Empresário dos EUA de ascendência Balanta visita Guiné-Bissau para iniciar projetos

por Lusa

O empresário e atleta norte-americano Siphiwe Baleka, de ascendência balanta, chega esta sexta-feira a Bissau para uma estadia de dez dias durante a qual irá reunir-se com o governo e com a comunidade étnica.

Baleka traz na mala 100 livros de vocabulário ilustrados balanta-inglês para entregar a crianças que vivem em zonas isoladas, editados pela Sociedade de Preservação da Língua Balanta B`urassa na América, da qual é cofundador.

"Quero fazer o que puder para ajudar os Balanta e o povo da Guiné Bissau", disse à Lusa o nadador, CEO da empresa Fitness Trucking e responsável de saúde e bem-estar da Prime Inc.

"Como empresário de sucesso nos Estados Unidos, tenho uma razão particular para vir, fazer negócios e projetos de desenvolvimento", disse.

A agenda oficial inclui visitas às comunidades Balanta em Bissau, Nhacra e Mansoa, à Escola Normal Superior Tchico Té, ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) e à Universidade Amílcar Cabral, além de reuniões com oficiais governamentais.

Entre os projetos que Baleka tem em vista está a promoção da Guiné-Bissau como destino turístico para os afro-americanos que identificarem as suas raizes no país através de testes genéticos, um movimento de grandes proporções que está a acontecer nos EUA.

"A maioria dos afro-americanos não sabem de onde vêm originalmente", afirmou o empresário. "Há um movimento nos Estados Unidos de pessoas que estão a descobrir a sua ascendência e querem reconectar-se a ela".

É um fenómeno que acontece paralelamente ao "Ano do Regresso" em África, indicou Baleka, "um momento na história em que os descendentes das pessoas que foram levadas no comércio de escravos estão a voltar para fazer negócios, turismo ou mesmo viver".

O empresário referiu a importância do movimento no Gana e noutros locais, como Serra Leoa, Gabão, Nigéria e Camarões, mas disse acreditar que "a Guiné Bissau pode fazê-lo melhor que os outros países" porque "tem vantagens únicas".

É nesse sentido que o empresário pretende iniciar projetos. "O que quero discutir com o governo é a nossa visão de como podem começar também a beneficiar do turismo de herança étnica", disse, acrescentando que, além da ligação genética, "há uma história particular [da Guiné-Bissau] que interessaria aos afro-americanos".

Uma das questões que Baleka quer abordar é a dificuldade de obtenção de vistos para os norte-americanos que querem visitar o país, "e isso tem levado pessoas a desistir de viajar".

Licenciado em Yale, Siphiwe Baleka descobriu a sua ascendência balanta através de um teste de ADN em 2010, tendo identificado a 5ª geração de avô, que foi capturado entre 1760 e 1770 e levado para os Estados Unidos através do porto de Charleston, na Carolina do Sul. Na ultima década, tornou-se perito na origem e trajeto migratório da etnia, tendo publicado três volumes sobre a sua história: "Balanta B`urassa, My Sons: Those Who Resist Remain", I, II e III.

"Também me tornei ativista e comecei a tentar identificar e organizar os outros afro-americanos de ascendência balanta e ajudá-los a encontrar a genealogia das suas famílias", afirmou.

Baleka estima que haja 30 mil descendentes de balanta nos Estados Unidos identificáveis através de testes de ADN e um número adicional indeterminado porque ninguém nas suas famílias fez qualquer teste genético.

Com a organização sem fins lucrativos Sociedade de História e Genealogia Balanta B`urassa na América, Baleka está a produzir materiais didáticos e a ensinar os interessados a falar a língua.

"Temos muitas ideias para trabalhar no futuro", afirmou.

A visita à Guiné-Bissau tem também um significado pessoal para Baleka: "sinto esta necessidade de reivindicar o que me foi tirado, a minha herança balanta, a cultura, língua, espiritualidade do meu antepassado, que lhe foram roubadas", disse.

"Sou a primeira pessoa na minha família a voltar à pátria depois de 250 anos".

Após esta visita inicial, Baleka regressará no final de maio com um grupo de 13 descendentes balanta "para terem uma experiência de regresso a casa", que o empresário acredita poder ser "o pontapé de saída" numa nova era de turismo.

"Quando fizermos isso, os outros grupos étnicos vão querer ir também", projetou.

"A Guiné Bissau vai assistir a um fluxo de pessoas vindas dos Estados Unidos que identificaram os seus ascendentes e querem conectar-se. Quero ajudar a o país a preparar-se para os receber", afirmou, considerando que "haverá um aumento do fluxo de capitais só por causa do turismo" e que, no futuro, isso gerará "oportunidades para investimento e desenvolvimento".

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