Empresa de contagem de votos denuncia manipulação eleitoral na Venezuela

por Christopher Marques - RTP
Reuters

A Smartmatic, a empresa responsável pelo sistema de votos da Venezuela, denunciou esta quarta-feira que os números da votação foram manipulados. O líder da empresa diz que não há qualquer dúvida que tenha havido manipulação, falando numa diferença de pelo menos um milhão de votos.

“Sabemos, sem dúvida alguma, que os números de participação nesta recente eleição para uma Assembleia Nacional Constituinte foram manipulados”, afirmou o empresário Antonio Mugica.

O presidente executivo da Smartmatic acrescentou que a empresa estima que “a diferença entre a participação real e a participação anunciada pelas autoridades seja de pelo menos um milhão de votos”.

A informação prestada pela Smartmatic surge depois de a Reuters ter avançado que, uma hora e meia antes do fecho das urnas, tinham votado apenas 3,7 milhões de pessoas. No fim da votação, o Governo garantiu que oito milhões participaram na eleição.

Os dados da Reuters baseiam-se na informação da própria comissão eleitoral. Os números indicam que 3.720.465 pessoas votaram até às 17h30 nos 14.515 locais de voto. As autoridades decidiram depois fechar a votação às 19h00, tendo depois anunciado que 8,1 milhões de pessoas votaram. Ou seja, mais de quatro milhões de pessoas teriam votado na última hora e meia.

“Apesar de ser possível uma forte ida às urnas no fim do dia e de o Partido Socialista já o ter tentado fazer no passado, duplicar os votos na última hora e meia seria sem precedentes”, analisou para a agência noticiosa Jennifer McCoy, politóloga que já fez missões de observação em várias eleições venezuelanas.

A eleição para a Assembleia Nacional Constituinte foi anunciada em maio de 2017 por Nicolás Maduro, gerando críticas da comunidade internacional e da oposição. A oposição decidiu mesmo não participar na eleição.

Uma pouco expressiva participação na eleição para a Constituinte apresentar-se-ia como uma derrota para Nicolás Maduro. Afinal, no dia de 16 de julho, a oposição organizou uma consulta simbólica contra o Governo de Nicolás Maduro que recolheu mais de 7,5 milhões de votos.
120 mortos
A votação para a Assembleia Constituinte é vista pela oposição como uma forma de Maduro acabar com o poder do Parlamento, onde a oposição tem maioria.

O regime de Caracas alega que a Constituinte deverá promover uma nova Constituição para recuperar a economia, estabilizar politicamente o país, dar segurança ao povo, promover a paz e reconstruir a igualdade, e fortalecer a defesa nacional perante "ataques imperialistas".

A oposição venezuelana acusa Maduro de pretender usar a reforma para instaurar no país um regime cubano e perseguir, deter e calar as vozes dissidentes. Depois da votação de domingo, Caracas já colocou em prisões militares dois dos principais líderes da oposição.

A oposição adiou entretanto para esta quinta-feira a grande manifestação contra a Assembleia Constituinte. O protesto deve coincidir com a tomada de posse dos deputados, grupo onde está incluída a mulher e o filho do próprio Presidente venezuelano.

Na Venezuela, foi adiada para quinta-feira a grande manifestação organizada pela oposição. O protesto deve coincidir com a tomada de posse da polémica Assembleia Constituinte, eleita no domingo.

Desde abril, os confrontos na Venezuela já provocaram pelo menos 120 mortos. 
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