A Smartmatic, a empresa responsável pelo sistema de votos da Venezuela, denunciou esta quarta-feira que os números da votação foram manipulados. O líder da empresa diz que não há qualquer dúvida que tenha havido manipulação, falando numa diferença de pelo menos um milhão de votos.
O presidente executivo da Smartmatic acrescentou que a empresa estima que “a diferença entre a participação real e a participação anunciada pelas autoridades seja de pelo menos um milhão de votos”.
A informação prestada pela Smartmatic surge depois de a Reuters ter avançado que, uma hora e meia antes do fecho das urnas, tinham votado apenas 3,7 milhões de pessoas. No fim da votação, o Governo garantiu que oito milhões participaram na eleição.
Os dados da Reuters baseiam-se na informação da própria comissão eleitoral. Os números indicam que 3.720.465 pessoas votaram até às 17h30 nos 14.515 locais de voto. As autoridades decidiram depois fechar a votação às 19h00, tendo depois anunciado que 8,1 milhões de pessoas votaram. Ou seja, mais de quatro milhões de pessoas teriam votado na última hora e meia.
“Apesar de ser possível uma forte ida às urnas no fim do dia e de o Partido Socialista já o ter tentado fazer no passado, duplicar os votos na última hora e meia seria sem precedentes”, analisou para a agência noticiosa Jennifer McCoy, politóloga que já fez missões de observação em várias eleições venezuelanas.
A eleição para a Assembleia Nacional Constituinte foi anunciada em maio de 2017 por Nicolás Maduro, gerando críticas da comunidade internacional e da oposição. A oposição decidiu mesmo não participar na eleição.
Uma pouco expressiva participação na eleição para a Constituinte apresentar-se-ia como uma derrota para Nicolás Maduro. Afinal, no dia de 16 de julho, a oposição organizou uma consulta simbólica contra o Governo de Nicolás Maduro que recolheu mais de 7,5 milhões de votos.
120 mortos
A votação para a Assembleia Constituinte é vista pela oposição como uma forma de Maduro acabar com o poder do Parlamento, onde a oposição tem maioria.
O regime de Caracas alega que a Constituinte deverá promover uma nova Constituição para recuperar a economia, estabilizar politicamente o país, dar segurança ao povo, promover a paz e reconstruir a igualdade, e fortalecer a defesa nacional perante "ataques imperialistas".
A oposição venezuelana acusa Maduro de pretender usar a reforma para instaurar no país um regime cubano e perseguir, deter e calar as vozes dissidentes. Depois da votação de domingo, Caracas já colocou em prisões militares dois dos principais líderes da oposição.
A oposição adiou entretanto para esta quinta-feira a grande manifestação contra a Assembleia Constituinte. O protesto deve coincidir com a tomada de posse dos deputados, grupo onde está incluída a mulher e o filho do próprio Presidente venezuelano.
Na Venezuela, foi adiada para quinta-feira a grande manifestação organizada pela oposição. O protesto deve coincidir com a tomada de posse da polémica Assembleia Constituinte, eleita no domingo.
Desde abril, os confrontos na Venezuela já provocaram pelo menos 120 mortos.
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