A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reuniu-se hoje em Nova Iorque e abordou temas como alterações climáticas e os incêndios em Portugal, mas deixou de fora a questão da presidência da organização em 2025 pela Guiné-Bissau.
No final do "almoço-encontro", que decorreu num hotel nova-iorquino, o chefe de Estado de São Tomé e Príncipe - país que detém a presidência rotativa da CPLP - indicou à Lusa que "não havia enquadramento" para que o tema da presidência guineense fosse abordado.
"Não havia enquadramento para tal. A Guiné-Bissau já tinha sido unanimemente indigitada para acolher a próxima Presidência. Portanto, este quadro não permitiria sequer debater ou levantar essa questão", disse à Lusa o Presidente de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova.
De acordo com o chefe de Estado, caso haja necessidade "de abordar questões como essas, ou outras com a mesma profundidade, tem que ser num quadro próprio, como numa cimeira que seja extraordinária".
"Mas, até ao momento, não há razões para tal e aguardemos. Ainda falta cerca de um ano para a próxima Presidência e, até lá, veremos", acrescentou.
À saída do encontro em Nova Iorque, o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, garantiu à Lusa que o seu país está pronto para receber a presidência rotativa da CPLP, mas recusou-se a responder a mais perguntas.
Algumas fontes diplomáticas chegaram a admitir que a questão da assunção da presidência da organização no próximo ano pela Guiné-Bissau poderia ser levantada durante este encontro em Nova Iorque.
Na última reunião de Chefes de Estado e de Governo, que decorreu em São Tomé e Príncipe, em agosto de 2023, quando este país assumiu a presidência, ficou decidido que seria a Guiné-Bissau o próximo Estado-membro a assumir a liderança, em 2025, por dois anos.
Mas, dada a situação política neste país, os Estados-membros poderão pronunciar-se sobre o local da próxima cimeira.
O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o parlamento em 04 de dezembro de 2023, alegando uma grave crise política, e convocou eleições legislativas antecipadas para 24 de novembro deste ano.
Já este ano, o Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros e Relações Exteriores da CPLP confirmou o local, Guiné-Bissau, e a data de 17 de julho de 2025, para a realização da próxima cimeira.
No entanto, segundo as fontes diplomáticas, a decisão final é da competência dos chefes de Estados e de Governo.
Ainda sobre esse assunto, o primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, disse hoje à Lusa "não há nada que tenha sido dito ou feito que deixe a pensar que não será" a Guiné-Bissau a presidir a CPLP no próximo ano.
"A Presidência da Guiné-Bissau foi decidida na Cimeira de São Tomé. E, desde então, não há nada de novo. A Guiné-Bissau irá organizar eleições. Um dos objetivos da CPLP é que elas decorram uma maneira transparente, de uma maneira credível, inclusiva e esperemos que assim aconteça, declarou o primeiro-ministro.
"A partir do momento em que as instituições estão a funcionar de uma maneira regular, eu penso que não há problema em os países assumirem uma decisão que foi tomada consensualmente já há mais de um ano. Vamos ver. O que importa não é questão da Presidência. O que importa é que as eleições corram da melhor maneira possível na Guiné-Bissau, para bem dos guineenses", defendeu.
No "almoço-encontro" de hoje em Nova Iorque, os líderes mantiveram "uma conversa descontraída e não vinculativa", indicou Carlos Vila Nova, destacando que as alterações climáticas estiveram no centro das discussões.
"Todos sofremos [com as alterações climática]. Também falamos dos incêndios em Portugal, do próximo Orçamento em Portugal, das eleições em Moçambique. Havia assuntos suficientes para irmos falando de uma forma muito descontraída e nos sentirmos mais próximos e sentirmos que a CPLP é uma organização com critérios bem definidos de paz, democracia, de direitos humanos e onde os membros se entreajudam, não se dilaceram", afirmou.
De acordo com os líderes são-tomenses, o encontro foi também uma oportunidade para uma despedida do Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, em final de mandato, e para assinalar o aniversário de Umaro Sissoco Embaló, que se celebra hoje.
Os Estados-membros da CPLP são Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.