repatriação" dos que já foram identificados.

Ainda assim, não houve qualquer referência à assinatura de um tratado de paz, que continua por alcançar. A Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953 - em que a Coreia do Norte, apoiada pela União Soviética, combateu contra a Coreia do Sul, apoiada pelos Estados Unidos - terminou com um armistício.
Acordo abrangente?
No final do encontro, que decorreu esta terça-feira na cidade-estado de Singapura, Donald Trump descreveu o documento final, assinado pelos dois líderes, como uma declaração “abrangente” em que os dois países resolveram “deixar o passado para trás”.

“O mundo vai ver uma mudança enorme”, assegurou ainda o Presidente norte-americano.

Trump disse ainda que estabeleceu “laços muito especiais” com Kim Jong-un durante o encontro e que a relação com a Coreia do Norte será, a partir de agora, muito diferente.

O Presidente norte-americano disse ainda que o líder norte-coreano é “muito inteligente” e um negociador “muito digno e difícil”.

Uma mudança radical de tom para com o líder norte-coreano, ainda em setembro do ano passado tenha prometido a "destruição total da Coreia do Norte" e apelidado Kim Jong-un de "Rocket Man".

“Vi que ele é um homem muito talentoso. Também vi que ele gosta muito do seu país”, acrescentou. Donald Trump referiu também que o encontro “correu melhor do que o esperado”.

Por sua vez, o líder norte-coreano diz que o resultado desta cimeira constitui “um bom prelúdio para a paz” e que os dois países "decidiram deixar o passado para trás".

No entanto, especialistas e peritos na matéria criticam um acordo vago e pouco específico. O próprio secretário de Estado, Mike Pompeo, que participou nesta cimeira ao lado de Trump, considera que o encontro definiu os parâmetros “do trabalho árduo que se vai seguir”.

Robert Kelly, professor de ciência política na Pusan National University, considerou que as conclusões do texto final são “ainda mais magras do que o que tinha sido antecipado por grande parte dos céticos”.


Entre as principais omissões apontadas pelos analistas estão questões como as sanções económicas impostas ao regime norte-coreano, mas também o programa de mísseis balísticos de Pyongyang ou a ausência de detalhes sobre o que representa e como será feita a "total desnuclearização" prometida no documento.

Julian Borger, do jornal The Guardian, destaca que o ponto 3, sobre a desnuclearização, constitui a questão central do documento assinado pelos dois líderes. Um ponto que, considera, está "bastante fraco, certamente muito distante do rápido desarmamento prometido antes da cimeira" pela Administração Trump.

"A Coreia do Norte diz que vai trabalhar em direção à desnuclearização, que é uma palavra muito frágil em diplomacia", nota o editor de assuntos internacionais do diário britânico.
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